sexta-feira, 31 de maio de 2019

Aliado de Doria, ex-ministro assume hoje PSDB

Velha guarda do partido tentou encontrar um nome alternativo a Bruno Araújo, mas não conseguiu. Ascensão do governador de São Paulo não é uma questão pacificada internamente; FH não participará da convenção

Silvia Amorim / O Globo

SÃO PAULO - O resultado da eleição para governador de São Paulo havia acabado de ser anunciado quando o vitorioso, João Doria, colocou seus aliados mais próximos em uma van e seguiu para a festa de comemoração. Um deles, entretanto, destoava dos demais. Era o deputado federal e ex-ministro das Cidades Bruno Araújo (PE), único integrante do PSDB de fora de São Paulo no veículo. Não havia nem dois anos que o governador eleito e Araújo se conheciam.

Sete meses se passaram desde a carona na van de Doria e, hoje, Araújo, novamente sob condução do paulista, será aclamado presidente do PSDB. Não é segredo no partido que se trata de uma conquista compartilhada e que, ao lado do ex-deputado, estará na direção da sigla nos próximos dois anos o governador de São Paulo.

Circunstâncias políticas aproximaram Doria e Araújo. As primeiras conversas aconteceram em 2017, quando Doria era prefeito de São Paulo e o pernambucano era ministro do governo Michel Temer.

Foram diversas reuniões para negociar projetos e parcerias em uma época em que Doria alimentava o projeto de ser candidato à Presidência da República nas eleições do ano passado. Com bom relacionamento com Temer, Doria via o Ministério das Cidades como uma fonte importante de recursos para sua gestão na prefeitura.

Mais adiante, Doria e Araújo se viram juntos em uma batalha partidária. Era meados de 2017 e o partido incendiava com o debate sobre ficar ou deixar o governo Temer. Doria e Araújo estavam na mesma trincheira, defendendo a permanência dos ministros do PSDB nos cargos. A relação se estreitou ainda mais.

ESCOLHA PRAGMÁTICA
Na campanha de 2018, mesmo candidato ao Senado por Pernambuco, o ex-deputado apareceu algumas vezes no palanque de Doria.

Nos últimos três meses, já na tarefa da se viabilizar para a presidência do PSDB, Araújo percorreu o país para tentar convencer velha e nova guarda tucanas da necessidade de uma transição de poder na legenda o menos desgastante possível.

Aliados contam que a escolha de Doria pelo ex-ministro foi pragmática.

— Ele tinha o perfil que o João procurava para o seu discurso do novo PSDB: juventude, cara nova na política e experiência — resumiu um aliado de primeira hora do governador.
Esses mesmos aliados dizem que Araújo assume agora o cargo com uma dívida de gratidão com Doria.

— Se não fosse presidente do PSDB, o Bruno estaria na Nasa ou em algum lugar do espaço, sem cargo e sem mandato — comentou um dos primeiros tucanos a sugerir o nome do pernambucano para o governador.

TRAIÇÕES
Doria depende de uma condução bem-sucedida do partido para chegar como candidato viável em 2022. Nesse projeto, a maior tarefa de Araújo será convencer os eleitores, já na disputa municipal do ano que vem, de que o PSDB realmente mudou.

Pessoas próximas do governador paulista dizem que Doria —ele mesmo acusado por alguns de traidor por ter apoiado Jair Bolsonaro, e não o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, nas últimas eleições presidenciais—, não teme uma virada de mesa de Araújo após a eleição.

Nesta semana, o ex-deputadose opô sael e em uma entrevista ao jornal“O Estado de S.Paulo” ao dizer que “mudança de nome não é solução” para os problemas do partido. O governado ré o maior entusiasta deu matroca de nome da sigla. Segundo aliados, Doria não gostou do que leu, mas não reagiu. No entorno do governador é recorrente a avaliação de que a expectativa de poder que envolve o nome de Doria hoje é suficiente para inibir traições.

Tucanos mais distantes da construção da nova direção acreditam que Araújo terá que manter uma dose de independência, se não quiser que uma insurreição de lideranças tradicionais marque o início de sua gestão. A ascensão de Doriano PSD B ainda não é uma questão pacificada internamente. A velha guarda tentou encontrar um nome alternativo a Araújo, mas não conseguiu.

Maior representante dessa ala, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não participará da convenção em Brasília. Ele avisou já ter um compromisso. FH gravou um vídeo para o ato.

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