terça-feira, 27 de agosto de 2019

Ricardo Noblat: Bolsonaro faz mal ao Brasil

- Blog do Noblat | Veja

A cadeira onde se senta é maior do que ele
Faz mal quando enfraquece deliberadamente os mecanismos de controle sobre o meio ambiente, suspende a demarcação de terras indígenas e ameaça liberar a mineração em áreas protegidas só para ser coerente com o que sempre defendeu e agradar aos seus devotos.

Faz mal e envergonha o país quando por suas posições atrasadas sobre a natureza é descrito pelo The New York Time, o jornal mais importante do mundo, como “o menor e o mais insignificante chefe de Estado”. Jornais da Europa preferiram chamá-lo de “câncer”.

Faz mal quando alinha sem condições os interesses nacionais aos interesses americanos, e rasteja para obter favores do presidente Donald Trump – entre eles, o de aprovar a indicação do seu filho para embaixador. Sequer se constrange em imitá-lo, embora sem sucesso.

Faz mal quando governa de preferência para os ricos, como se este não fosse um dos países de maior desigualdade e da mais perversa concentração de renda do planeta, onde mais de um terço da população simplesmente carece de qualquer tipo de amparo social.

Faz mal quando discrimina os governadores do Nordeste, a região que resiste aos seus encantos, chamando-os de “paraíbas” e ordenando a ministros para que não atendam às suas demandas, como se tivesse sido eleito só para servir bem e privilegiar a maioria que o elegeu.

Faz mal quando governa sob o signo do enfrentamento permanente com adversários e eventuais aliados, destratando-os sempre que enxerga nisso a chance de alimentar a fama de cavaleiro corajoso e solitário que segue em frente por cima de pau e de pedra.

Faz mal quando só recua em sua escalada retórica e agressiva ao dar-se em conta de que já foi longe demais e já produziu estragos em excesso. Mesmo assim está sempre pronto a retomá-la porque é da sua índole ser assim, e não parece disposto a mudar.

Faz mal quando põe a família – a sua, naturalmente – acima de tudo, inclusive do país, e só abaixo de Deus, aparelhando o Estado para beneficiá-la e tomando decisões para beneficiá-la em escandalosa afronta ao que determinam as leis.

Faz mal quando para defender um dos seus filhos, Flávio, o senador investigado por suspeita de corrupção e de desvio de dinheiro público, apoia uma decisão judicial equivocada que bloqueia o avanço do combate à corrupção com o qual na verdade não tem nenhum compromisso.

Faz mal quando por isso interfere na autonomia de organismos como a Receita Federal, Polícia Federal e outros, porque os considera antes de tudo organismos do governo e não do Estado, e, portanto, sujeitos à sua vontade e à vontade da sua família a quem devem proteger.

Faz mal quando mente à farta, espalha notícias falsas, ataca repetidamente a imprensa e tenta dificultar sua jornada com a esperança de domesticá-la em breve. Porque a liberdade de expressão para ele só é suportável se avalizar o que ele pensa e o que ele faz.

Faz mal quando agride fatos, como no caso dos números sobre a destruição da Amazônia, por exemplo, e se empenha em reduzi-los a uma mera questão de opinião. Como se fatos, com base em evidências e provas científicas, não fossem fatos porque ele não os reconhece.

Por fim, faz mal quando testa todos os limites da democracia com a intenção de alargar ao máximo possível os seus próprios poderes, a ponto de o presidente da Câmara dizer como disse na última sexta-feira que o país vive em um Estado “quase totalitário”.

É por ter feito tanto mal em tão pouco tempo que a avaliação do seu governo, e a dele pessoalmente, chama a atenção. Nunca na história deste país desde a redemocratização em 1985, um presidente da República desvalorizou-se com tamanha rapidez. Merece.

Uma pilha de nervos

O estado do presidente
O presidente Jair Bolsonaro está uma pilha de nervos. Está “elétrico”, na definição de um ministro com gabinete no Palácio do Planalto.

Nada a ver com a crise internacional desatada pelos incêndios e queimadas que se alastram pela Amazônia. Já estava assim antes.

Outro ministro, esse de fora do palácio, atribui o nervosismo de Bolsonaro aos efeitos dos remédios que toma, inclusive para dormir.

No pronunciamento diário que faz à saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro queixou-se, ontem, de um fato grave que estaria por ser revelado.

O fato, segundo ele, deverá alcançar uma pessoa que lhe é muto próxima. Para completar sua desdita, o filho Carlos não está bem de saúde.

O parlamentarismo é a solução

É o que pensa o general
Em palestra recente para um grupo de empresários em Florianópolis, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, fez uma defesa enfática do parlamentarismo como regime de governo.

Deixou boa impressão e foi muito aplaudido pela plateia.

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