segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Marcus André Melo* - Família e política

- Folha de S. Paulo

O familismo político se manifesta de formas diversas na América Latina e Brasil

"Em Pernambuco, ou se é Cavalcanti, ou há de ser cavalgado," rezava o soneto. O familismo marca historicamente a política no Brasil e na América Latina, mas há grande variação nas formas que assume. Paradoxalmente, ele é quase dinástico no Chile e no Uruguai, países onde a democracia esteve mais enraizada.

No Uruguai, o cargo de presidente foi ocupado por quatro gerações do mesmo núcleo familiar: Jorge Battle (2000-2005), Luis Battle Berres (1947-51 e 1955-56), José Battle y Ordóñez (1903-1907; 1911-15), e Lorenzo Battle (1868 a 1872).

Com o presidente eleito, Luis Alberto Lacalle Pou, será a terceira geração da família que chega à Presidência. Seu pai também vestiu a faixa presidencial, e seu bisavô, Luis Alberto Herrera, integrou a Presidência Colegiada do país duas vezes. A pugna familiar com os Battle y Ordóñez não foi apenas simbólica: chegou às vias de fato na forma de um duelo.

Celso Rocha de Barros* - Guedes

- Folha de S. Paulo

Quem vender a democracia brasileira em troca de liberalismo econômico vai acabar sem os dois

O único lado racional do governo Bolsonaro é o lado de fora. Ninguém que se propôs moderar o bolsonarismo por dentro teve, até agora, qualquer sucesso. Pelo contrário, foram todos rebaixados ao nível do chefe.

O ministro da Economia disse que entende por que os bolsonaristas pedem um novo AI-5. Segundo Guedes, os apelos por fascismo se justificam porque Lula pode convocar protestos que, inspirados em Leonardo Di Caprio, taquem fogo em tudo. A mera ameaça de algo assim já teria, ainda segundo o ministro, derrubado a reforma do serviço público.

No meio da conversa, Guedes pediu que todos aceitassem o resultado da eleição.

Na verdade, Bolsonaro abortou a reforma porque nunca quis fazê-la. Guedes fingiu que acreditou que a culpa fosse de Lula porque também precisava de uma desculpa: nunca conseguiu aprovar reforma que Rodrigo Maia não lhe tenha entregado pronta.

Não há protestos, violentos ou pacíficos, acontecendo no Brasil. Se houvesse, a democracia lidaria com eles como lidou com 2013, com 2015 e com a greve dos caminhoneiros de 2018.

Leandro Colon – Fantasma pertuba Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Presidente tenta impor uma versão distorcida da revelação de que teve assessora fantasma

O medo de fantasmas fez o ex-presidente Michel Temer rejeitar o Palácio da Alvorada e preferir morar na residência do Jaburu.

Jair Bolsonaro ainda não reclamou de almas estranhas perambulando pela casa presidencial, mas tem um fantasma que perturba o presidente desde o ano passado. Seu nome é Wal do Açaí, ex-assessora do gabinete dele dos tempos de Câmara.

Na sexta-feira (29), Bolsonaro voltou a tocar no assunto em meio a mais uma ameaça que fez à Folha. Ao comentar a decisão autoritária de excluir o jornal da lista de veículos de imprensa de uma licitação da Presidência, citou o episódio da Wal e distorceu novamente a história.

Ele insiste na versão de que ela não era fantasma, afinal estava de férias em janeiro de 2018, quando a Folha investigava se a servidora prestava de fato serviços ao gabinete político.

Vinicius Mota - A ameaça dos liberais trogloditas

- Folha de S. Paulo

Não vem da esquerda brasileira, sem poder e com baixa mobilização, o desafio iminente à democracia representativa

As redes sociais talvez tenham exposto e explorado, como nenhuma outra tecnologia na história, a propensão ao tribalismo arbitrário do ser humano.

A esquerda nos países democráticos defende a liberdade de estilos de vida, mas apoia intervencionismos na economia. Simpatiza com regimes estrangeiros autoritários que matam e reprimem em nome do igualitarismo econômico.

A direita, em contraponto, associa a militância pela livre iniciativa com pregações reacionárias nos costumes. No exterior, seus tiranos de predileção são os que esquartejam adversários, mas deixam rolar os negócios.

A ressurgência do nacionalismo de direita começa a embaralhar essas cartas. Ele toma da esquerda o discurso da intrusão no domínio econômico e o associa a seu programa de intolerância comportamental.

Ruy Castro* - Coquetelaria bossa nova

-
Folha de S. Paulo


O que Tom, Vinicius, Baden, João Gilberto e outros gostavam de beber -ou não

Hotéis, restaurantes e bares de luxo do Rio prometem uma atração para este verão: a Coquetelaria Bossa Nova. Consiste de drinques e coquetéis com combinações insólitas, criadas por bartenders cheios de truques e triques. Há uma caipirinha com infusão de louro em cachaça de bálsamo. Há um gim com, idem, infusão de abacaxi grelhado e chá verde com arroz torrado. E há um single smoke com uísque defumado e também infusionado com amoras.

Ao ler isso, perguntei-me o que a turma original da bossa nova acharia de tanta infusão e amoras. Tom Jobim, por exemplo, até os 30 anos dedicou-se à cerveja e ao chope. Já o poeta e diplomata Vinicius de Moraes era um homem do uísque, que ele chamava de melhor amigo do homem --"O uísque é o cachorro engarrafado", dizia. Quando eles se conheceram, em 1956, Tom se deixou converter por Vinicius à seita do malte. Mas nunca dispensou o chope e a cerveja. Apenas acrescentou o uísque à sua dieta.

Ricardo Noblat - A caminho da irrelevância

- Blog do Noblat | Veja

Usina de barulho
Pode ser normal um chefe de Estado estar perto de completar um ano no cargo sem ter-se empenhado em montar uma base de apoio no Congresso? E tendo abandonado o partido pelo qual se elegeu e ajudou a eleger 52 deputados federais e quatro senadores?

Parece normal a maioria das coisas que ele faz como, por exemplo, suspender a fiscalização com radares móveis nas rodovias federais, o que reduziu a aplicação de multas e aumentou de agosto para cá o número de mortos e de feridos em acidentes?

E culpar ONGs e até um famoso ator de cinema por incêndios na Amazônia é comportamento que possa ser considerado normal em um presidente da República? É verdade que ao se eleger ele disse que não havia nascido para ser político, mas sim militar.

Mas nenhum dos militares empregados por ele no seu governo – e já são mais de mil – saiu a público para avalizar uma única dessas medidas. Você pode ter ouvido militares defenderem, como o faz Bolsonaro, a ditadura de 64. Sobre torturas, calam-se. Ele, não.

Bruno Carazza* - Para Rodrigo e Davi

- Valor Econômico

Dados e evidências sobre a injustiça do fundo eleitoral

Chega dezembro e o Congresso se apressa para aprovar o Orçamento para 2020. Quando todos os brasileiros estão às voltas com o fechamento do ano no trabalho e os preparativos para as festas natalinas, uma das principais atividades estatais - a definição de como se gastará o dinheiro que se prevê arrecadar no exercício seguinte - é feita com pouco acompanhamento da sociedade, abrindo margem para todo tipo de oportunismo.

Nas últimas semanas deputados e senadores articulam-se para aumentar ainda mais o volume de recursos públicos que receberão para gastar nas eleições de 2020. Há quase dez anos tem sido assim.

De 2010 para 2011 os parlamentares turbinaram o fundo partidário anual de R$ 280 milhões para R$ 400 milhões. Em 2014, às vésperas da decisão do Supremo Tribunal Federal de acabar com as doações de empresas, a tungada passou para R$ 900 milhões por ano. Como se não bastasse, em 2017 resolveram criar o fundo eleitoral, que em 2018 aportou mais R$ 1,7 bilhão para os partidos.

Nas próximas duas semanas, há quem aposte que o fundo eleitoral será multiplicado, podendo chegar a R$ 4 bilhões ou mais. É verdade que a democracia tem um custo, e fazer campanha num país de dimensões continentais como o Brasil tem um preço alto. Mas nossos parlamentares abrigam-se neste argumento para, sem apoio algum em dados, elevar as barreiras à entrada na política brasileira e, assim, aumentar significativamente suas chances de permanecer no poder.

Carlos Pereira - Afinal, quem manda?

- O Estado de S.Paulo

Em uma democracia representativa, a última palavra é dos políticos

Nas últimas semanas, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou duas decisões aparentemente contraditórias no que diz respeito ao combate à corrupção e à impunidade.

Por um lado, decidiu que a execução da pena de um condenado pela Justiça só pode ter início após o trânsito em julgado e não mais a partir da condenação por um colegiado em segundo grau. Por outro, o STF decidiu que os dados coletados pela Receita Federal e pela Unidade de Inteligência Financeira (UIF) – antigo Coaf – podem ser compartilhados, de forma ampla e sem restrições, com o Ministério Público e a polícia sem a necessidade de autorização judicial.

Qual o impacto dessas decisões para os outros Poderes?

Existem pelo menos duas correntes que oferecem respostas a esta pergunta: a dominância burocrática e a dominância congressual. Ambas partem de problemas que políticos eleitos enfrentariam ao delegar poderes para organizações de controle e judiciais.

A perspectiva da dominância burocrática afirma que as organizações de controle ficaram tão profissionalizadas e independentes que não mais seria possível serem controladas pelos políticos que as criaram. Essas organizações se especializaram e desenvolveram “vida própria”, tornando-se insuladas, com vantagens informacionais e alto grau de discricionariedade e, portanto, com capacidade de perseguir seus próprios objetivos e preferências, muitas vezes à revelia das preferências dos Poderes Executivo e Legislativo.

Fernando Gabeira - Unidade nacional para barrar AI-5

- O Globo

Uma medida do AI-5 foi pôr censores nos jornais. Não havia internet. Como fariam hoje para censurar a rede?

No dia em que o Flamengo se tornou campeão da Libertadores, cruzei no avião com um homem vestido com a camisa do time. Apenas nos olhamos, mas nos sentíamos unidos pela mesma tensão e esperança. Naquele momento, senti uma estranha saudade do Brasil. A seleção brasileira já não empolga como antes; o lugar foi momentaneamente ocupado pelo Flamengo.

Mas o futebol não era meu objeto de saudade, mas sim a política. Vim me perguntando na viagem de Natal para o Rio como era difícil encontrar essa sensação de unidade nacional, sobretudo em tempo de paz.

Quando digo unidade, não quero dizer unanimidade. Mas algo que congregue as pessoas para além de suas escolhas singulares. A última vez que senti isso foi no movimento pelas Diretas. A partir daí, a sensação foi escapando aos poucos.

É um pouco ingênuo acreditar nessa possibilidade. A política americana em alguns momentos conseguiu unificar os dois grandes partidos pontualmente, em temas bem definidos. Hoje, com Trump, esse sentimento deve estar se esvaindo também lá. Digo também lá porque aí as perspectivas são de confronto, com os atores se pintando para a guerra.

O Chile é uma espécie de arma que os contendores escolheram para o seu duelo. De um lado, a esquerda pedindo manifestações como a chilena; de outro, o governo de extrema direita acenando com o AI-5 e preparando-se para uma repressão sem limites, camuflada sob um nome bastante complicado: excludente de ilicitude, cuja tradução real é liberar a porrada.

Demétrio Magnoli - Segredos uruguaios

- O Globo

O vídeo de Guido Manini Ríos circulou no dia do segundo turno, 24 de novembro. Nele, o general aposentado, que obteve 10% dos votos no turno inicial, invectivava contra a esquerda em linguagem exaltada para chamar integrantes das Forças Armadas a votar em Luis Lacalle Pou, barrando um novo mandato à Frente Ampla. A mais notável reação partiu do próprio Lacalle Pou:

“Esse tipo de coisa não pode ocorrer no Uruguai”. Enquanto ele falava, a apuração registrava empate técnico, o órgão eleitoral adiava o anúncio do resultado para permitir uma contagem rigorosa dos votos restantes e os apoiadores dos candidatos rivais confraternizavam nas ruas.

Não —o Uruguai não é uma nação civilizada por natureza. O país viveu uma ditadura de 12 anos, entre 1973 e 1985, com raízes fincadas nas ações de um esquadrão da morte de extrema-direita e nos sequestros e atentados cometidos pelos Tupamaros, de extrema-esquerda. Durante a ditadura, cerca de 20% dos cidadãos foram presos em algum momento e 10% da população emigrou, num movimento que se refletiu na paisagem de casas abandonadas em Montevidéu e em forte desvio da morfologia da pirâmide etária. A civilidade uruguaia emanou da história recente: eles aprenderam as lições da ditadura.

O primeiro segredo situa-se à esquerda, na Frente Ampla. “É uma ditadura, nada mais que isso”, definiu Pepe Mujica, referindo-se à Venezuela. O ex-presidente, antigo líder dos Tupamaros, que ainda mantém relações afetivas com o grupo, fala uma linguagem incompreensível para o PT. Os Tupamaros nasceram em 1963, sob a influência da Revolução Cubana. Hoje, porém, quase toda a esquerda uruguaia saiu da caverna do castrismo, abraçando a ideia de pluralidade política. O “inimigo do povo”, tão caro à esquerda brasileira (e argentina), não tem lugar no discurso político uruguaio.

Sérgio Augusto - Meio século de Pasquim

- O Estado de S.Paulo / Aliás

Jornal reuniu grandes nomes do jornalismo brasileiro durante a ditadura militar

Coincidência ou ironia do destino, o fato é que, enquanto em Brasília o presidente promovia, com fascistoide estardalhaço, o primeiro partido familiar da história política do País, belicosamente kitsch e com o mais medonho logo de sua espécie, o Sesc Ipiranga de São Paulo abria uma exposição que era, é, em tudo, o seu antípoda.

Nada mais distinto da nova aliança da bala, do boi e da Bíblia que a jubilosa exposição dos 50 anos do Pasquim. A começar pela bela e, como sempre, criativa, montagem de Daniela Thomas. Está tudo lá, até uma sala reproduzindo a cela da Vila Militar em que a maior parte dos redatores do jornal ficou presa nos dois últimos meses de 1970. Pressa desnecessária; ela fica em cartaz no Sesc Ipiranga até abril do ano que vem.

Depois? Por enquanto, nada. Seu obstinado mentor, Fernando Coelho dos Santos, fez o diabo para que ela também acontecesse no Rio, mas só encontrou obstáculos, desinteresse e cagaço político nas instituições que poderiam acolhê-la. Soa no mínimo absurdo que o jornal que era a própria encarnação do espírito de Ipanema, que alardeava ver tudo de “um ponto de vista carioca”, tenha seu cinquentenário apenas celebrado em São Paulo.

Simultaneamente à mostra, a Fundação Biblioteca Nacional disponibilizou em sua hemeroteca a coleção completa digitalizada do Pasquim, do número 1 ao 1072. Esta é a cereja do bolo.
Em meio às conversas que animaram a abertura da exposição, um fiel leitor paulistano do Pasquim me perguntou qual fora, a meu ver, o melhor número do jornal, aquele que eu levaria para uma ilha deserta. Cravei o 300. Entre outros motivos, por ter sido o primeiro número sem censura prévia depois de duzentas e tantas edições rasuradas e cortadas pelos catões da ditadura.

Raimundo Santos - Revolução, reformas e políticas públicas

- Resumo do artigo

A esquerda militante brasileira de hoje tem dificuldade de ver as reformas e as políticas públicas como elementos de um processo de renovamento em curso no conjunto da formação social brasileira. Custa-lhes identificar nas medidas parciais mudanças mais amplas pensadas distendidas no tempo, de andamento progressivo e concretização sustentável à medida que mediados pela política envolvam a generalidade dos interesses da população. Entretanto, a esquerda brasileira contemporânea tem larga tradição diversa desse desencontro ideológico, pois criado pela doutrina, entre revolução e reformas.

O artigo se volta para esse tema focalizando dois autores dos mais conhecidos no campo da esquerda brasileira, Caio Prado Junior e Celso Furtado, cujas argumentações conferem às reformas estruturais, como se dizia no decênio 1954-64, status constituinte das suas formulações revolucionárias e reformistas desse tempo contemporâneo. O texto se propõe sublinhar nos escritos políticos desses autores suas passagens fundamentais assentadas em interpretações das circunstâncias e conjunturas, ponto de vista este com que se afastam do determinismo doutrinal e singularizam suas buscas dos caminhos para a transformação social em relação à ideia de revolução como evento histórico diruptivo.

O primeiro clássico, no registro marxista, com sua tese da revolução brasileira compreendida como duas grandes reestruturações da vida nacional, a da economia e a da política; e o outro, em diálogo construtivo com o marxismo político, formulando um reformismo com vigência permanente das liberdades, viável por conta do gradualismo das mudanças que então propôs atento à capacidade do regime político representativo para suportar tensões e conflitos crescente conforme decorresse a revolução democrática.

No que couber às apresentações dos referidos autores, o artigo aludirá a outros nomes expressivos da política de reformas, como Alberto Passos Guimarães e seu agrarismo de medidas parciais de reforma agrária, Alberto Rangel e sua ideia da reforma agrária mediante medidas não essencialmente agrícolas, ou ainda o próprio Caio Prado Junior com sua concepção do sindicalismo rural como um grande movimento social capaz de equacionar a questão da terra na cena pública.

*Para acessar o texto completo deste artigo ver E-book O Rural Brasileiro na Perspectiva do Século XXI.Sergio Pereira Leite e Regina Bruno (Orgs.). Editora Garamond, Rio de Janeiro, dezembro de 2919.


O que a mídia pensa – Editoriais

Um ano perdido para o emprego – Editorial | O Estado de S. Paulo

Com 12,4 milhões de desocupados, o equivalente a 11,6% da força de trabalho, as condições de emprego no trimestre móvel encerrado em outubro foram muito parecidas com as de um ano antes, quando o deputado Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. O quadro piorou depois da posse, embora empresários tenham proclamado otimismo em relação ao novo governo. O primeiro ano de mandato foi marcado por baixa atividade, severa escassez de vagas e aumento da informalidade e da ocupação precária. Os desempregados chegaram a 13,2 milhões no período de fevereiro a abril, e a partir daí o número declinou lentamente. No trimestre da eleição, em 2018, 12,3 milhões de trabalhadores caçavam qualquer oportunidade. A taxa de desemprego passou de 11,7% para 11,6% em um ano, uma variação estatística insignificante, enquanto aumentou o número absoluto dos trabalhadores e famílias em situação ruim. São dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Não se tratou, obviamente, de um triste caso de mera fatalidade. Durante mais de um semestre o governo do presidente Jair Bolsonaro nada fez para atenuar com alguma rapidez os piores problemas de muitos milhões de trabalhadores.

Poesia | Vinícius de Moraes - Carta ao Tom

Rua Nascimento e Silva, cento e sete, você ensinando prá Elizeth
As canções de "Canção do Amor Demais"
Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade
Era como se amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade turvaria
Esse Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era a mais bela e além disso se via da janela
Um cantinho de céu e o Redentor
É meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor
Rua Nascimento e Silva, cento e sete, eu saio correndo do pivete
Tentando alcançar o elevador
Minha janela não passa de um quadrado, a gente só vê Sérgio Dourado
Onde antes se via o Redentor
É meu amigo só resta uma certeza, é preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor