sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Bernardo Mello Franco - Aparelhamento na Procuradoria

- O Globo

Augusto Aras fez de tudo para agradar Bolsonaro. Ele pode não confirmar todos os desejos do presidente, mas assumirá a PGR com a imagem de quem rastejou pela cadeira

Augusto Aras fez de tudo para agradar Jair Bolsonaro. Nos últimos meses, o subprocurador repetiu o discurso do presidente contra os direitos humanos, o ambientalismo e o fantasma da “ideologia de gênero”. Foi premiado com a indicação para comandar a Procuradoria-Geral da República.

Em campanha pelo cargo, Aras enfrentou a desconfiança de militantes bolsonaristas. Para convencê-los, radicalizou nas entrevistas. Chegou a defender a impunidade de fazendeiros que atiram em invasores de terra — uma temeridade num país com longa tradição de pistolagem e violência no campo.

O ministro Jorge Oliveira afirmou que o subprocurador foi escolhido porque “apresentou um programa que se alinha ao governo”. Se o indicado cumprir o que prometeu, teremos um procurador-geral submisso às vontades do Planalto.

Embora os procuradores tenham autonomia funcional, o chefe da carreira é quem decide sobre os processos contra autoridades com foro privilegiado. Isso significa que um PGR a serviço de Bolsonaro poderá blindá-lo no Supremo. Ele também deverá opinar no caso do primeiro-filho, suspeito de embolsar salários de assessores.

O presidente já havia interferido na Polícia Federal, na Receita e no antigo Coaf. Ao aparelhar o Ministério Público Federal, ele assume um controle inédito sobre os órgãos de investigação e controle. O ministro Sergio Moro, que apoiava outro candidato, engoliu a nova derrota em silêncio.

Em gestos e palavras, Aras se vendeu a Bolsonaro como a noiva dos sonhos. Ontem o presidente se disse satisfeito com a escolha. “Acho que estou fazendo um bom casamento”, festejou. O procurador pode não confirmar todos os seus desejos, mas assumirá com a imagem de quem rastejou pela cadeira.

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O carioca já tinha visto muitos políticos rasgarem dinheiro público. Ao sepultar o buraco do metrô na Gávea, que já custou R$ 940 milhões, o governador Wilson Witzel mostra que também é possível enterrá-lo.

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