sábado, 7 de março de 2020

Alvo de ataques de apoiadores de Bolsonaro, Maia sobe o tom contra o governo

O presidente da Câmara afirmou que há uma estrutura ligada ao Executivo que é responsável por viralizar "ódio e fake news"

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - Alvo de fortes ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e de protestos marcados para o dia 15 deste mês, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subiu o tom contra o governo e disse que há uma estrutura ligada ao Executivo que é responsável por viralizar "ódio e fake news".

Ao defender investigações para descobrir quem financia essa rede, Maia afirmou que a gestão Bolsonaro aposta em uma estratégia para atacar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) e transformá-los em inimigas da sociedade, fortalecendo o presidente.

"Infelizmente a gente não tem os recursos e a estrutura que o entorno do governo tem para viralizar tantas fake news como tem sido feito nas últimas semanas", afirmou Maia, em evento promovido pela Fundação FHC, em São Paulo. "Desde o início do governo tem uma estratégia nas redes sociais, o entorno do governo, as redes que o governo influencia têm operado de forma a criar as instituições como inimigas da sociedade, o que não é verdade."

Ao falar sobre os protestos marcados para o dia 15, contra o Congresso e o Supremo, Maia reforçou as críticas ao governo por "viralizar o ódio" e a ideia de que pretende criar o "parlamentarismo branco". "Essas teses são criadas para arranjar alvos para que o Congresso, o presidente da Câmara, do Senado, do próprio Supremo sejam atacados, para que o ódio seja viralizado."

O presidente da Câmara disse que o governo Bolsonaro tem demonstrado que os ataques feitos contra o Legislativo e ao Judiciário não são por "desconfiança" em relação aos dois Poderes, mas sim um "método". "Vivemos um momento difícil", afirmou Maia.

Maia classificou o responsável do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, como um ministro do desequilíbrio, depois que ele fomentou a discórdia contra o Legislativo e chamou o Congresso de chantagista — declaração que serviu como estopim para os atos do dia 15.

O parlamentar também reclamou da falta de interesse do presidente em relação às pautas econômicas, sobretudo para organizar as contas públicas e retomar o crescimento econômico, e disse que o Parlamento tem assumido o protagonismo para superar a crise econômica enfrentada pelo país.

Maia afirmou ter conversado hoje com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para o Legislativo buscar soluções para a crise econômica e o mau desempenho do PIB junto à equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem "cabeça racional" no governo Bolsonaro. "É homem de diálogo, tem nos ajudado, tem espírito público enorme", afirmou.

"Falei com Davi e ele vai propor uma reunião da equipe econômica com o Congresso para ver o tamanho da crise e o que, em conjunto, aqueles que têm cabeça racional no governo podem falar com a Câmara e o Senado", disse Maia. O parlamentar criticou ainda o governo por criar novas despesas onde não há fontes de receita, como o 13º salário permanente para o Bolsa Família e o BPC.

O presidente da Câmara também cobrou empenho do governo para enfrentar a crise econômica e disse que o Parlamento tem cumprido seu papel. "Não queremos um milímetro do que é de responsabilidade do Executivo, mas também queremos que o espaço e a prerrogativas parlamentares do Congresso Nacional também sejam respeitadas", disse.

"Temos que ter muito equilíbrio, muita paciência, compreender que o governo está pressionado porque prometeu muito e não entregou, tinha previsão de crescimento [do PIB] de 2,5% e cresceu 1,1%, entendemos a aflição", afirmou Maia.

Orçamento impositivo
Maia disse que o Orçamento deve ser resolvido na próxima semana e que nunca quis mexer na proposta original do governo. O parlamentar disse que "há um conflito que não é verdadeiro com o governo" sobre o Orçamento e afirmou que, com isso, "perde-se tempo" em vez de avançar em pautas prontas para votar, como a autonomia do Banco Central.

"O que estava em discussão, como em todos os anos, é a parte que o Parlamento adiciona. Nós dobramos os investimentos públicos, mais recursos para prefeitos e governadores, em momento de economia fraca", afirmou.

Maia disse que está em discussão R$ 20 bilhões - R$ 4 bilhões que foram pedidos dos ministros. "Aprovamos tudo na emenda do relator. Quer dizer que isso pode, mas agregar mais R$ 15 bilhões para prefeitos, nos municípios e Estados nas bases dos deputados e senadores não pode?"

Maia também voltou a falar que é contra o parlamentarismo no Brasil neste momento. "O Parlamento tem que dar muitos passos para recuperar a credibilidade para daqui a cinco, seis, sete anos a gente discutir se o sistema presidencialista é o melhor ou o parlamentarista. Neste momento não agrega em nada e gera desgaste", afirmou.

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