sexta-feira, 1 de maio de 2020

Nelson Motta - Que terço é esse?

- O Globo

Os que votaram nele por ódio ao PT e à esquerda estão decepcionados

Nada mais assusta ou surpreende nos seus coices na razão e nas suas bombas de merda verbais. Nem seu autoritarismo e sua ganância de poder, de ter controle sobre tudo e não dar satisfações a ninguém, afinal, “o presidente sou eu, eu é que mando, talkey?” Seu principal objetivo é livrar os filhos da lei a qualquer preço.

O que assusta é saber que um terço do país (ainda) o apoia incondicionalmente.

Apesar do bombardeio da mídia, do Congresso e do Judiciário, e dos recentes revezes e desgastes, que fizeram 17% de seus eleitores se arrependerem, 33% do país se mantêm fiéis a ele. São cerca de 50 milhões entre os 150 milhões de eleitores. Uma Espanha.

Mas quem é esse terço no Brasil?

Muita gente muito pobre e muito ignorante junto com gente muito rica e poderosa, por motivos opostos, estão com Bolsonaro. Os evangélicos também, embora não sejam uma massa homogênea; já se ouve gente dizendo “sou evangélico mas não sou burro” e gritando fora Bolsonaro. Os que votaram nele por ódio ao PT e à esquerda estão decepcionados, envergonhados e batendo panelas.

Mas quem são esses 50 milhões que ainda acreditam nele? Não são só os burros, ignorantes, fanáticos, boçais, moralistas, terraplanistas, militaristas, mas também os inteligentes, informados, liberais e bem (ou mal ) intencionados a serviço da elite empresarial e da direita.

Como um terço é oposição radical, sem o terço do centro, Bolsonaro pouco pode fazer, além de atrapalhar. Não basta só comprar o centrão no Congresso, é preciso ganhar o centro da opinião pública, que exclui lulistas e bolsonaristas, por extremos. Os isentões estão deixando de sê-lo para virar oposição. É o centro que vai fazer a diferença.
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“Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás”, disse Bolsonaro.

Digna como a dos 5.500 mortos da gripezinha, né? Sua história vai ser boa para rir e chorar, para debochar, se indignar e se envergonhar por ele e pelo Brasil, se um dia ele morrer.

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