sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Alento econômico: Editorial / Folha de S. Paulo

Queda dos juros do BC contribui para um panorama menos hostil neste 2º semestre

Em decisão aguardada há pelo menos dois meses, o Banco Central reconheceu que a letargia econômica e a perspectiva de inflação abaixo das metas até 2020 permitiam retomar o ciclo de redução dos juros.

A opção por um corte de 0,5 ponto percentual, para 6% ao ano, interrompe um período de estabilidade de 16 meses e estabelece novo marco histórico para a taxa Selic —que em termos nominais nunca foi tão baixa desde a instituição de seu cálculo, em 1986.

O relativo atraso decorreu de temores compreensíveis quanto aos riscos de fracasso da reforma da Previdência, o que poderia levar à alta do dólar e ameaçar o controle da inflação obtido a duras penas.

Agora, o BC já indica, por meio de seu comunicado oficial, que uma nova redução é provável. A maior parte dos analistas projeta que a taxa caia a algo entre 5% e 5,5% nos próximos meses, patamar que pode ser mantido até o final de 2020.

Embora esteja longe de significar garantia de retomada robusta do consumo e do investimento, o alívio monetário constitui estímulo adicional do qual uma economia combalida não pode prescindir.

O contexto favorece a permanência de juros mais baixos. Resta, afinal, ampla ociosidade no mercado de trabalho e nas fábricas. Depois de um salto no início do ano em razão dos preços de alimentos, a inflação voltou a surpreender positivamente nos últimos meses.

Por fim, o ambiente global também se tornou mais alinhado à decisão do BC, na medida que os juros assumem tendência baixista nos principais países.

Assim procedeu na quarta-feira (31) o Fed, o banco central americano, com o corte de 0,25 ponto percentual que levou sua taxa ao intervalo de 2% a 2,5% ao ano. Movimento semelhante é esperado de seu congênere europeu.

Outros dados dão margem a algum alento. Segundo o IBGE, o ritmo de criação de empregos mostrou aceleração —no trimestre encerrado em junho, criaram-se 295 mil empregos com carteira assinada, a maior marca desde 2014.

Há ainda sinais modestos de alta na indústria de transformação, e até a construção civil pode começar a responder aos juros menores.

Certamente ainda é pouco. Faltam sinais mais consistentes, sobretudo, de recuperação dos investimentos privados, sem os quais não existe crescimento duradouro.

Mas o ineditismo dos juros baixos, em patamar e duração, deve ser celebrado no mínimo como um avanço rumo à normalização da economia nacional. O cenário se afigura menos hostil neste segundo semestre, e há tempo para fomentar um 2020 bem melhor.

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