quarta-feira, 17 de junho de 2020

Bruno Boghossian - Ao pé da rampa

- Folha de S. Paulo

Inquérito pode expor atuação de Bolsonaro e auxiliares na articulação de ataques e protestos

As investigações sobre o núcleo radical do bolsonarismo chegaram ao pé da rampa do Palácio do Planalto. As buscas autorizadas pelo Supremo contra operadores partidários e a quebra de sigilo de parlamentares governistas expõem os detalhes da máquina política que trabalha a serviço do presidente.

Os alvos principais desses inquéritos nunca foram os blogueiros e personagens pitorescos que disseminam informações falsas e lideram protestos a favor de Jair Bolsonaro. A operação desta terça-feira (16) se aproximou ainda mais de deputados e empresários que fazem a ponte entre os manifestantes e o núcleo de poder do presidente.

Ao anunciar a ação, a Procuradoria-Geral da República esboçou as conexões. "Uma linha de apuração é que os investigados teriam agido articuladamente com agentes públicos que detêm prerrogativa de foro no STF para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional", afirmou o órgão.

A pedido dos procuradores, 11 parlamentares tiveram o sigilo bancário quebrado. Além de integrarem a tropa de choque bolsonarista, alguns deles fazem o meio de campo das relações políticas entre o presidente e os integrantes dessa artilharia. Há menos de um mês, as deputadas Bia Kicis e Carla Zambeli, alvos da operação, levaram uma trupe de "youtubers de direita" para um encontro com Bolsonaro.

Os inquéritos também chegaram aos articuladores da Aliança pelo Brasil —legenda de extrema direita que o presidente tenta fundar desde o ano passado. Entre os alvos, está o empresário Luís Felipe Belmonte, um dos principais financiadores desse plano. A interseção sugere que a rede de fake news e o conflito com outros Poderes seriam alguns dos pilares dessa nova estrutura partidária.

Bolsonaro já endossou o funcionamento dessas engrenagens e se beneficiou delas. As investigações também poderão mostrar até que ponto o presidente e seus auxiliares participaram da articulação dos ataques.

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