segunda-feira, 13 de abril de 2020

Eduardo Giannetti* - ‘É possível que preocupação fiscal volte’

Uma crise dessa magnitude acelera transformações na economia mundial. Mas, colocar em termos de fim do capitalismo, acho exagerado. As coisas precisam ser colocadas em perspectiva. Esse tipo de drama que estamos vivendo, enquanto está acontecendo, adquire proporções maiores do que, em retrospecto, vai ter. É natural. O que acontece é que estávamos em um equilíbrio, estamos passando por uma zona de turbulência e chegaremos a outro equilíbrio. Algumas coisas, no entanto, dá para dizer. Processos que já vinham transcorrendo de maneira lenta foram acelerados. A questão do home office foi acelerada e acho que boa parte disso não volta. A venda pela internet vai ter um impacto relevante permanente.

(Do ponto de vista de políticas), não é muito diferente da reação à crise de 2008. É o mesmo tipo de ação agressiva de políticas monetária e fiscal, tentando reerguer uma economia. A gente está na UTI. As ações cabíveis em situação de UTI são diferentes das de uma situação normal. Depois, o mais provável é que a preocupação com o equilíbrio das finanças públicas volte ao que sempre foi.

Agora, olhando para a economia global, os dois momentos em que o Estado aumenta de tamanho no século 20 coincidem com as guerras mundiais. Havia um consenso durante a guerra de que o Estado tinha de aumentar o gasto como proporção do PIB. Os debates ideológicos tiveram, aí, um papel muito menor na definição do tamanho do Estado.

Um ponto que é importante é que uma crise como a atual escancara a gravidade da desigualdade. Se há uma coisa que nos fragiliza como nação hoje é o fato de termos milhões de brasileiros em situação precária. A desigualdade é um complicador extraordinário em um momento como esse. O Estado brasileiro mal sabe como atingir a população com políticas de sustentação de renda. Espero que o efeito dessa crise seja a formação de um consenso quanto ao imperativo de termos uma sociedade mais equitativa. Essa questão estrutural brasileira pode ganhar uma centralidade depois do coronavírus.

*Economista

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