quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Bernardo Mello Franco - Amor não correspondido

- O Globo

A relação entre Bolsonaro e Trump lembra um amor não correspondido. Um faz de tudo para demonstrar fidelidade. O outro reage com desprezo e rasteiras no comércio

Em novo revés para o Itamaraty, os Estados Unidos removeram o Brasil da sua lista de países emergentes. A canetada não vai nos promover ao olimpo das nações desenvolvidas. Apenas abrirá caminho para a imposição de novas barreiras às exportações brasileiras.

A Confederação Nacional da Indústria classificou a medida como“ilegal ”. O presidente Jair Bolsonaro preferiu abaixara cabeça. Ontem ele voltou a exaltar Donald Trump. “Por que o Trump é tão criticado pela imprensa?”, reclamou, antes de fazer novos elogios ao aliado.

Desde a vira dado ano, o capitão radicalizo una subserviência a Washington. Em janeiro, ele apoiou a deportação de imigrantes brasileiros sem visto de permanência. Na semana passada, fez uma live para festejara absolvição de Trump no processo de impeachment.

Em horário de expediente, Bolsonaro passou 1h12m em frente à TV assistindo ao discurso do ídolo. Durante a transmissão, chamou Trump de “grande líder” e se referiu ao senador republicano Mitt Romney, que votou contra o colega de partido, como “traíra”.

Ao fim do espetáculo, o presidente se irritou com críticas de internautas. “Ninguém fique pensando que eu estou aquib ajulando o Donald Trump ”, esbravejou. No dia seguinte, ele vestiu um boné com abandeirados Estados Unidos e a inscrição “Trump 2020”.

A relação entre os dois presidentes lembra um amor não correspondido. Bolsonaro faz de tudo para demonstrar fidelidade e submissão. Em troca, recebe manifestações de desprezo e rasteiras comerciais.

O Planalto acumula concessões unilaterais à Casa Branca. Já aboliu a exigência de visto para turistas americanos, cedeu o uso da base de Alcântara, abri umão de vantagens na Organização Mundial do Comércio e elevou as cotas de importação de trigo e etanol. Os americanos recompensaram tudo com quase nada: prometeram apoiara entrada do Brasil na OCDE.

Ontem o deputado Eduardo Bolsonaro acenou com mais um favor a Trump. Disse ser contra a entrada de uma companhia chinesa no leilão da telefonia 5G. “Para uma parceria militar com os EUA, como é que eles vão poder confiar?”, questionou o Zero Três.

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