domingo, 10 de novembro de 2019

Governo quer evitar holofotes a petista; FH pede aliança do centro

Para se contrapor a Lula, Planalto deve priorizar pacote anticrime de Moro

Jussara Soares, Gustavo Maia e Silvia Amorim | O Globo

Anova conjuntura política e eleitoral que se anuncia com a soltura do ex-presidente Lula mobiliza opositores do petista. Ao afirmar que não vai dar espaço e nem contemporizar com Lula, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou ontem que vai evitar o confronto direto, para minimizar o espaço do ex-presidente no debate público. Por ora, o governo quer aproveitar a libertação de Lula para dar ênfase ao pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, que condenou o petista quando era juiz. No PSDB, o o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu uma aliança do centro “liberal, democrático e progressista”.

Na definição de um auxiliar, a estratégia do governo Bolsonaro de evitar o confronto “resolve o problema sem alarde”. Aos seus subordinados, Bolsonaro tem insistido para que não entrem no campo de batalha. No entendimento do presidente, a reação a Lula dá ao petista os holofotes que ele quer. Desde então, todos têm acatado a ordem e os posicionamentos têm sido tímidos, sem mencionar diretamente Lula. A exceção foi o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, que acusou o petista de “incitar a violência”.

PACOTE TURBINADO
Também não está descartado que o pacote seja turbinado com novas propostas para ganhar o apoio que precisa para ser aprovado no Congresso. Outro trunfo é aproveitar a imagem de Moro, alçado à popularidade por sua atuação ao julgar processos da Operação Lava-Jato, e reforçar junto à opinião pública o discurso de combate à impunidade. A expectativa é que a pressão popular derrube a resistência do Parlamento à proposta, que inclui uma mudança na lei para permitir a execução da pena após condenação em segunda instância.

Para aliados do governador de São Paulo, João Doria, que tem se colocado como representante de um movimento político alternativo à polarização entre Lula e Bolsonaro, a nova conjuntura tende a dificultar ainda mais o caminho para candidaturas de centro em 2022. Para esse núcleo, a saída de Lula aprofunda a polarização no país. — Com Lula na rua, o caminho do centro fica ainda mais espremido — disse um aliado do tucano.

Para Doria, uma pulverização de candidatos de centro se anuncia como um tiro no pé. O tucano construiu sua carreira política até agora com o discurso do antipetismo. Com um acirramento da polarização, perde espaço como o anti-Lula, lugar a ser ocupado por Bolsonaro. Na sexta-feira, não por acaso, o PSDB postou nas redes uma declaração de Fernando Henrique sobre o tema como um alerta: “Mais do que nunca se torna necessário uma aliança em torno de alguém que represente o que chamo de um centro liberal, democrático e progressista”.

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