segunda-feira, 10 de junho de 2019

Moro colaborou com MPF para ajudar Lava-Jato, diz site

Por Mariana Muniz | Valor Econômico

BRASÍLIA - O site "The Intercept" publicou ontem uma série de informações, baseadas supostamente em mensagens trocadas entre integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, sugerindo que o então juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, participou de articulações com o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná. O objetivo seria colaborar para o sucesso da operação.

O site informou ter recebido "lote de arquivos secretos" de uma "fonte anônima" há algumas semanas. O acervo inclui, além das conversas entre Moro e Dallagnol, mensagens privadas e de grupos da força-tarefa da Lava-Jato no aplicativo Telegram. De acordo com o site, os diálogos revelam que Moro teria sugerido a Dallagnol trocar a ordem de fases da Lava-Jato. Ele teria cobrado, ainda segundo site, a realização de novas operações, dado conselhos e antecipado uma decisão.

A troca de mensagens entre membros da força-tarefa fazem referências ao processo que culminou na condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a matéria, Moro teria passado informalmente pista sobre o caso do ex-presidente Lula para que a equipe do MP investigasse. A reportagem também sugere que os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato teriam atuado para impedir a entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à "Folha de S. Paulo" antes das eleições.

Em nota, a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba disse que seus membros foram vítimas de "ação criminosa de um hacker" que praticou os "mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes".

A nota não desmente o conteúdo das mensagens e confirma que os celulares e os aplicativos de mensagens de vários procuradores foram invadidos por um hacker. Na semana passada, a assessoria de imprensa de Moro informou que o aparelho do ministro foi alvo de um ataque cibernético. "Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho"', diz o texto da nota do MPF.


A nota diz ainda que os procuradores da Lava-Jato em Curitiba mantiveram, ao longo dos últimos cinco anos, discussões em grupos de mensagens, sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões pessoais. Por meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa, Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, confirmou o teor do que chamou de "supostas mensagens" e disse lamentar o anonimato da "pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores".

"Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato", argumentou.

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, considerou graves e "impensáveis" as revelações feitas pela reportagem. "O diálogo entre o Estado acusador e o Estado juiz tem que ocorrer no processo, com ampla publicidade", afirmou ao Valor. O ministro lembrou que o MPF, que faz as acusações, é "parte" e que "o juiz dialoga com a parte no processo, e não via internet, isso é impróprio e inadequado".

Lideranças dos partidos de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) repercutiram a reportagem criticando a atuação da Lava-Jato. O líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, disse que a reportagem comprova que a operação foi uma "grande armação".

"Tudo aquilo que denunciamos está cabalmente comprovado por 2 anos de conversas entre principais protagonistas do esquema: Moro e Dallagnol", escreveu o parlamentar no Twitter. O ex-deputado federal pelo Psol Jean Wyllys também foi às redes sociais criticar a atuação da Lava-Jato, e classificou o que foi revelado pela reportagem como "crime". "É isso. Já suspeitávamos. Mas ver as provas é chocante demais. Esse crime não pode ficar impune", escreveu.

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