quarta-feira, 8 de maio de 2019

Vera Magalhães: Todos à mercê

- O Estado de S.Paulo

O clima em Brasília é péssimo. Os ataques desferidos pelo guru Olavo de Carvalho aos militares em geral, e ao general Eduardo Villas Bôas, em particular, disseminaram na Esplanada dos Ministérios a sensação generalizada de que nenhum auxiliar, nem o amigo mais próximo, conta com o aval do presidente Jair Bolsonaro, e que todos, indiscriminadamente, estão à mercê da máquina de moer reputações do bolsonarismo.

Ouvi de um ministro que existe um grupo de radicais encastelado no governo que acha que o Brasil votou em Bolsonaro por “pura ideologia”, o que não corresponderia à verdade.

Entre civis e militares prepondera a avaliação segundo a qual Olavo não manteria as comportas de impropérios abertas sem a anuência velada ou explícita do presidente. O comportamento ambíguo de Bolsonaro, pedindo trégua ao mesmo tempo em que condecora e elogia alguém capaz de atacar um amigo próximo como Villas Bôas, leva indignação ao time do governo.

No Congresso, reina a incredulidade. Mesmo deputados e senadores de oposição têm dificuldade de compreender como o governo cria para si tamanhas dificuldades políticas num momento de estrangulamento orçamentário pela questão fiscal e estagnação da economia real, que cobram seu preço na forma da impopularidade presidencial.

Enquanto o governo ateia fogo às próprias vestes, suas ações em pastas importantes como Educação e Meio Ambiente fomentam protestos nas ruas e nos fóruns internacionais, com mais potencial de estrago para a imagem de Bolsonaro.

PSDB
Debandada ameaça partido, que discute fusão com DEM

Antonio Anastasia (MG) não é o único nome de peso a cogitar deixar o PSDB. Ainda no Senado, Tasso Jereissati (CE), outro peso-pesado, também avalia o caminho de saída. Na raiz da insatisfação estão, de um lado, a permanência de figuras como Aécio Neves, que promete lutar contra as tentativas de forçá-lo a se afastar ou de expulsá-lo, e divergências quanto aos rumos que João Doria Jr. quer imprimir ao partido, deslocando-o para a centro-direita. Quem se movimenta para atrair os descontentes é Gilberto Kassab, que tenta blindar seu PSD contra a fusão PSDB-DEM.

MINISTÉRIO PÚBLICO
Sucessão de Dodge pode ser teste para Bolsonaro no Senado

Muito se fala, inclusive no governo, que Jair Bolsonaro pode indicar um procurador-geral da República que não seja subprocurador (posto máximo da hierarquia do Ministério Público Federal) nem indicado pela lista tríplice dos procuradores. De fato, nem uma coisa nem outra está prevista na Constituição. Porém, há dúvida no interior do Ministério Público Federal, no Legislativo e no próprio governo sobre se a escolha de um nome ligado à ala mais ideológica do bolsonarismo teria condições de ser aprovado no Senado. Um olavista, ainda mais nesse momento em que o guru da Virgínia empreende uma guerra aos militares, teria grande chance de ser derrubado em votação. Daí porque se aposta que Bolsonaro pode escolher alguém identificado como de centro-direita, mas não militante. Nessa linha, cresce o nome de Bonifácio Andrada, subprocurador conservador e católico, mas respeitado pelos pares pelo perfil técnico, discreto e firme em matéria penal.

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