terça-feira, 17 de setembro de 2019

Ranier Bragon – A dignidade do Senado tem preço?

- Folha de S. Paulo

Político faz papel de despachante de pleitos de colegas na gestão Bolsonaro

O jovem político Davi Alcolumbre (DEM), de 42 anos, carrega no currículo o feito de ter derrotado dois símbolos da propalada velha e carcomida política, o ex-presidente José Sarney (MDB), no Amapá, e Renan Calheiros (MDB), no Senado.

Presidente do Congresso desde fevereiro, resolveu agora ter recaídas à baixo clero, o contingente de congressistas com pouquíssima projeção nacional --ambiente que habitou de 2003 até derrotar Renan.

Reportagens relatam já há algum tempo que Alcolumbre trabalha nos bastidores para convencer colegas a aprovar a indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada brasileira em Washington. Os debates não seriam só sobre atributos ou a falta deles.

Vão-se os hambúrgueres e entram os carguinhos, as boquinhas, as emendinhas e todo e qualquer pleito que o interessado tenha ou possa vir a ter na administração federal.

O presidente do Senado se dispõe a encaminhá-los, a resolvê-los, em suma, a ser um despachante de luxo da velha e carcomida política. Oferece a reputação do Senado em troca do acesso a algumas tetas federais.

Nem parte expressiva do núcleo bolsonarista tem dúvida da total falta de vergonha na cara que representa a intenção de Bolsonaro de conceder ao filhão esse filé-mignon ao ponto --conforme o Datafolha, 70% da população reprova a atitude, incluindo quase 40% dos que avaliam como ótima ou boa a gestão federal.

Mas alguns senadores podem, de fato, estar se encantando com a ciência da fritura de hambúrgueres e, daí, pouco importa currículo, filhotismo, opinião pública, o que eu quero mesmo é o meu pedaço no x-tudo.

O Senado fará em breve duas análises capitais, caso Bolsonaro confirme o nome do filho à embaixada --a outra trata da indicação para a chefia do Ministério Público de Augusto Aras, vencedor do campeonato beija-mão rumo ao cargo. As votações serão precedidas por sabatinas. Tanto quanto os rumos da diplomacia e do Ministério Público, em jogo estará a dignidade do Senado e de 12 senadoras e 69 senadores.

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