domingo, 5 de janeiro de 2020

Cristina Serra - O Porta dos Fundos e o silêncio presidencial

- Folha de S. Paulo

Surge mais um personagem bizarro na já extensa galeria de figuras grotescas

Eis que no apagar das luzes de 2019 surgiu mais um personagem bizarro na já extensa galeria de figuras grotescas que povoam a vida contemporânea brasileira. Trata-se de Eduardo Fauzi Richard Cerquise, um dos responsáveis pelo atentado terrorista à sede da produtora do canal de humor Porta do Fundos.

A folha corrida do sujeito é um passeio pelo Código Penal. Ele foi condenado por dar um soco no secretário de Ordem Pública da Prefeitura do Rio em 2013. Recorria em liberdade. Tem cerca de 20 registros criminais, entre eles: ameaça, formação de quadrilha e agressão à ex-mulher.

Fauzi foi logo identificado, mas, enquanto a polícia discutia se o atentado com coquetéis molotov caracterizava ou não crime de terrorismo, ele postou vídeo nas redes sociais; passou lépido e fagueiro pelos controles do aeroporto internacional do Rio e escafedeu-se para a Rússia, onde supostamente tem uma namorada. Sabe-se também que desde 2001 era filiado ao PSL --partido pelo qual o presidente Bolsonaro se elegeu.

O atentado exumou das catacumbas da história grupos de extrema direita derivados do integralismo, movimento de inspiração fascista que floresceu nos anos 1930 no Brasil. Após a morte de seu criador, Plínio Salgado, nos anos 1970, o integralismo fragmentou-se em pequenos grupos, com os quais Fauzi tem relações. Alguns desses grupos são formados por policiais, ex-policiais e milicianos, segundo o historiador Leandro Gonçalves, da Universidade Federal de Juiz de Fora, em entrevista à BBC Brasil.

O atentado ao Porta dos Fundos já tem mais de dez dias, e até agora o presidente não deu uma palavra sobre o assunto. Em 1987, quando era capitão, Bolsonaro respondeu a processo judicial, acusado de elaborar um plano terrorista para explodir bombas em quartéis, no Rio de Janeiro. Num julgamento controverso (explicado no livro "O cadete e o capitão", de Luiz Maklouf Carvalho), ele acabou absolvido.

O silêncio presidencial dispensa maiores explicações.

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