sexta-feira, 28 de junho de 2019

Merval Pereira: O Rio em disputa

- O Globo

Sem mudar de posição política, Freixo parece querer ampliar seu eleitorado, atingindo um público que preferiu Crivella

Apesar da trégua entre o governador Wilson Witzel e o prefeito Marcelo Crivella, é difícil que os dois marchem juntos na campanha para a prefeitura em 2020. O desejo do prefeito de se reeleger esbarra na vontade do governador de lançar candidato próprio.

Além do mais, o prefeito, com a administração da cidade sendo criticada pela maioria da população, pode ter um concorrente, que está sendo incentivado justamente porque Crivella parece ter poucas chances de ser reeleger.

Trata-se do deputado federal Otoni de Paula, do PSC, mesmo partido do governador Wilson Witzel, e que já está em campanha. Ele é pastor evangélico e está em seu primeiro mandato federal. Anteriormente, era vereador no Rio.

A grande incógnita é o ex-prefeito Eduardo Paes, derrotado por Witzel para o governo do Rio. Ele aparece bem cotado nas pesquisas, mas, além da derrota em si, tem dificuldades para voltar à política devido à pressão da família e ao emprego de executivo de uma empresa chinesa de carros elétricos, BYD Motors, responsável pela sua atuação na América Latina.

Ele já havia se afastado do cargo para disputar o governo do Rio, e retornou depois da eleição. Não se sabe se teria condições de sair novamente. O problema todo é que enquanto a centro direita tende a se dividir, como aconteceu na última eleição para prefeito, a esquerda do Rio está se unindo em torno do deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, considerado o favorito na disputa.

Ele chegou ao segundo turno na disputa contra Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio, e foi o segundo deputado federal mais votado no Rio nas últimas eleições. Sua atividade parlamentar em Brasília difere muito da do deputado estadual, considerado radical por parte considerável do eleitorado do Rio.

Marcelo Freixo recentemente defendeu o presidente Bolsonaro no caso dos 39 quilos de cocaína encontrados em avião da comitiva presidencial, afirmando que seria leviandade ligar o presidente ao fato.

Sem mudar de posição política, Freixo parece querer ampliar seu eleitorado no Rio, atingindo um público que preferiu votar em Crivella a vê-lo prefeito do Rio. Aconteceu com ele o mesmo fenômeno que atingiu o PT na campanha presidencial.

Crivella venceu por 60% a 40%, a mesma porcentagem com que Bolsonaro derrotou Haddad dois anos depois. Uma eventual vitória de Freixo no Rio dará ao PSOL um trampolim nacional que pode transformá-lo no partido que o PT foi no seu início.

O PSOL, embora tenha movimentos recentes de se reaproximar do PT, nasceu de uma dissidência petista diante da revelação do escândalo do mensalão. A próxima eleição para prefeito do Rio será uma grande oportunidade para o PSOL tentar se aproximar de uma classe média revoltada com a gestão de Crivella.

Assim como Lula, depois da terceira derrota seguida para presidente da República, reinventou-se no Lulinha Paz e Amor, também Freixo pode se reinventar para ampliar o eleitorado do PSOL no Rio. O temor de seus adversários, especialmente os do centro dividido, é que o PSOL resolva fazer sua Carta aos Cariocas, aproveitando a necessidade de segurança na cidade.

Freixo tem em seu histórico o combate às milícias, e teria que deixar claro que não se trata de um programa de esquerda, mas de uma necessidade premente. Para isso, precisaria montar um programa de governo que desse aos cidadãos uma expectativa de segurança que não seja, simplesmente, armar a população.

Como tanto o governador Witzel quanto o prefeito Crivella têm gestões públicas medíocres até o momento, Freixo tem chance de se colocar como a alternativa viável de centro esquerda.

A centro direita só tem Eduardo Paes como candidato com potencial de votos, embora continue marcado por seu passado ligado ao PMDB de Sérgio Cabral. Nada foi encontrado contra ele até o momento, mas a disputa eleitoral atrai os holofotes.

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