domingo, 5 de abril de 2020

Bruno Boghossian – Bolsonaro e a âncora evangélica

- Folha de S. Paulo

Entre esses fiéis, 41% aprovam trabalho do presidente, contra 31% dos católicos

Os atritos produzidos por Jair Bolsonaro na crise do coronavírus reforçaram o papel dos evangélicos como âncoras de seu governo. A última pesquisa Datafolha mostra que nenhum grupo social com peso relevante tem uma visão tão positiva do presidente quanto esses fiéis.

Entre os evangélicos, que representam quase um terço da população, 41% consideram ótimo ou bom o desempenho de Bolsonaro em relação ao surto da Covid-19. Para os católicos, que são metade dos brasileiros, essa aprovação é de 31%.

A variação supera diferenças nos perfis econômicos das duas religiões. A conduta de Bolsonaro provocou um aumento da rejeição a seu trabalho na população de baixa renda (40%), que compõe parte considerável do segmento evangélico. No grupo religioso, porém, a reprovação ao presidente é de apenas 28%.

O vínculo com os evangélicos, cimentado pela pauta conservadora, foi realçado na crise do coronavírus. O presidente editou um decreto para reabrir templos religiosos e, na última semana, evocou a fé para convocar um jejum contra a pandemia.

O pastor Silas Malafaia se alinhou ao presidente para atacar medidas de isolamento social, e o bispo Edir Macedo disse que o coronavírus era inofensivo, uma “tática de Satanás”.

Os números também sugerem que algumas mensagens de Bolsonaro alcançam esse segmento. A aprovação dos evangélicos (53%) ao trabalho dos governadores, criticados pelo presidente, está abaixo da avaliação positiva feita por católicos (62%).

Esse reduto de Bolsonaro, porém, não é impenetrável a todos os seus desatinos: 47% dizem concordar com a afirmação de João Doria de que a população não deve cumprir orientações do presidente. Outros 40% dizem seguir suas recomendações.

Bolsonaro pediu apoio do povo para atropelar medidas de contenção ao coronavírus. Ao aprovar as ações do Ministério da Saúde, a população disse o contrário. Mais uma vez, o presidente vai fingir que não ouviu.

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