quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Bolsonaro convoca para atos do dia 15

Crise. Após os ataques feitos por general Heleno ao Parlamento, celular do presidente da República compartilha peça e texto em que aparece como vítima dos ‘políticos de sempre’

Vera Magalhães Felipe Frazão Mateus Vargas / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro disparou de seu celular um vídeo convocando apoiadores a irem às ruas no dia 15 de março para defendê-lo. A mensagem mostra a facada que Bolsonaro sofreu em 2018 e é compartilhada por movimentos de direita em defesa do governo e contra o Congresso Nacional. Um dos generais fardados cuja foto foi usada para convocar a manifestação, o deputado federal Roberto Peternelli (PSL-SP) desautorizou o uso da imagem.

O presidente Jair Bolsonaro disparou ontem de seu celular pessoal um vídeo em tom dramático em que mostra a facada que sofreu em 2018 em Juiz de Fora para dizer que “quase morreu” para defender o País e, agora, precisa que as pessoas saiam às ruas em 15 de março para defendêlo. O ato do dia 15 está sendo convocado por movimentos de direita em defesa do governo e contra o Congresso.

Bolsonaro adicionou um texto ao vídeo de 1 minuto e 40 segundos. Nele se lia: “15 de março. Gen Heleno/Cap Bolsonaro./ O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. O vídeo foi revelado pelo site BR Político.

Bolsonaro já enviou pelo menos dois vídeos com imagens e sobreposição de fotos suas, convocando a população a sair às ruas no dia 15. Os vídeos têm trechos idênticos, como a frase que classifica Bolsonaro como um presidente “cristão, patriota, capaz, justo e incorruptível”.

O ex-deputado Alberto Fraga, amigo do presidente, confirmou ao Estado que, antes do carnaval, recebeu um desses vídeos do próprio Bolsonaro, pelo WhatsApp. A mesma peça foi compartilhada pelo secretário da Pesca, Jorge Seif Jr., com seus contatos no aplicativo.

No vídeo disparado ontem, ao som do Hino Nacional, as legendas afirmam que Bolsonaro “desafiou os poderosos por nós” e explora o antipetismo ao relacionar a oposição ao presidente à “esquerda corrupta e sanguinária”. A peça defende Bolsonaro de forma genérica, afirmando que as críticas ao governo são “calúnias”. Depois, diz que o presidente precisa do apoio “da família brasileira” contra “os inimigos do Brasil”.

Na semana passada, o general Augusto Heleno, ministrochefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), acusou o Congresso de “chantagear” o governo e deflagrou uma crise. Heleno disse que o governo não pode ficar “acuado” pelo Congresso e orientou o presidente a “convocar o povo às ruas”. Os ataques de Heleno foram motivados pela discórdia em relação à repartição dos recursos do Orçamento impositivo. Em reunião com ministros, Bolsonaro também disse que não pode ficar “refém” do Congresso, como revelou o Estado.

Captadas por transmissão oficial, as declarações do general e a convocação do ato causaram repúdio no Congresso. Na ocasião, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que Heleno virou um “radical ideológico”. O Estado procurou o Planalto ontem, mas não obteve resposta. Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), também não responderam.

Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), que chegou a questionar se era o presidente o autor da mensagem, o episódio “é muito ruim para o País”. “Vai dificultar qualquer ação do Executivo no Congresso.”

Não é a primeira vez que o presidente compartilha conteúdo polêmico pelo WhatsApp. Em agosto de 2019, ele enviou texto que dizia que o Brasil é “ingovernável fora dos conchavos”.

Generais. No segunda-feira, panfleto do ato assinado por “movimentos patriotas e conservadores” usou fotos dos generais Heleno, do vice-presidente, Hamilton Mourão, do deputado Roberto Peternelli e do secretário de Segurança Pública de Minas, Mário Lúcio Araújo. O texto dizia: “os generais aguardam as ordens do povo” e “fora Maia e Alcolumbre”. Heleno e Mourão não se manifestaram. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, afirmou que “o uso de imagens de generais é grotesco”.

“Ele quase morreu por nós (...) Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil.” (Trecho do vídeo da convocação para o ato anti-Congresso)

Colaborou Julia Lindner

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