domingo, 3 de novembro de 2019

Hélio Schwartsman - Os mensageiros

- Folha de S. Paulo

O cérebro recorre a truques para tomar decisões sem ter que pensar muito

Num mundo ideal, julgaríamos cada ideia com base apenas nos argumentos e dados que lhe dão sustentação. Mas não vivemos num mundo ideal. Somos ignorantes em diversas matérias e, mesmo que não fôssemos, não teríamos tempo nem disposição de fazer uma avaliação exaustiva de todas as teses a que somos submetidos diariamente.

Diante disso, o cérebro recorre a heurísticas, que são basicamente truques para tomar decisões sem ter que pensar muito. Um dos mais frequentes é julgar a ideia não por seus méritos, mas pelos de quem a apresenta, o mensageiro.

O livro “Messengers”, de Stephen Martin e Joseph Marks, investiga nossa relação complicada com os mensageiros. Na primeira parte, os autores dissecam os mensageiros “hard”, isto é, aqueles que chamam nossa atenção em virtude de seu status.

Frequentemente, essa é uma boa estratégia. Se você quer conselhos na área da saúde, faz sentido ouvir um médico. Se precisa de informações em finanças, procure um economista ou banqueiro. O problema é que nossos cérebros não se limitam a atribuir status aos especialistas. Eles também se deixam levar por características como fama, riqueza, poder e beleza, que podem atuar de forma espúria para nos convencer de alguma ideia.

Na segunda parte, são avaliados os mensageiros “soft”, que são os que ouvimos não porque ocupem posição de superioridade, mas pelo grau de proximidade que conseguem estabelecer conosco. Muitas vezes aceitamos conselhos de amigos ou parentes mesmo sabendo que eles não são especialistas na questão que nos aflige. Aqui, os autores analisam características como afetuosidade, vulnerabilidade, confiabilidade e carisma.

“Messengers” não traz nenhuma grande novidade, mas traça um bom panorama do problema. Eu gostei do fato de os autores rechearem a obra com toneladas de pesquisas psicológicas cujos resultados são ao mesmo tempo reveladores e desconcertantes.

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