quarta-feira, 6 de maio de 2020

Zuenir Ventura - Os generais e o capitão

- O Globo

Em relação a Hamilton Mourão, um mistério

Foi muito oportuna a nota do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, declarando que as “Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso compromisso”. Não foi uma afirmação gratuita.

Na véspera, o presidente Bolsonaro, cumprindo seu já rotineiro e subversivo programa de fim de semana, participara de mais um ato de ofensas às instituições e de ataques à democracia, incluindo desta vez agressões físicas a jornalistas.

No domingo, em frente ao Palácio do Planalto, como de costume, ele advertia em tom de desafio que chegara ao “limite”, que acabara a “paciência”, que não toleraria mais “interferências”. “Daqui pra frente”, prometia, “não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição” — até porque, pode-se acrescentar, ele já decretou que a Constituição é ele. O mais grave, porém, porque não era verdade, como se vê agora, ele garantia: “Tenho as Forças Armadas ao meu lado”.

Colegas jornalistas já tinham ouvido de militares de altas patentes suas discordâncias em relação aos surtos do capitão. Só que os autores das críticas não permitiam que fossem identificados publicamente.

Em relação ao general Hamilton Mourão, um mistério. Os que o conhecem bem dizem que ele não comunga das heresias do capitão. Assim, já que foi também eleito, não podendo, portanto, ser rebaixado, muito menos demitido, poderia ser mais explícito em suas supostas divergências.

Não se espera que ele diga do capitão o que o general Geisel disse — “um caso fora do normal, um mau militar”— mas que pelo menos faça gestos de discordância como aqueles generais em Porto Alegre que, quando Bolsonaro esticou a mão para cumprimentá-los, responderam oferecendo o cotovelo, como manda o protocolo de combate à Covid-19.

O presidente ficou sem jeito e sem saber onde enfiar a mão.

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Ainda por cima, perder de uma só vez Aldir Blanc e Flávio Migliaccio. É demais. E por que será que a secretária Regina Duarte não lamentou publicamente, em nome da cultura, a dupla perda?

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