quarta-feira, 8 de maio de 2019

Rosângela Bittar: Os sabotadores

- Valor Econômico

O desgoverno é o caldeirão fervente e suas engrenagens

Neste circo em que se transformou o governo Bolsonaro (com pedido de perdão aos circos, ícones da infância mas aqui referidos como símbolos da fuzarca), onde têm espaço nobre o globo da morte, o engolidor de fogo, vamos reservar em banho-maria, por alguns momentos, Olavo, Carlos, Eduardo, Ernesto, Vélez, Weintraub e tantos outros personagens que invadiram a política brasileira e os escalões do serviço público, de armas e bagagem. Especialmente de armas, insultos, prepotência e outros ruídos nos quatro primeiros meses do ano.

É o presidente da República Jair Bolsonaro, e não eles, o principal responsável por tudo o que se passa: a disputa violenta de poder do grupo tuiteiro que liderou sua campanha; a paralisia da administração pública; a dissintonia com o Congresso; as crises pré-fabricadas uma após outra, com os mesmos ingredientes; a falta de comando.

Portanto, Bolsonaro não é vítima desse esquema de sabotagem ao governo formulado por Olavo de Carvalho e executado pelos filhos do presidente. É coautor. É agente ativo e, com sua frouxidão, participa do processo de humilhação impingido aos militares e ministros do núcleo de poder presidencial, atacados pelos que estão sob a proteção da distância virtual.

E por que os generais convidados por Bolsonaro a integrar o governo se submetem a isso? Aí estaria uma boa resposta para elucidar muito do que pensa o grupo sobre sua missão neste governo.

Na verdade, já havia notícias: os militares estavam cheios, pelo pescoço, elocubrando sobre rumo coletivo, mas os ataques que sofreram no último mês foram tão violentos e gratuitos, e o presidente ficou tão inerte, que até fortaleceram seus laços corporativos.

Até o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, considerado o conselheiro mais onipresente e próximo do presidente da República, já parecia entediado com a falta de impulso do governo e com a falta de pulso do presidente para lidar com as crises pré-fabricadas por Olavo Carvalho e Carlos Bolsonaro. A expectativa até a semana passada, quando o general foi fotografado de olhos fechados em duas solenidades, era que a perda de interesse tinha chegado ao seu ponto máximo, o enfado.

Cristiano Romero: Disputas intestinas de poder marcam governo

- Valor Econômico

Gestão Bolsonaro é caracterizada por contradições

Em Brasília, vistos de perto muitos fatos têm significado distinto ao que sugere o senso comum. Narrativas lineares costumam ser desmoralizadas pelas artimanhas dos atores políticos. Numa democracia, e a brasileira é uma das maiores do planeta, tem enorme vantagem na corrida quem sabe o que está acontecendo e quem, por ser bem informado e conhecer o perfil dos corredores, consegue antecipar com alguma acuidade os resultados.

Na capital federal de um Estado democrático, presume-se que o presidente seja o sujeito mais bem informado. A maioria das informações lhe chega por meio de fontes primárias - banqueiros, grandes empresários, caciques políticos, ministros relevantes (da Economia, da área militar, da Justiça, que controla a Polícia Federal), serviços de inteligência, chefes de Estado de outros países. Presidente desinformado é presidente fraco.

Não é à toa que, na outra face de democracias de massa como a americana e a brasileira - a economia de mercado -, deter informações que só chegam aos concorrentes mais tarde dá a alguns competidores vantagem extraordinária. Nesse caso, informações do mundo político são tão importantes quanto as do negócio propriamente dito. Empresário que não sabe bem o que acontece no centro do poder, especialmente numa democracia jovem como a da Ilha de Vera Cruz, onde a instabilidade é irritantemente periódica, é sério candidato a fracassar.

Gaste um tempinho para observar as personalidades de seu tempo. Feche os olhos e pense nos protagonistas. Sim, sua diligência vai lhe sugerir os personagens dominantes, se você for um observador da cena nacional. Pergunte, por exemplo, a Delfim Netto e a Armínio Fraga a que horas eles concluem a leitura dos principais jornais do país.

Em Brasília, sede de uma democracia representativa, observam-se atentamente os movimentos de dois tipos de político: os que detêm poder real, como o presidente da República, o ministro da Economia e os presidente da Câmara e do Supremo Tribunal Federal; e aqueles que têm expectativa de poder, caso, por exemplo, de quem governa o Estado de São Paulo, dono do segundo orçamento público do país e cuja economia responde sozinha por 33% de tudo o que este imenso país produz.

Hélio Schwartsman: Por que Carvalho xinga tanto?

- Folha de S. Paulo

Guru da família Bolsonaro não está só, palavrões são um universal humano

Se há uma marca no pensamento de Olavo de Carvalho, são os palavrões —e não sei se há muita coisa mais. Na última série de críticas que lançou contra os militares que estão no governo, o ideólogo radicado na Virgínia (EUA) aludiu à parte final do tubo digestivo de um general e se referiu a outro pelo nome mais vulgar da matéria fecal. Por que Carvalho xinga tanto?

Nisso o guru da família Bolsonaro não está só. Palavrões são um universal humano. Não há idioma que não conte com um arsenal de palavras-tabu, quase sempre recrutadas da mesma meia dúzia de campos semânticos: sexo (foda, caralho), excrementos (merda, porra), religião (diacho), doenças e morte (lazarento, cretino) e minorias desfavorecidas (bicha, puta).

Como ensina Steven Pinker em “Do Que É Feito o Pensamento”, o que distingue palavrões dos termos mais ordinários da linguagem é a carga emocional que os primeiros encerram. Basta que apareçam numa fala ou mesmo por escrito para que sequestrem nossa atenção. Psicólogos desenvolveram até métodos (uma adaptação do teste Stroop) para medir quanto.

Bruno Boghossian: Guerra perdida

- Folha de S. Paulo

Auxiliar diz que presidente sempre escolherá o lado dos filhos contra generais

Jair Bolsonaro escolheu seu uniforme na guerra travada entre militarese o núcleo ideológico do governo. Embora tenha declarado que o conflito era uma “página virada”, o presidente deixou o caminho aberto para as pirraças e ofensas disparadas pelo escritor Olavo de Carvalho contra seus próprios auxiliares.

“O Olavo é dono do seu nariz”, disse Bolsonaro nesta terça (7), depois de ter elogiado o ideólogo num longo tuíte pela manhã. “Eu recebo críticas muito graves todo dia e não reclamo. Eu engulo sapo pela fosseta lacrimal e estou quieto aqui, ok?”

O presidente não move um dedo para defender o ministro que foi chamado de “bosta engomada”, o vice que foi qualificado como “cara idiota” e o ex-comandante do Exército a quem o ex-astrólogo se referiu como “um doente preso a uma cadeira de rodas”. Em vez disso, Bolsonaro sugere que todos eles fiquem quietos.

Os últimos comentários do presidente consagram de vez o olavismo como doutrina principal do governo. Bolsonaro parece interessado em fermentar a plataforma radical e populista que rendeu uma onda de votos na campanha, enquanto relega a moderação e os projetos dos generais ao status de linha auxiliar.

Um assessor do presidente diz que, nessa batalha, quem colocar suas fichas nos militares vai perder a aposta. Embora eles continuem com espaço no governo, Bolsonaro sempre escolherá, no fim das contas, o lado em que estiverem seus filhos —chefes do fã-clube de Olavo.

Ruy Castro*: Xixi na cama etc.

- Folha de S. Paulo

Um governo com fixações fálicas e anais

Há uma regra não escrita segundo a qual não se imaginam pessoas de certa representatividade —monges budistas, papas, missionários, almirantes, juízes, diplomatas— rebaixando-se a funções tão íntimas, como usar fio dental, aplicar desodorante, coçar-se, soltar pum ou mesmo fazer xixi. Eu não disse que não fazem isto —disse apenas que não nos compete imaginá-las fazendo. Aliás, o grau de santidade ou de autoridade de que têm de se despir para executar essas funções é de tal ordem que nem elas devem acreditar que, às vezes, precisam desempenhá-las. Para não falar na quantidade de roupas que têm de tirar —vide os repolhudos ministros do STF.

Em tese, os presidentes da República também deveriam fazer parte dessa linhagem de entes quase incorpóreos. E alguns devem ter feito. Quero crer, por exemplo, que Rodrigues Alves (1902-1906) e Affonso Penna (1906-1909) nunca tiraram ouro do nariz e o grudaram debaixo da cadeira. Quanto aos demais, não juro por ninguém —os caricaturistas, inclusive, não perdoavam suas idiossincrasias.

Igor Gielow: Fardados caem na armadilha que montaram

- Folha de S. Paulo

Restou a oficiais da ativa demonstrarem desconforto com a presença no governo que abraçaram

O imbróglio envolvendo os militares e a ala ideológica do governo Jair Bolsonaro retrata à perfeição a armadilha na qual as Forças Armadas caíram ao associarem-se ao capitão reformado.

Mesmo sem fazer campanha aberta ou sustentar a campanha, como a esquerda diz ter ocorrido, as Forças Armadas se viram irrefutavelmente ligadas ao então polêmico presidenciável.

Menos pela origem militar de Bolsonaro, que deixou o Exército com fama de indisciplinado, e mais pela crescente aproximação entre ele e os fardados de 2017 em frente.

Naquele ano, generais e outros oficiais da reserva, comandos por Augusto Heleno, abraçaram a candidatura. Previram com razão que ocupariam espaços importantes na administração, estruturaram ações de governo.

Até aí, é o que acontece em sociedades mais avançadas, como os Estados Unidos, onde quadros qualificados trocam fardas por roupas civis sem grandes constrangimentos.

As forças da ativa mantiveram uma distância desconfiada do movimento, temendo perder o capital de confiabilidade que amealharam após anos do que consideram humilhação pública durante a redemocratização pós-1985.

Quando ficou claro que Bolsonaro era a alternativa viável contra o PT, partido que se afastou dos militares após decisões desastrosas durante o governo Dilma Rousseff, a ativa obviamente não fez campanha, mas consolidou a bênção a Bolsonaro.

O capitão rebelde dos anos 1980 estava reabilitado, ainda que mesmo após a eleição comentários sobre sua falta de preparo como risco à imagem da instituição tomaram corpo. Foram enfim vocalizados em uma entrevista à Folha em novembro de 2018 pelo general Eduardo Villas Bôas, o então comandante do Exército.

Ali Villas Bôas tentou colocar uma linha separando as Forças do governo Bolsonaro. Tentou, pois mesmo lá já admitia a associação inevitável. Como ele disse ao jornal O Estado de S. Paulo nesta terça (7): a fatura de uma má gestão cairá no colo dos militares, ainda que em parte.

Vinicius Torres Freire: A Apex na guerra dos bolsonaristas

- Folha de S. Paulo

Agência de comércio, que nem é bem governo, vira objeto de disputa odienta

Pouca gente sabia o que era a Apex até que a instituição se tornasse campo de sangue das batalhas intestinas do governo de Jair Bolsonaro.

Nos últimos dias, a disputa pelo poder na agência foi o motivo da nova onda de fúria dos bolsonaristas puros contra os militares, em especial contra o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo.

O que é que a Apex tem?

1) Dinheiro;

2) poder para fazer amigos no mundo empresarial.

3) está em território dominado pela ala antiestablishment do governo: no Itamaraty, sob influência de seguidores do youtuber Olavo de Carvalho.

Dois diretores ligados a Eduardo Bolsonaro foram demitidos pelo contra-almirante Sergio Segovia, terceiro presidente da Apex deste governo. A queda da diretora Leticia Catelani, bolsonarista de primeira hora, causou especial revolta, com campanha no Twitter e tudo.

Os bolsonaristas “raiz” dizem que Catelani despetizava a agência; dava cabo de gastos suspeitos e do esquerdismo. Ela mesma contou que resistia a pressões para manter “contratos espúrios” (de quem? Convém chamar a polícia). Teria caído por intervenção militar; Segovia seria apadrinhado de Santos Cruz, há semanas na caldeirinha das milícias virtuais.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex, não é propriamente órgão de governo. Foi um filho temporão e bastardo do sistema “S” (Sesi, Sesc etc.), criado pelo governo de Lula da Silva em 2003.

É entidade de direito privado, bancada por contribuições obrigatórias de empresas, como no restante do sistema “S”. Mas, na Apex, a maioria dos votos no conselho deliberativo é do governo.

Eliézer Rizzo de Oliveira *: A crise do ‘partido militar’

- O Estado de S.Paulo

Presidente pretende desvincular-se da tutela dos generais, mas a estabilidade do governo depende deles em boa medida

O presidente Jair Bolsonaro mudou a inserção internacional do Brasil. Admirador de Trump e amante dos Estados Unidos, cantou louvores aos ditadores que sangraram nossa região. Falou em guerra para destituir o presidente Maduro e foi contido pelo vice, general Mourão, e generais do círculo central do poder.

Colocou dezenas de militares no governo numa espécie de partido militar de tonalidade verde-oliva. As Forças Armadas ganham (Previdência militar) e poderão perder prestígio ao se associarem ao desmonte de estruturas de educação, ciência, tecnologia, graduação, pós-graduação, pesquisa, cooperação entre instituições militares e universidades; ao desconectarem-se da sua história nacionalista. Se o Exército é tão associado ao governo, em que situação se encontram a Marinha e a Aeronáutica? A propósito, mal se fala em Defesa Nacional e em soberania.

O dedo no gatilho da Presidência aponta para a sociedade (os conflitos sociais que se resolvam à bala), ao passo que a violência simbólica se enraizou no coração do governo. De maneira deseducada e extremamente grosseira, o mentor ideológico do presidente atacou o general Villas Bôas. Este respondeu moderada e institucionalmente, recebendo novos golpes da mesma fonte. Mas não obteve a solidariedade de Bolsonaro. A fonte, sim, foi chancelada.

Ex-comandante da Amazônia e do Exército, assessor do general Heleno, sua influência funda-se na sua personalidade e na carreira de funcionário fardado. Estaremos diante de uma liderança carismática ao lado dos comandos institucionais?

Em suma: o presidente pretende desvincular-se da tutela dos generais, mas a estabilidade do governo depende deles em boa medida. O general Villas Bôas e o presidente Bolsonaro devem ao Brasil o conteúdo de uma conversa aludida na posse do ministro da Defesa.

* Cientista político

Vera Magalhães: Todos à mercê

- O Estado de S.Paulo

O clima em Brasília é péssimo. Os ataques desferidos pelo guru Olavo de Carvalho aos militares em geral, e ao general Eduardo Villas Bôas, em particular, disseminaram na Esplanada dos Ministérios a sensação generalizada de que nenhum auxiliar, nem o amigo mais próximo, conta com o aval do presidente Jair Bolsonaro, e que todos, indiscriminadamente, estão à mercê da máquina de moer reputações do bolsonarismo.

Ouvi de um ministro que existe um grupo de radicais encastelado no governo que acha que o Brasil votou em Bolsonaro por “pura ideologia”, o que não corresponderia à verdade.

Entre civis e militares prepondera a avaliação segundo a qual Olavo não manteria as comportas de impropérios abertas sem a anuência velada ou explícita do presidente. O comportamento ambíguo de Bolsonaro, pedindo trégua ao mesmo tempo em que condecora e elogia alguém capaz de atacar um amigo próximo como Villas Bôas, leva indignação ao time do governo.

No Congresso, reina a incredulidade. Mesmo deputados e senadores de oposição têm dificuldade de compreender como o governo cria para si tamanhas dificuldades políticas num momento de estrangulamento orçamentário pela questão fiscal e estagnação da economia real, que cobram seu preço na forma da impopularidade presidencial.

Enquanto o governo ateia fogo às próprias vestes, suas ações em pastas importantes como Educação e Meio Ambiente fomentam protestos nas ruas e nos fóruns internacionais, com mais potencial de estrago para a imagem de Bolsonaro.

Monica De Bolle*: A realidade pede passagem

- O Estado de S.Paulo

A baixa produtividade da mão de obra resulta de vários problemas, dentre eles a má qualidade da educação no País

O governo de apenas quatro meses de Jair Bolsonaro é um poço de intrigas. Há as brigas entre os olavetes e os não olavetes. Há as brigas entre os filhos que controlam e descontrolam os meios de comunicação do pai e os militares. Há as brigas entre o filósofo presidencial e os generais. Há as brigas entre o presidente da República e o prefeito de Nova York, essa quiçá a mais surreal. Tão surreal que dia desses acabei cantarolando o refrão de música antiga de Lulu Santos, “não vá para Nova York amor, não vá”. Em meio à balbúrdia do governo Bolsonaro – afinal, cada governo tem a sua palavra, seu mot juste – a realidade vem se impondo de forma dramática.

Desde dezembro do ano passado, a inflação subiu quase um ponto porcentual – passando de 3,8% para 4,6% agora. O número em si não chega a assustar, sobretudo porque está dentro da meta do Banco Central. Contudo, a alta súbita da inflação em uma economia que ainda não dá sinais de ter saído do lugar e que pode até ter encolhido um pouco no primeiro trimestre do ano, é preocupante . No entanto, sabemos que a produção industrial encolheu nos primeiros três meses do ano e que outros indicadores econômicos deram claros os sinais de fragilidade. A taxa de desemprego continuou a subir nesse início de 2019, alcançando 12,7 %, o que significa 13,5 milhões de desempregados.

Zuenir Ventura: A direita ontem e hoje

- O Globo

Nunca pensei que fosse sentir saudades do ministro da Educação anterior

A democracia fez mal à direita no Brasil — pelo menos a que está no poder. Em tempos de ditadura, ela era bem mais inteligente do que a de agora. Quem hoje pode ser comparado a Carlos Lacerda em cultura, brilho e raciocínio? Ou a Delfim Netto, que tem autoridade para criticar o que chama com razão de “direita incultural”? Mesmo não gostando dele, não se pode lhe negar o senso crítico e o humor sagaz. Já imaginaram em 1964 o ideólogo do presidente xingar de “um merda” um general importante, como acaba de fazer Olavo de Carvalho com Santos Cruz? Tudo bem, ele tem um “vazio existencial”, como diz outro general, Villas Bôas, ex-chefe das Forças Armadas, reagindo à agressão: “Ele derrama seus ataques aos militares das FFAA, demonstrando falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia.” Apesar disso, Olavo, líder da direita, manda e desmanda no governo.

O pior é que não há luz no fim do túnel. Nunca pensei, por exemplo, que fosse sentir saudades do ministro da Educação anterior. Ele fazia rir, o atual faz mal à cultura, encabeçando uma cruzada contra as universidades. Se tiver que escolher entre um veterinário, um sociólogo e um filósofo, vai preferir o primeiro. Um internauta ironizou acusando-o de estar legislando em causa própria.

Míriam Leitão: Tesoura corta nas Forças Armadas

- O Globo

Militares não sabem como cortar 43% do seu orçamento. Governo está prevendo uma queda de R$ 30 bi nas receitas

Na área econômica, informação é que a queda nas receitas chega a R$ 30 bilhões. A notícia chegou como uma bomba no almoço de ontem do Alto Comando das Forças Armadas. A ordem do Ministério da Economia foi de corte de 43% no orçamento do Ministério da Defesa. Esse foi o assunto, indigesto, do almoço. Na área econômica, a informação é de que está havendo uma queda de nada menos do que R$ 30 bilhões nas receitas esperadas, além dos R$ 12 bilhões que entrariam caso a Eletrobras fosse privatizada.

O presidente Jair Bolsonaro estava lá, junto com o ministro Augusto Heleno, e havia uma especulação de que um dos assuntos seria a crise provocada pelos ataques nas redes sociais de Olavo de Carvalho — incensado pelo próprio presidente e seus filhos — aos ministros militares. O assunto foi sepultado pela notícia dos 43%. O comentário de um general presente é que “nem no período do PT houve corte tão grande”. O ministro Fernando Azevedo disse que as Forças Armadas têm que buscar uma saída, mas os comandantes saíram desanimados do almoço, porque uma redução desse tamanho eles nem sabem como administrar.

No Ministério da Economia a explicação para a tesoura voadora é que houve encolhimento da previsão do crescimento do PIB. A retomada que se esperava não ocorreu, e a frustração é cada vez maior com o ritmo de alta do Produto Interno Bruto. Esta semana, a mediana das projeções do mercado chegou a ficar abaixo de 1,5%, mais precisamente, 1,49%.

Bernardo Mello Franco: O governador Chuck Norris

- O Globo

Wilson Witzel embarcou num “caveirão aéreo” para bancar o xerife em Angra. Para a OAB, a ação desrespeitou decreto que proíbe atiradores em helicópteros

Wilson Witzel queria ser Chuck Norris. Como não foi descoberto por Hollywood, candidatou-se ao governo do Rio. Eleito, deixou a administração de lado para brincar de filme de ação.

No sábado, o ex-juiz mobilizou fuzis e helicópteros para bancar o xerife. Policiais civis e militares foram recrutados como figurantes. Um assessor usou o celular para registrar a encenação.

Em traje esporte, Witzel finge comandar uma operação contra o crime em Angra dos Reis. “Acabou a bagunça. Vamos colocar ordem na casa”, anuncia, com cara de mau e olhar fixo na câmera.

Na sequência, ele embarca num “caveirão aéreo” com atiradores munidos de fuzis. O vídeo termina com as armas apontadas para um morro, ao som de rajadas de tiros. Tudo acontece em um minuto, tempo ideal para o compartilhamento nas redes sociais.

Ninguém foi preso, e nenhuma arma foi apreendida. Cumprida a missão caça-likes, o governador foi repousar no Hotel Fasano, com diárias a partir de R$ 1.600. Ele disse ter aceitado a hospedagem como “cortesia”. Alertado de que a prática viola o código de conduta do estado, mudou a versão.

Luiz Carlos Azedo: Os gatos no telhado

Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“São intensas as articulações para tirar o Coaf do controle do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ainda reduzir o poder dos auditores fiscais”

A aprovação da reforma administrativa do governo Bolsonaro — que será discutida hoje na Comissão Mista do Congresso encarregada de examinar a medida provisória que mudou a estrutura da Esplanada dos Ministérios — é mais um teste de forças entre o Executivo e o Congresso. Ontem, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da medida provisória da reforma ministerial, apresentou relatório em que propõe uma série de mudanças no texto original do governo, que foram acordadas com o chamado Centrão, entre as quais a recriação dos ministérios da Integração e das Cidades. Entretanto, a grande batalha será a permanência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O acordo para isso é frágil, muitos parlamentares querem que o órgão volte para a alçada do Ministério da Economia.

Além do desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional, Bezerra propõe a volta da Funai, que hoje está vinculada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ao Ministério da Justiça. A demarcação das terras indígenas, porém, segundo o relatório, continuará subordinada ao Ministério da Agricultura. A reforma ministerial havia reduzido o número de ministérios de 29 para 22, mas agora pode passar a ter 24, porque deputados da chamada “Bancada da Bala” também querem recriar o Ministério da Segurança Pública. Depois de aprovada pela comissão, a reforma precisará ser aprovada em plenário pela Câmara e pelo Senado.

Nos bastidores da comissão, são intensas as articulações para tirar o Coaf do controle do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ainda reduzir o poder dos auditores fiscais. Somam forças a favor da volta para o âmbito do Ministério da Economia parlamentares enrolados na Operação Lava-Jato e também aqueles que veem excessos da força-tarefa e de juízes de primeira instância por defenderem princípios jurídicos, a maioria advogados. Também querem reduzir o poder de Moro os parlamentares que são policiais e policiais militares, que pretendem controlar a política de segurança pública.

A força do acordo negociado pelo líder do governo, senador Fernando Bezerra, depende de um prévio acerto com Bolsonaro para indicação de um político para o Ministério das Cidades, que controla o programa Minha Casa, Minha Vida e a Caixa Econômica Federal. Sem esse acordo, dificilmente o Coaf permanecerá sob controle do Ministério da Justiça. Como Bolsonaro se elegeu com o discurso de que não haverá loteamento da Esplanada dos Ministérios entre os partidos, a ideia é um nome com amplo trânsito no Congresso, que não possa ser caracterizado como indicação do Centrão.

Ricardo Noblat: Bolsonaro, o boneco de Olavo

- Blog do Noblat / Veja

Fardas maculadas
Entre Olavo de Carvalho, ex-astrólogo e autoproclamado filósofo, e os mais de 100 militares que já empregou no seu governo, o presidente Jair Bolsonaro preferiu ficar do lado do primeiro.

Pouco importa que Olavo tenha enxovalhado a imagem e a honra de generais da reserva que hoje ocupam ministérios e têm direito a gabinetes no Palácio do Planalto.

Pouco importa também que Olavo tenha descido ao fundo do poço e usado expressões chulas para debochar do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, gravemente enfermo.

Bolsonaro está com ele e não abre. A ficar solidário com os generais humilhados, defendeu a liberdade do seu guru de dizer o que quer: “Ele é dono do próprio nariz, como sou do meu”.

Há pelo menos duas razões para que Bolsonaro proceda assim. A conhecida: ele acha que deve sua eleição mais a Olavo do que aos militares. A oculta: Bolsonaro borra-se de medo de Olavo.

O presidente teme virar alvo dos insultos de Olavo e, por tabela, das hordas de fanáticos do falso filósofo nas redes sociais. Prefere, se esse for o caso, até mesmo se indispor com os militares.

Foi o falso filósofo que construiu parte do discurso com o qual Bolsonaro se elegeu. Foi ele que o orientou em momentos difíceis de sua campanha. Seus filhos são “olavistas” de quatro costados.

Mais de 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro, mas é Olavo a voz mais influente aos seus ouvidos. Embora costume falar grosso, Bolsonaro é conhecido como um fraco, um frouxo.

Não é um líder. Jamais liderou coisa alguma. No seu tempo de Exército era o que militares mais graduados chamavam de “um bunda suja”, aquele destinado a não subir na carreira. Não subiu.

Indisciplinado, arruaceiro, tomou cadeia no quartel, acabou expelido da farda, e seus filhos foram recusados como alunos em colégios militares. Agora parece vingar-se por tudo que passou.

Nada de parecido aconteceu antes com as Forças Armadas, nem mesmo quando elas bancaram o golpe de 64 e sustentaram a ditadura que se arrastou por 21 anos.

À época, seus comandantes foram duramente criticados pelos que se opuseram aos seus atos e denunciaram os seus crimes, mas as críticas jamais resvalaram para o plano pessoal.

“Não se atira nos nossos”, ensina um oficial da reserva da Marinha. Bolsonaro assiste Olavo atirar. E se tentam impedir que ele prossiga atirando, Bolsonaro sai em seu socorro.

Haverá limites para Olavo? Qual será o limite dos generais? Com todo o respeito: passar a mão na bunda deles está valendo?

Partido não é só um nome: Editorial / O Estado de S. Paulo

Uma reportagem publicada no domingo passado pelo Estado mostrou que, nos últimos anos, cinco dos dez maiores partidos do Congresso já mudaram ou estudam mudar de nome. Em alguns casos, trata-se de tentar fazer o eleitor esquecer os escândalos de corrupção nos quais algumas dessas legendas se envolveram; em outros, é uma forma de buscar se reconectar com os cidadãos, em meio ao descrédito generalizado de que padece a política.

De uma forma ou de outra, é o reconhecimento, na prática, de que os partidos em geral há muito tempo não conseguem oferecer-se como representantes dos anseios e das demandas dos brasileiros. Em resumo, salvo raríssimas exceções, já não são partidos, com perfil ideológico e programático facilmente identificável, mas sim amontoados de interesses particulares – e cujos caciques só enxergam o poder como oportunidade de bons negócios para si e para os seus.

Já há até mesmo quem diga que os partidos – entendidos como entidades que representam ideias políticas abrangentes – estão com os dias contados. “O mundo exige outra forma de organização. Os partidos vão deixar de existir”, disse o ex-deputado Roberto Freire, fundador e líder do Cidadania, ex-Partido Popular Socialista, que um dia já foi Partido Comunista Brasileiro. “A comunicação direta com o eleitor é uma nova realidade. Hoje é só pelas redes. Ninguém espera mais uma articulação partidária por células em sindicatos de base”, disse o experiente político – cujo partido tirou o “socialista” do nome para conseguir atrair movimentos de renovação política, como o Agora, o Livres e o Acredito, todos de viés liberal.

Fábrica de crises: Editorial / Folha de S. Paulo

Bolsonaro atiça futricas e adula facção em cruzada delirante contra militares

Com o Brasil ameaçado pelo retorno da recessão, já deveria estar clara para as lideranças a relação entre fiasco econômico e instabilidade política. Deveria, mas não está, como o demonstra o comportamento do presidente da República.

Jair Bolsonaro (PSL) é fonte de incertezas. Sob seu comando, o Planalto desponta como a mais prolífica fábrica de crises nacionais.

O supremo mandatário estimula bate-bocas sobre o nada, promove futricas acerca de coisa nenhuma, desperdiça tempo a adular uma facção amalucada, na qual estão incluídos seus filhos, que deliram numa cruzada de botequim contra a elite das Forças Armadas.

Neste fim de semana, a comunicação do presidente da República foi o veículo de nova estocada dessa banda de lunáticos contra o ministroCarlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

Instado pela exumação de trecho de uma entrevista velha do general e pela leitura enviesada também inventada por aquela franja de boçais, de que ele ali defendera o controle de mídias sociais, o chefe do Executivo publicou uma admoestação oblíqua ao seu ministro.

Seu governo, escreveu Bolsonaro, não promoveria regulação das redes sociais. Àquela altura, Santos Cruz já era alvo de mais uma campanha de insultos, promovida entre outros pelo ideólogo Olavo de Carvalho, que nada costuma fazer apartado dos filhos do presidente, em especial do vereador Carlos.

Bolsonaro precisa dizer de que lado está: Editorial / O Globo

Sequer ataque deplorável de Olavo de Carvalho a Villas Bôas recebe do presidente resposta à altura 

O que na campanha apareceu como uma possibilidade, a interferência dos filhos do presidente Bolsonaro no governo, causando instabilidades, se confirma e até excede as expectativas. Com o “02”, Carlos, no comando, uma milícia digital bolsonarista ataca quem o grupo considere ameaça ao atingimento de algum objetivo, com o ideólogo Olavo de Carvalho na condição de inspirador-mor.

Hoje está claro que existe um bolsão de extrema direita ávido por poder atrás das cortinas da atuação do grupo. Já indicou, de forma clara, dois ministros — Ernesto Araújo, para o Itamaraty, e controla o MEC, no qual substituiu o nada inspirado Ricardo Vélez pelo linha-dura de direita Abraham Weintraub; avançou sobre a agência Apex e, desde a montagem do governo, tem especial atração pela Comunicação do Palácio.

É esta predileção que levou Carlos e Olavo a atacarem com fogo concentrado o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, sob a qual está a Secom. Foi executada uma operação típica de criação de fake news para atingir Santos Cruz: tiraram de contexto uma frase sensata do ministro sobre o uso das redes sociais por grupos ideologicamente extremados e espalharam que ele deseja censurá-las. Um despropósito.

Resultados da indústria reforçam o pessimismo: Editorial / Valor Econômico

Em mais um sinal de que a estagnação toma aos poucos conta da economia, a produção industrial teve queda de 2,2% no primeiro trimestre do ano, o pior resultado para período semelhante desde que a recessão terminou, no fim de 2016. Em relação a março de 2018, o recuo foi maior, de 6,1% - e, pior, generalizado. Segundo o IBGE, ele atingiu 22 dos 26 ramos industriais, 60 dos 79 subgrupos e 63,7% dos 805 produtos pesquisados. O Iedi, think tank mantido por indústrias, tem cálculos igualmente desastrosos e teme que o setor tenha entrado em nova fase recessiva.

O ajuste para baixo sucessivo das projeções para o PIB já contavam com um desempenho da indústria mais modesto, mas o fechamento do trimestre mostrou resultados ainda piores do que o previsto pelos economistas ouvidos pelo Valor. As estimativas apontavam para um crescimento do setor de 3,3% no ano, já rebaixadas para 2% e começa a surgir a perspectiva de que simplesmente não haja expansão em 2019.

Nenhum dos motores que movem a indústria está agindo. As exportações, que consomem uma fatia da produção de cerca de 15%, estão desacelerando e a de manufaturados, mais ainda. O comércio global perde força e é um fator negativo, mas, no caso, a recessão na Argentina, um dos grandes consumidores de bens industriais, teve papel imediato mais relevante. Não se vislumbra um crescimento no país vizinho em ano eleitoral (a previsão é de recuo de 1,5% do PIB) - ao contrário, as incertezas devem aumentar.

A tragédia de quem vive em áreas dominadas por milicianos no Rio: Editorial / O Globo

Carta de morador da Muzema com denúncias sobre quadrilhas deve servir de alerta às autoridades

Uma carta anônima, escrita por um morador da comunidade da Muzema, e mostrada anteontem em reportagem do “RJ2”, expõe de forma contundente o drama de quem vive em áreas sob controle de milícias —estima-se que cerca de dois milhões de pessoas no município do Rio estejam nessa situação. Deveria ser lida por autoridades dos três níveis de governo, para que soubessem o que se passa nessas regiões, apartadas de qualquer vestígio do estado democrático de direito.

O anonimato é o primeiro sinal de que as leis que vigoram no país não cabem ali. Na Muzema, impera o medo. E voltar-se contra as perversas regras locais pode significar a morte, como se depreende das entrelinhas do texto. “Estão nos obrigando a pagar mensalidades, seguro de vida. Se não pagar os impostos, perde a casa, ou paga com a própria vida. Ninguém denuncia, com medo de morrer”, diz trecho da carta, que assinala ainda: “a maioria não tem condição de pagar. É expulsão ou mala do carro. Ninguém viu, ninguém vê”.

O autor descreve ainda um ambiente de total intimidação por parte das quadrilhas de milicianos, à medida que bandidos de comunidades vizinhas, como Taquara, Rio das Pedras e Gardênia, monitoram e ameaçam constantemente os moradores. “Não podemos contar com a PM. Estão juntos com o chefe da facção”, afirma.

Vinicius de Moraes: A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida.
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.