sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Eduardo sugere ‘novo AI-5’, é repreendido e se desculpa

Defesa de ditadura provoca críticas do Congresso e de Bolsonaro

Daniel Gullino e Gustavo Maia | O Globo

BRASÍLIA - Ao defender um “novo AI-5’’, com fechamento do regime como resposta a uma eventual “radicalização de esquerda”, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), líder do PSL, provocou uma onda de críticas e repreensões dos presidentes da Câmara e do Senado, de um ministro do STF, de líderes de 16 partidos, de entidades da sociedade civil e de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. No fim do dia, Eduardo se desculpou. Um grupo de seis partidos entrou com representação criminal contra ele no Supremo.

Uma declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) defendendo uma nova edição do AI-5 — o ato que marcou o início da fase mais dura do regime militar — como resposta a uma eventual “radicalização” da esquerda provocou forte reação no meio político ontem. Um ministro do Supremo Tribunal Federal, os presidentes da Câmara e do Senado, ao menos 16 partidos, redes sociais, entidades civis e até o pai de Eduardo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, criticaram as frases.

Mesmo depois de iniciada a reação, Eduardo ainda publicou um vídeo em suas redes sociais com o voto de Jair Bolsonaro na votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando o então deputado homenageou o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou torturas no regime militar. Só após a intensificação das reações, no fim do dia, o deputado recuou de sua declaração inicial e se desculpou com quem tenha se ofendido.

Ao canal na internet da jornalista Leda Nagle, Eduardo atribuiu a recente onda de manifestações em países da América do Sul a movimentações da esquerda.

Falando da possibilidade de ocorrerem protestosno Brasil, ele disseque uma resposta necessária poderia ser um novo AI-5. Editado em 13 de dezembro de 1968 pelo governo do general Costa e Silva, o Ato Institucional Número 5 foi a medida que abriu sinal para a repressão mais dura na ditadura militar.

—Vai chegar um momento em que a situação vai ser igualado final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam-se e sequestravam-se grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizara esse ponto, agente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo

AI-5, pode ser via legislação aprovada através de um plebiscito, como aconteceu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada, porque é uma guerra assimétrica. É um inimigo interno, de difícil identificação aqui no país. Espero que não chegue a esse ponto, mas... —afirmou.

Questionado sobre a frase do filho, o presidente Jair Bolsonaro disse que “está sonhando” quem defende um AI-5.

— Quem quer que seja que fale em AI-5 está sonhando. Está sonhando — afirmou, acrescentando que Eduardo é “independente”. — Ele tem 35 anos, é dono do seu nariz. Mas tudo bem. Se ele falou isso, lamento, lamento muito.

Não é a primeira vez que uma declaração de Eduardo resulta em retratação. Em 2018, disse que bastavam um cabo e um soldado para fechar o STF. Bolsonaro disse que, “se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”. Eduardo já defendeu um plebiscito para a pena de morte, proibida pela Constituição. O pai respondeu não fazia parte de sua campanha e que o assunto estava “encerrado”.

“MAL INTERPRETADO”
À TV Bandeirantes, o presidente disse que pediu para o filho se desculpar:

— Ele fala o que está acontecendo no Chile, que não pode acontecer no Brasil.

Ele fala que em um contexto, lá dos anos 1960, o Brasil viveu momentos difíceis.

E o AI-5 foi quase uma imposição. Agora, ele fala também que o AI-5 não existe.

Essa arma não existe e nem queremos. Não pretendemos falar em autoritarismo. Fomos eleitos democraticamente. Eu falei para ele até para que, se fosse caso, ele se desculpar.

No fim do dia, Eduardo Bolsonaro recuou:

— Peço desculpas a quem tenha entendido que defendo o retorno do AI-5 ou achando que o governo estaria estudando. Essa possibilidade não existe. Agora, muito disso é uma interpretação deturpada do que falei. A gente vive sob a Constituição, eu fui democraticamente eleito, não convém a mim a radicalização.

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