sexta-feira, 12 de julho de 2019

Bernardo Mello Franco: Sorria, você está na Arábia Saudita

- O Globo

Jair Bolsonaro quer presentear o filho Eduardo com a embaixada do Brasil em Washington. Até aqui, só a monarquia saudita tratava o cargo como capitania hereditária

Alguns pais celebram os 15 anos da filha com uma viagem ao exterior. Outros festejam os 18 anos do filho com a chave de um automóvel. O presidente Jair
Bolsonaro resolveu ser mais generoso. Quer presentear Eduardo, o herdeiro que fez aniversário na quarta-feira, com a embaixada do Brasil em Washington.

A lei estabelece que os chefes de missão diplomática devem ser escolhidos entre os ministros de primeira classe, que chegaram ao topo da carreira no Itamaraty.

“Excepcionalmente”, diz o texto, podem ser indicados outros brasileiros com mais de 35 anos, “de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao país”.

Eduardo Bolsonaro acaba de atingir a idade mínima. Seu mérito mais reconhecido é ser filho de Jair.

O zero-três nunca concorreu a uma vaga no Instituto Rio Branco, que prepara os diplomatas brasileiros. Passou no concurso de escrivão de polícia, que requer menos dedicação aos estudos. Entre as atribuições do cargo, estão as tarefas de “cumprir formalidades processuais”, “lavrar termos” e “dirigir veículos policiais”.

Ontem o presidente declarou que o filho “daria conta do recado perfeitamente”. “Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês, fala espanhol. Tem vivência muito grande de mundo, né?”, justificou. O deputado concordou com o pai: “Se o presidente falou, tá falado”.

O Supremo ainda terá que decidir se a súmula contra o nepotismo permite que o zero-três vire embaixador. Se confirmada, a nomeação deixará o Brasil mais próximo de se transformar de vez numa república de bananas. Ou numa monarquia absoluta, onde cada filho do rei escolhe o cargo que deseja ocupar.

Nenhuma democracia séria trata o seu principal posto no exterior como capitania hereditária. Quem adota a prática em pleno século XXI é a Arábia Saudita, controlada a mão de ferro pela dinastia Al-Saud. Dos 11 embaixadores que o país já mandou para Washington, nove pertenciam à família real. Hoje a dona do cargo é a princesa Reema Al-Saud. Ela foi precedida pelos príncipes Khalid Al-Saud e Abdullah Al-Saud.

Se organizarem bem a fila, o zero-um e o zero dois ainda podem chegar lá.

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