quarta-feira, 11 de março de 2020

Zuenir Ventura - Clima de guerra

- O Globo

Bolsonaro comporta-se misturando impotência e cinismo

O cenário é preocupante. Além do coronavírus que está chegando ameaçador e da guerra de preços do petróleo que trouxe o pânico ao mercado financeiro internacional, há os problemas internos: mais de 11 milhões de brasileiros desempregados, o desmatamento da Amazônia batendo recordes, a economia estagnada, o dólar nas alturas, a Bolsa despencando, o PIB de 1,1%.

Diante desse quadro, o presidente Bolsonaro comporta-se misturando impotência e cinismo. Como não sabe o que fazer, faz palhaçada. Já deu bananas para os repórteres e já fantasiou um humorista de presidente com faixa e tudo e levou-o até a porta do palácio para dar entrevista sobre o “pibinho”, um dos vexames de seu governo.

A última dele para desviar a atenção da crise foi agora na Flórida, onde falou para uma plateia de maioria de evangélicos brasileiros. Sem explicar por que demorou tanto a denunciar fraude nas eleições de 2018, ele afirmou que teria provas de que foi eleito no primeiro turno e que as mostraria em breve.

Já o ministro Paulo Guedes, que se mostra tranquilo, minimiza a gravidade da crise atual dizendo que ela será resolvida com as reformas. Mas como a da Previdência demonstrou, será preciso estar em harmonia com o Congresso, o que não é bem o caso. Primeiro ostensivamente, depois disfarçadamente, Bolsonaro gostaria que a manifestação de domingo fosse contra o Parlamento e o STF.

O exemplo mais recente do clima que impera no interior do governo é o episódio Regina Duarte, que desembarcou carregando a bandeira branca, falando em pacificação e foi bombardeada antes até de assumir. Tudo porque disse o óbvio: “que uma facção quer ocupar esse lugar, quer que eu me demita”.

Tanto Olavo de Carvalho quanto o ministro Luiz Eduardo Ramos não pouparam críticas. O guru do bolsonarismo, que disse ter sido o primeiro a ser consultado, chegou a pedir desculpas ao presidente pela aprovação. Ramos, que foi um dos articuladores da nomeação da atriz, também manifestou sua discordância.

Isso sem falar no vereador Carlos Bolsonaro, que, segundo o blog de Lauro Jardim, revelou a interlocutores que sua missão é tirar a atriz da secretaria.

Será Regina Duarte apenas a quarta de uma série a ocupar o cargo?

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