sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sudeste, Norte e Nordeste devem liderar queda do PIB neste ano

Para consultorias que fazem cenários regionais, economia do Centro-Oeste será a menos atingida pela crise no ano devido ao agronegócio

Por Bruno Villas Bôas e Arícia Martins | Valor Econômico

RIO E SÃO PAULO - Com a abrupta paralisação da atividade desde meados de março devido ao novo coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve recuar em todos os Estados brasileiros em 2020, especialmente no Sudeste e no Nordeste, segundo cálculos da consultoria Tendências. Já a 4E Consultoria projeta que a região Centro-Oeste escape de um PIB negativo em 2020, graças ao desempenho do agronegócio.

No cenário da Tendências, o PIB deve recuar 4,1% neste ano na média nacional. Já a 4E trabalha com redução de 2,3% da economia brasileira em 2020.

Região mais rica do país, o Sudeste deve ver o PIB encolher 4,3% no ano, afetado por setores considerados pró-cíclicos, como o automotivo e o de metalurgia, além da atividade de mineração, calcula a Tendências. O PIB de São Paulo deve ter um dos piores desempenhos do país no ano, com contração de 5,1%.

O economista Lucas Assis explica que, além de serviços e comércio, setores industriais sensíveis à dinâmica econômica devem mostrar retração no Estado. A consultoria cita paralisação de montadoras como Ford, GM, Honda e Volkswagen, além da interrupção de plantas industriais de máquinas e equipamentos da JCB e da John Deere.

Também no Sudeste, as economias de Minas Gerais e do Espírito Santo devem recuar 4,8% e 4,3% neste ano, respectivamente. Os fracos desempenhos são explicados, em parte, pela menor produção de minério de ferro nos Sistemas Sudeste e Sul da Vale, além da redução das operações da metalurgia em fábricas da Gerdau, Usiminas e Arcelor.

Apesar do grande peso da atividade de serviços na economia fluminense, a Tendências acredita que o PIB do Estado do Rio de Janeiro terá, possivelmente, uma queda relativamente amena em 2020, de 2,3%. Por trás do resultado estaria o avanço da produção de petróleo e gás natural.

“A redução das cotações do petróleo está impactando a oferta doméstica, mas o Estado deve contar com o ‘ramp-up’ das plataformas inauguradas na Bacia de Campos, incluindo a P-68, e a entrada em operação de duas novas plataformas neste ano”, diz Assis, admitindo, porém, que o desempenho do PIB do Rio tem viés de revisão para baixo.

Já Luca Klein, analista da 4E, espera que a economia do Sudeste caia 2,2% este ano. “A região representa 60% do PIB nacional. Por isso deve ter desempenho parecido à média”, observa Klein. São Paulo concentra o maior número de casos de covid-19 (16,7 mil, mais de um terço do total do país), mas ao mesmo tempo serviços que continuam ativos, como os financeiros, de comunicação e informação, têm participação relevante na economia paulista, o que ajuda a amenizar a queda do PIB estadual, explica ele.

No entanto, a reação distinta de cada governo para conter o avanço da pandemia deve acentuar as disparidades no desempenho econômico de cada região, avalia Klein.

Camila Saito e Lucas Assis, da Tendências, lembram que todas as unidades da federação decretaram estado de calamidade pública, adotando medidas semelhantes de isolamento social. Em geral, serviços de saúde, supermercados, farmácias e postos de combustíveis ficaram abertos.

Na área industrial, as medidas de restrições adotadas foram diferentes entre os Estados. A maioria não limitou a atuação das fábricas, enquanto Minas Gerais, Piauí, Santa Catarina e Sergipe reduziram o pleno funcionamento. Ceará e Goiás paralisaram os segmentos industriais considerados de “necessidades não imediatas”.

“Apesar de a maioria dos Estados não ter uma restrição oficial, por parte do governo estadual, diversas fábricas decidiram espontaneamente interromper sua produção parcial ou integralmente, especialmente nos setores de veículos, máquinas e equipamentos, metalurgia, bebidas e vestuário”, acrescenta Assis.

Para a Tendências, o Nordeste deve ter o maior recuo do país, com queda de 4,6% do PIB em 2020. A consultoria lembra que a região é dependente do investimento público e da transferência de renda governamental, além de ser impactada pela produção industrial nos setores de transporte e de metalurgia.

Maiores economias nordestinas, Bahia (queda de 4,8%) e Pernambuco (contração de 4,7%) serão destaques negativos no período. Os Estados sofreram com a paralisação no segmento de transporte, como na fábrica da Ford na Bahia e na da Fiat em Pernambuco.

“A região tem elevado grau de informalidade no emprego e seus Estados devem sofrer fortemente os efeitos das paralisações no comércio e serviços, que ocupam mão de obra de menor qualificação. Por outro lado, a região deve ser a principal beneficiada pelo auxílio emergencial do governo”, explica Assis.

Já para Klein, da 4E, a retração econômica em 2020 será mais expressiva no Norte (-4,1%) do que no Nordeste (-3,4%). Isso porque a indústria de transformação, fortemente atingida pela crise, representa 26% do PIB do Amazonas, maior economia da região. Na média do país, esse peso é de 12,4%.

Para a Tendências, nas demais regiões do país, a queda do PIB deve ser menos intensa do que o previsto para a média nacional: Norte (-3,8%), Sul (-3,7%) e Centro-Oeste (-3,1%). Neste último caso, a consultoria espera que o crescimento de 5% do PIB agropecuário compense parte das perdas da paralisação parcial de cadeias produtivas e da demanda das famílias, afetadas pelos receios do coronavírus.

Já Klein, da 4E, prevê que o PIB do Centro-Oeste terá expansão de 0,6% na média anual, impulsionado por avanço de 8,3% da parte agropecuária. “A região tem dinâmica diferente das demais, porque a parte agrícola vai puxar o setor industrial e o de serviços”, avalia ele.

Na região Sul, a economia deve diminuir 3,7% no ano pelas estimativas da Tendências Consultoria, ou 2,8% nos cálculos da 4E Consultores.

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