sábado, 5 de outubro de 2019

Julianna Sofia - Fruto podre

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro agora anuncia que manterá no cargo o ministro denunciado

Na tarde de quinta (3), o ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) se reuniu a portas fechadas com o presidente Jair Bolsonaro. A agenda era pública, mas não há relatos sobre o que aconteceu no gabinete mais importante da República. Beira o insólito que não tenham tratado do indiciamento do mineiro pela Polícia Federal no escândalo das candidaturas-laranja do PSL --fato ocorrido dois dias antes do encontro e noticiado nesta sexta (4).

A investigação policial concluiu que o ministro comandou um esquema de desvio de dinheiro público por meio de candidaturas femininas de fachada nas eleições de 2018 em Minas Gerais. Para os investigadores, Álvaro Antônio "possuía o total domínio do fato, controle pleno da situação, com poder de decidir a continuidade ou interrupção do repasse de recursos do fundo partidário". Era e é o "dono do PSL" mineiro. O Ministério Público denunciou o político à Justiça Eleitoral.

Bolsonaro já havia estabelecido uma régua para demarcar o ponto em que tomaria uma decisão sobre a permanência, ou não, do peesselista na Esplanada dos Ministérios. Se a polícia constatasse o envolvimento do auxiliar no esquema, "podem ter certeza que uma decisão será tomada", assegurou o presidente.

Agora, ele anuncia que manterá no cargo o ministro denunciado e aguardará o desenrolar do processo. Bolsonaro vai elevando a barra para definir o momento de uma eventual demissão enquanto se acumulam evidências dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recursos e associação criminosa. Álvaro Antônio se diz alvo de uma campanha difamatória.

O presidente resiste em descartar o fruto que apodrece na cesta.

Um motivo: o inevitável paralelo do caso com a investigação sobre seu próprio filho, Flávio, parada no Ministério Público do Rio. Uma elucubração: o titular do Turismo pode ser um útil anteparo, evitando que algo avance diretamente, sem desvios, sobre o perímetro do Palácio do Planalto.

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