terça-feira, 19 de maio de 2020

Desistência de Freixo deve beneficiar Paes na eleição para Prefeitura do Rio

Para líderes da esquerda, saída de deputado da corrida pela prefeitura do Rio aumentaria chances do candidato do DEM de chegar ao segundo turno; PT, até então principal aliado do PSOL, já estuda lançar Benedita da Silva

Juliana Castro | O Globo

RIO — A saída do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) da disputa pela prefeitura do Rio embaralhou o ainda indefinido jogo eleitoral e as negociações entre a esquerda em território fluminense. Nos bastidores, há uma avaliação de que, inicialmente, a desistência de Freixo acaba beneficiando o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). O PT, partido que mantinha a negociação mais sólida com o PSOL, agora trabalha para convencer a ex-governadora Benedita da Silva a ser candidata, mas, também por causa da divisão entre os partidos do mesmo campo ideológico, ela ainda resiste à ideia.

Em entrevista ao GLOBO na semana passada, Freixo informou que abriu mão da candidatura à prefeitura do Rio após não ter conseguido unir as siglas de esquerda. Existe uma fissura, com PDT, PSB e Rede de um lado e PT, PCdoB e PSOL de outro nacionalmente, num efeito cascata que vem desaguando nas articulações municipais. O PDT, por exemplo, tem a deputada estadual Martha Rocha como pré-candidata.

— A gente passou a trabalhar agora efetivamente com a candidatura própria e o nome que estamos tentando convencer é o da Benedita — disse Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT e ex-presidente estadual do partido no Rio, afirmando que, apesar da nova empreitada, a sigla não dispensará conversas para um acordo mais amplo com os demais partidos de esquerda.

Segundo turno
Quaquá é um dos que entendem que a saída de Freixo acaba, inicialmente, ajudando Paes. Há uma leitura de que isso facilita a ida a um segundo turno com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que vai tentar a reeleição, um cenário considerado por adversários bom para Paes.

— Acho que, aqui no Rio, a saída de Freixo desarticula o campo de esquerda e abre espaço inicial para o Eduardo, mas, se a esquerda conseguir se unir, acaba ocupando de volta esse espaço — disse.

Sem Freixo na disputa, o PSOL deve decidir por um nome para trabalhar nas negociações. Dentro do partido, havia outras pré-candidaturas mesmo quando o deputado federal se colocava como um dos postulantes.

— A gente considera que é uma perda, é o melhor nome que temos, mas as razões apontadas por ele (Freixo) são legítimas — afirmou o vereador Tarcísio Motta, para quem Paes e também Crivella se beneficiam com a desistência de Freixo: — Seja Paes, com a turma do ex-governador Sérgio Cabral, seja Crivella, os dois grupos se beneficiam com o enfraquecimento da esquerda.

Para o vereador, o PSOL é o partido mais forte das últimas eleições municipais e “é natural” que coloque em jogo um nome para encabeçar uma chapa. Foi com Freixo em 2012, contra Paes, e em 2016, contra Crivella, que a esquerda obteve seus melhores resultados nos pleitos municipais na capital fluminense. O PT chegou ao governo apoiando Paes, inclusive com o cargo de vice-prefeito, com Adilson Pires, mas não era uma aliança de esquerda. Em outras eleições, como em 2008, com Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (na época no PT, hoje no PSB), os resultados foram ruins. Molon concorreu em 2016 pela Rede e obteve apenas 1,43% dos votos válidos.

“Sempre fomos a favor da maior aliança possível, capaz de derrotar o atraso que hoje governa o Rio e o Brasil. Para facilitar essa aliança, o PSB nunca apresentou pré-candidato à prefeitura do Rio e jamais se recusou a dialogar com os partidos comprometidos com a democracia. Se tem um partido que não é obstáculo à construção de alianças em favor do Rio e do Brasil, esse partido é o PSB”, disse Molon em nota, contradizendo o que Freixo disse de que não conseguiu sentar com o PSB para uma reunião.

Há quem veja que outros caciques tenham contribuído para a decisão de Freixo.

— Desconfio que Lula e Rodrigo Maia tenham ajudado nessa decisão avaliando que Freixo perderia um eventual segundo turno — disse a deputada federal Clarissa Garotinho (PROS), pré-candidata à prefeitura do Rio.

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