sábado, 26 de outubro de 2019

‘O que acontece no Chile tem de ser lição’, diz Huck

Apresentador, apontado como presidenciável, afirma que se o governo ‘não cuidar das pessoas’, o Brasil ‘vai implodir porque é muito desigual’

Ricardo Galhardo | O Estado de S. Paulo

Indagado sobre a possibilidade de ocorrerem no Brasil manifestações de rua semelhantes às que têm balançado o Chile nos últimos dias, o apresentador Luciano Huck, apontado como possível candidato à Presidência em 2022, disse que, se o Estado brasileiro não aliar políticas sociais eficientes às ações liberais, o País pode sofrer uma convulsão social em médio prazo.

“O Chile, quando você conversa com os liberais, até 15 dias atrás era o ‘state of art’ (estado de arte). Só que esqueceram das pessoas. Então virou exemplo de eficiência sem afetividade. O que está acontecendo no Chile tem que ser uma lição”, disse durante o 12.º Encontro de Líderes da Comunitas realizado ontem, em São Paulo. “É óbvio que a gente tem que tentar construir um País eficiente em termos de gestão, mas ele tem que ser afetivo. Se a gente não cuidar das pessoas, este País vai implodir porque ele é muito desigual”, disse Huck.

Diante de uma plateia composta por governadores e alguns dos mais importantes empresários do País, Huck disse que o Chile, até pouco tempo apontado como exemplo de eficiência fiscal e de sucesso do modelo liberal, deve servir de exemplo para o Brasil. “Não acho que vá eclodir alguma manifestação popular no curto prazo no Brasil, mas se a vida não melhorar para valer...”, disse.

‘Proteção social’. Crítico dos governos do PT, Huck admitiu que o governo Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu, com políticas sociais – algumas, segundo ele, iniciadas no governo Fernando Henrique Cardoso –, melhorar a vida das pessoas.

“Outro dia fui para Bom Jesus do Piauí. Lindo. Quando você vai para os vilarejos você entende, com todo o respeito, porque o Lula é muito respeitado ali. Obviamente muito da política que veio da dona Ruth (Cardoso), tem uma herança de dois governos que trabalharam de forma contínua em projetos de proteção social”, afirmou.

“Você chega na casa do seu João e tem um fio que veio de longe pra caramba. Uma geladeira que ele não tinha. Uma cisterna que custou R$ 3 mil e trouxe água que ele não tinha também. A família tem R$ 180 do Bolsa Família porque não tinha renda nenhuma. Bem ou mal é o Estado e a política pública que chega na ponta”, disse.

Huck, mais uma vez, se esquivou de responder se pretende ser candidato em 2022. Segundo ele, a discussão é prematura. Questionado sobre as candidaturas avulsas, disse ser contra. O apresentador, no entanto, afirmou que pretende continuar participando e opinando sobre os problemas nacionais.

Políticos. Governadores que também participaram do evento endossaram a avaliação de Huck. Perguntado se concordava com o risco de o Brasil ser alvo de turbulências semelhantes às do Chile, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), respondeu afirmativamente. Antes, durante sua intervenção, Caiado elogiou a política para a educação do governo do Ceará, governado pelo petista Camilo Santana.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), lembrou que o País já foi sacudido por manifestações em 2013. “Não há como dizer que o mercado vai resolver todos os problemas”, disse.

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