quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Bernardo Mello Franco - O bispo e o capitão

- O Globo

De olho em 2020, Crivella faz de tudo para cortejar Bolsonaro. Com o Rio em frangalhos, o prefeito tentará deslocar o debate eleitoral para o campo dos costumes

Na noite de domingo, Marcelo Crivella divulgou um vídeo com ataques ao GLOBO. O prefeito sabia da reportagem que seria publicada na edição de segunda-feira. Ao bater no mensageiro, tentou desviar o foco da mensagem: ele agora é alvo de uma investigação sobre cobrança de propina no município.

Crivella nunca conviveu bem com a imprensa que fiscaliza. Prefere a imprensa que adula, liderada pela emissora do tio. Em sua nova cruzada contra o jornalismo profissional, o prefeito imita a prática e o discurso de Jair Bolsonaro. Além de se esquivar do escândalo, busca estreitar laços com o presidente.

O bispo tem feito de tudo para cortejar o capitão. Em novembro, ele ofereceu apoio para registrar o novo partido de Bolsonaro. Prometeu engajar a máquina da Universal na coleta das assinaturas exigidas pelo TSE. Em outra frente, Crivella anunciou a abertura de duas escolas cívico-militares no Rio. Irritou os professores da rede municipal, mas conseguiu se associar a uma vitrine do bolsonarismo.

O movimento do prefeito é calculado. Com a cidade em frangalhos, ele tentará deslocar o debate eleitoral para o campo dos costumes. O presidente explorou a tática com sucesso em 2018.

Crivella indicou o caminho em setembro, quando enviou fiscais à Bienal do Livro para censurar um gibi. Foi criticado pela truculência, mas marcou pontos com o eleitorado mais conservador.

Agora seu desafio é conquistar o apoio formal do presidente. Dois fatores externos conspiram a favor da aliança. Bolsonaro rompeu com o governador Wilson Witzel, e seu novo partido não deve ser registrado a tempo de lançar candidatos em 2020.
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Na segunda-feira, o ministro Luiz Eduardo Ramos cometeu uma indiscrição. Disse que aconselhou Bolsonaro a escalar Sergio Moro como vice em sua chapa à reeleição. Ontem o ex-juiz disse que Hamilton Mourão seria uma “escolha melhor”.

Será que o general acreditou?

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