quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Rosângela Bittar - O pior ministro

- Valor Econômico

Weintraub é mais grosso, errático e vazio que Vélez

Contingenciamento é corte de orçamento. Descontingenciamento é reposição, total ou parcial, do corte feito. Administrar as verbas na boca do caixa é uma arte, mas não é plano de governo, projeto de país, medida ou ação, muito menos em áreas sensíveis ao conhecimento, à ciência. O ministro da Educação acertou quando chamou o corte o que aplicou a algumas universidades mas errou, quando advertido, ao tentar vincular não mais o corte, mas o contingenciamento, às universidades de cujo corpo discente desaprova a forma de viver. Esta semana o ministro errou de novo, uma constante em sua gestão, ao fazer um auê, como se fosse mérito seu, para anunciar parte da parte da reposição das verbas orçamentárias para universidades, e parte, da parte, da parte, das verbas de bolsas de pós-graduação da Capes. É de constrangimento o sentimento que preside as relações do dirigente do MEC com o resto do governo e com seu público particular.

Não por acaso, este é o pior ministro do governo Bolsonaro (Abraham) e o pior ministro da Educação dos últimos 40 anos (Weintraub).

O ministro só aparece criando conflitos. Volta e meia, quando sua situação está muito ruim, sai um pouco da cena de guerra para reaparecer, grandiloquente, anunciando números, pesquisas e acompanhamentos que os órgãos do MEC produzem historicamente. Nada é mérito seu. Por sinal, se há o que anunciar, deve aos seus antecessores.

A última do Weintraub tem sempre uma boa plateia, é diversão certa, para quem gosta do gênero. Mais folclórico que Ricardo Vélez, o preposto de Olavo de Carvalho na área de Educação, que o antecedeu e sucumbiu aos primeiros acordes do controle ideológico que pretendeu fazer da vida inteligente daquele mundo por ele governado. O atual ministro discursa e atua de forma mais contundente que o primeiro preposto olavista na Educação.
Weintraub não tem a metade da vivência de Velez nessa área, mas é mais duro, mais grosso, mais errático, mais vazio que ele. Ambos sofreram a falta de substância do governo, não foram por ele supridos pois entendido está que deveriam suprir Jair Bolsonaro.

Se alguém souber o que pretende Abraham Weintraub, deve contar para o presidente de forma que use a informação a seu favor. Jair Bolsonaro passa ao largo da Educação. Área do debate e do diálogo, a Educação, hoje, dá pena. Só tem perdas.

Quais os governos que o atual mais admira, cita e copia? Os militares. Pois a Educação encontrou campo fértil nas administrações de Esther de Figueiredo Ferraz, uma educadora respeitada, de Eduardo Portella, acadêmico e escritor, intelectual reconhecido, e Rubem Ludwig, um general educado, acostumado com as relações civilizadas, que levou para a Secretaria Executiva e para ajudá-lo em alguns escalões militares também traquejados nas atividades civis, como o coronel Sérgio Pasqualli.

Até os conflitos, inerentes a esta área, tinham nível. Certa vez, depois de ter a UNE (união nacional dos estudantes) gritando na porta do prédio do MEC, em greve já há alguns dias, o ministro Ludwig reagiu: “É a Carolina, o tempo passou na janela e só a UNE não viu”, disse resgatando o verso da música de Chico Buarque. O presidente da UNE, Aldo Rebelo, que depois seria deputado, presidente da Câmara, ministro de Ciência e Tecnologia, Esportes, Coordenação Política, Defesa, devolveu no mesmo tom, com verso de Noel Rosa: “Quem é você, general, que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz”!.

Da briga poética do regime militar este governo nada preservou. Hoje o ministro dos estudantes é tosco, agressivo, não diz a que veio e deixa sua personalidade se sobrepor, sem cabimento, a qualquer conteúdo da sua gestão.
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Todas as análises apontam para as mesmas cores no atual cenário político, a um ano das eleições municipais, que darão certamente um traçado sobre o quadro partidário e eleitoral do país. Jair Bolsonaro, apesar das pesquisas que ainda lhe são amplamente favoráveis, não tem situação futura confortável; Lula, apesar do apoio popular amplo, também não consegue se situar em patamares elevados. Na verdade, a adesão a um é constituida pelo refugo do outro, e vice-versa.

Há uma certa exaustão da polarização. O discurso bolsonarista ideológico cansou, como também vai impacientando o eleitorado o bolsonarismo econômico sem resultados, à espera do Congresso.

Do outro lado se descortina o PT e o seu eterno mote Lula Livre, sem um projeto político para o país, apenas um projeto de poder para o partido.

.Nenhum dos titulares da polarização atendem às expectativas.

Espontaneamente, então, verifica-se uma atenção redobrada a outras alternativas, uma terceira opinião, um quarto discurso, um quinto projeto. E essas alternativas estão em movimento. Sem qualquer formalidade, coordenação, definições objetivos.

O time desse jogo só aumenta: Davi Alcolumbre, Rodrigo Maia, Tião Viana, Aldo Rebelo, Paulo Hartung, Armínio Fraga, Luciano Huck, Ciro Gomes, Nelson Jobim, João Doria, Fernando Henrique, Tasso Jereissati,, políticos que se reunem, ora em Brasília, ora em torno de um seminário de Reforma Tributária em São Paulo, ou num encontro no Rio, para debater a situação. Eles conversam sobre o quadro político, a aversão crescente a Bolsonaro e Lula, nas questões que precisam estar em um projeto de Brasil a ser apresentado na campanha eleitoral de 2022.

Fora da discussão estão as funções a serem pleiteadas, as datas, as definições mais objetivas.

Às vezes são reuniões de três ou quatro com Alcolumbre, em outras um grupo maior encontra-se com Rodrigo Maia. O debate no grupo de Luciano Huck é um dos mais efetivos, Huck é visto como um movimento de maior fôlego. Reúne gente como Fernando Henrique, que não está diretamente engajado mas dá uma sinalização para os que o seguem sempre. Tem também Hartung, Armínio, Tasso, é conhecido, tem imagem boa tanto junto aos pobres como aos ricos. Existem outros bem arrumados nesse grupo.

O terceiro pensamento pode sair daí e estão trabalhando para que isso seja percebido pela sociedade. Sem partido no meio, por enquanto, e sem articulação formal que exija posições mais claras.

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