terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Merval Pereira - Do espírito à realidade

- O Globo

Guedes em Davos terá a mesma receptividade que encontrou em Stanford, mas precisará enfrentar perguntas difíceis

O ministro da Economia Paulo Guedes começou bem seu périplo internacional para vender a imagem do governo brasileiro, com uma palestra magna num jantar no Instituto Hoover, da Universidade Stanford, organizado pela Mont Pelerin Society, grupo que reúne economistas e intelectuais liberais de diversas partes do mundo.

De Palo Alto, na Califórnia, Guedes viajou para Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial desde segunda-feira. Como principal representante do governo brasileiro, tem como missão mostrar para os investidores internacionais um país pronto para crescer economicamente. O que se confirma com o aumento da previsão de crescimento do PIB brasileiro feito pelo FMI e pelo Fórum Econômico.

Do espírito de Mont Pelerin, na Suíça, onde aconteceu a primeira reunião do grupo em 1947, até a realidade de Davos, a Montanha Mágica do livro de Thomas Mann.

O encontro deste ano da Mont Pelerin Society teve como base o tema “Do Passado ao Futuro: Idéias e Ações para uma Sociedade Livre”. A Sociedade teve sua reunião inaugural em 1947, em Mont Pelerin, Suíça, fundada por historiadores, economistas e filósofos como Friederich Hayek, seu primeiro Presidente, Ludwig Von Mises, Frank Knight, George Stigler, Karl Popper e Milton Fiedman, da Escola de Chicago, alma mater de Paulo Guedes.

Historicamente, seu quadro de membros vai desde Ludwig Erhard, ex-chanceler alemão, até pelo escritor peruano Prêmio Nobel de Literatura Mário Vargas Llosa, passando por muitos outros líderes das esferas governamental, acadêmica e jornalística, vários deles agraciados com o Nobel e o Pulitzer.

É um dos principais Think tanks dos valores do liberalismo econômico e social. No encontro deste ano, figuram nomes como o economista americano Arnold Harbenger, e os ex-secretários de Estado dos Estados Unidos George Schultz (que este ano completa um século de vida) e Condoleezza Rice. A palestra do Ministro da Economia Paulo Guedes ocorreu no 40º. Aniversário da chamada “Conferência Milton Friedman”, principal atividade das reuniões da Mont Pelerin.

Paulo Guedes foi apresentado à plateia de 400 pessoas por Niall Ferguson, hoje talvez o mais influente historiador e intelectual público em escala global. Assim como Eric Hobsbawn era um grande historiador de esquerda, Fergunson é seu antípoda da direita internacional. O professor Ferguson, além de tudo, é um ativista político, apóia Donald Trump nos Estados Unidos e Marine Le Pen na França, e defende o Brexit.

Recentemente meteu-se em uma disputa no campus da Universidade Stanford, onde leciona, quando o jornal interno Stanford Daily revelou que ele estimulava seus alunos a combaterem estudantes de esquerda.

Fergunson, ao apresentar Guedes, disse que desde o primeiro dia de governo Bolsonaro ele vem conseguindo aprovar os pontos de uma ambiciosa agenda de reformas no Brasil. O ministro Paulo Guedes fez uma avaliação da conjuntura global, com base também em suas interações com protagonistas como os presidentes dos Estados Unidos Donald Trump, da China Xi Jinping e Vladimir Putin da Rússia, mostrando as intersecções internacionais com os grandes desafios econômicos do Brasil.

Guedes não teve constrangimento em definir a presidência de Bolsonaro como baseada nos valores da família e do amor à Pátria, parte da alternância de poder, fato natural nas democracias, e defensor do livre mercado e do Estado de Direito, pressupostos de uma sociedade livre. Destacou as reformas estruturantes que o governo vem propondo, e o equilíbrio fiscal.

Enfatizou que os princípios abraçados pela Mont Pelerin são tão vitais no mundo contemporâneo quanto o eram no pós-II Guerra. Aplausos interromperam por várias vezes seu discurso, e ao final foi ovacionado de pé. Paulo Guedes estava em seu ambiente, e conseguiu inspirar todos presentes, que saíram daquela noite em Stanford com a convicção de que, no Brasil, pavimenta-se o caminho da prosperidade.

Provavelmente seu discurso em Davos terá a mesma receptividade que encontrou em Stanford, mas certamente terá que enfrentar perguntas difíceis, tanto dos jornalistas internacionais quanto dos próprios empresários presentes, sobre queimadas da Amazônia, ou a influência do nazismo no programa cultural do governo Bolsonaro.

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