segunda-feira, 24 de junho de 2019

Rosiska Darcy de Oliveira: Contra o ódio

- O Globo

Onda conservadora foi barrada pelo inesperado avanço dos Verdes

Que pena que o Brasil tenha entrado na máquina do tempo e caído na Idade Média. Azar nosso ou nossa culpa. O mundo não acaba em Brasília. Há vida inteligente no planeta.

A onda conservadora que se espalha pelo mundo foi barrada pelo inesperado avanço dos Verdes nas eleições para o Parlamento Europeu. O que já se anunciava na revolta dos jovens que mundo afora entraram em greve atendendo ao chamado de Greta Thunberg. Esses jovens que desprezavam os partidos e as eleições foram às urnas defender o Acordo de Paris e denunciar a inércia dos governos em enfrentar a mudança climática, aquela que, segundo Bolsonaro, não existe. Por aqui pouco se deu atenção a esse acontecimento, mergulhados que estamos em uma cultura do ódio mútuo e do insulto como argumento.

Há dias uma greve de mulheres paralisou e ao mesmo tempo pôs em movimento a Suíça, esse país onde supostamente não acontece nada mas que evolui sempre na direção do que é civilizado. Multidões desfilaram em grandes e pequenas cidades pedindo a concretização da igualdade. Nos jornais, as colunas assinadas por mulheres ficaram em branco. As parlamentares de todos os partidos, exceto da extrema direita, se levantaram de suas cadeiras e caíram na passeata. Meninos, eu vi!

O que esses movimentos têm a ver um com o outro? Tudo. Essas passeatas floridas, pacíficas, pedem uma mudança profunda de sociedade. Denominador comum, longe de partidos políticos e, sobretudo, longe da clivagem esquerda/direita, as sociedades europeias se movem em torno das questões ambientais e dos direitos das mulheres, temas que aqui são declarados malditos, como convém ao obscurantismo que se abate sobre nós.

No centro das causas contemporâneas está a preocupação com o cotidiano, a qualidade de vida que afeta a todos e as relações humanas que não são de direita ou de esquerda, são de respeito ou de violência.

Vale a pena pensar sobre isso em um país em que o feminicídio e o estupro são banais. Se houver espaço nos espíritos sobrecarregados pelo ódio.

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