quarta-feira, 24 de julho de 2019

Ricardo Noblat: Um presidente xiita

- Blog do Noblat / Veja

Depois dos nordestinos, Bolsonaro ofende os estrangeiros

Uma vez que por aqui se usa o termo xiita para designar um radical de direita e de esquerda, nada demais que Bolsonaro possa ser classificado de xiita. Por que não? Alguma dúvida?

Bolsonaro vê xiitas por toda parte. Em viagem a Vitória da Conquista, na Bahia, atacou os “xiitas ambientais” que, segundo ele, prejudicam o turismo no Brasil e a imagem do país no exterior.

E em mais um rasgo de sinceridade, sem que ninguém lhe tivesse provocado a respeito, declarou para espanto e preocupação dos que o acompanhavam: “Tenho repulsa por quem não é brasileiro”.

A história do Brasil não registra nada de parecido que tenha saído da boca de um presidente da República. Ou mesmo da boca de um líder político de dimensão apenas regional.

O mais nacionalista dos militares da ativa ou da reserva em tempo algum ousou ofender outros povos com a desfaçatez demonstrada por Bolsonaro. E logo por quem…

Jair Messias Bolsonaro, o presidente acidental do Brasil, descende de italianos por parte de pai (Perci Geraldo Bolsonaro) e de mãe (Olinda Boturi). Os primeiros Bolsonaros aqui chegaram em 1889.

O sobrenome (escrito com “z”) é comum na região do Vêneto. O sobrenome Boturi é comum no Vêneto e na região da Toscana. As duas famílias migraram em busca de melhores condições de vida.

A maior colônia de italianos do mundo vive no Brasil. Pelo menos 30 milhões de brasileiros descendem de italianos. Parte da colônia votou com orgulho em um dos seus para presidente.

Até ontem, Bolsonaro só devia explicações aos nordestinos, chamados por ele de “paraíbas”, uma expressão preconceituosa. Passou a dever a todos os povos.

A essa altura, quem mais do que Bolsonaro faz mal à imagem do Brasil lá fora?

É assim que se põe em risco o Estado de Direito

Polícia bate à porta de sindicato
Donde se conclui que práticas típicas de um Estado policial começam a ser adotadas por aqui, como se pôde ver, ontem, no Amazonas.

O presidente Jair Bolsonaro irá a Manaus amanhã. E professores haviam combinado de se encontrar no seu sindicato para preparar manifestações contra a visita.

A reunião estava marcada para as 17h. Meia hora antes irromperam na sede do sindicato três policiais rodoviários federais fardados e armados, um deles com uma metralhadora.

Queriam identificar os organizadores das manifestações. Diziam “cumprir ordem do Exército brasileiro”, contou ao site UOL a professora de história Yann Ivannovick.

Yan é também presidente da Frente Brasil Popular, no Amazonas, ligada ao PT. “Cheguei a pensar que eram do sindicato dos policiais e estavam ali para aderir ao movimento”, disse ela.

Ficaram por meia hora. Queriam saber tudo sobre as manifestações. “Foram cordiais”, admitiu Yan e confirmou outro diretor do sindicato, Gilberto Ferreira.

Os policiais ouviram de professores que aquela ação deles não era normal e que seria noticiada nas redes sociais. Os policiais riram. E foram embora tão logo concluíram o interrogatório.

“Não me recordo de ter visto qualquer coisa parecida desde que a Constituição passou a garantir o direito de reunião”, comentou Yuri Dantas Barroso, professor de Direito da Universidade do Amazonas.

A assessoria de comunicação do Comando Militar da Amazônia negou que tenha determinado a diligência no sindicato. A Polícia Rodoviária Federal não quis se manifestar sobre o assunto.

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