domingo, 8 de março de 2020

8 de março – Editorial | Folha de S. Paulo

Se há o que comemorar no Dia da Mulher, o avanço é lento diante de disparidades

O Dia Internacional da Mulher, celebrado neste 8 de março, inspira-se nos protestos encampados por trabalhadoras que, no começo do século 20, se insurgiram contra uma ordem social e política em tudo iníqua ao gênero feminino.

A efeméride só veio a tornar-se oficial em 1975, ano que as Nações Unidas consagraram à lembrança dos direitos conquistados ao longo de décadas de lutas persistentes.

Hoje, a igualdade entre homens e mulheres, ao menos no plano das leis, consolidou-se como realidade inexorável e quase universal. Em que pesem tais avanços, permanece ainda grande a desigualdade de gênero nas mais diversas sociedades do planeta —e a brasileira não seria exceção.

O último relatório do Fórum Econômico Mundial a avaliar os avanços nessa seara situa o Brasil numa pouca honrosa 92ª posição, dentre 153 nações. Regionalmente, nosso desempenho afigura-se ainda pior. Dentre os 25 países da América Latina, ocupamos somente o 22º lugar.

As disparidades mais graves, segundo o documento, se dão nos campos das relações de trabalho e da representatividade política.

Dados do IBGE mostram que, em 2018, as mulheres receberam em média salários 20,5% menores que os dos homens. Elas também têm mais dificuldades para galgar os cargos mais altos do setor privado. Apenas 19% das companhias nacionais possuem mulheres em postos elevados de gestão.

O mesmo ocorre em áreas da esfera pública. No Judiciário, por exemplo, a participação feminina no total de magistrados é de 37,5%. Nos tribunais estaduais de segunda instância, porém, essa proporção cai para 20%.

Na política, a distância se torna ainda maior. Embora constituam mais da metade da população brasileira, as mulheres representam apenas 18% dos membros do Congresso. No Executivo, elas ocupam tão somente 2 dos 22 cargos de primeiro escalão.

Não bastasse tamanha desigualdade, as mulheres sofrem ainda com a crescente ameaça a suas vidas. No ano passado, ocorreram 1.310 assassinatos decorrentes de violência doméstica ou motivados pela condição de gênero, típicos do feminicídio —uma alta de 7,2% ante 2018, que contrasta com o recuo geral da criminalidade no país.

Mais sutil e disseminado é o machismo renitente, que atravessa toda a sociedade e encontra, no próprio presidente da República, um triste e indecoroso estímulo.

Se há o que comemorar no dia de hoje, quando se compara a condição feminina com a de um século atrás, o ritmo do progresso permanece lento em demasia diante de discrepâncias e injustiças que estão aos olhos de todos.

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