terça-feira, 30 de junho de 2020

O conservador Boris Johnson diz que economia pós-pandemia precisa de política intervencionista

Premier afirma que vai se inspirar em Franklin Roosevelt para recuperar o país, cujo PIB deve cair 14% neste ano

O Globo e agências internacionais 

LONDRES — O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse nesta segunda-feira que quer se inspirar no ex-presidente americano Franklin Roosevelt, que nos anos 1930 lançou o New Deal, para recuperar a economia britânica, abalada pela pandemia do novo coronavírus. O premier afirmou que o retorno à austeridade seria um erro.

Boris prometeu dobrar o planos para aumentar o investimento no país e disse que seu governo — que já anunciou gastos emergenciais e medidas tributárias no valor estimado de 133 bilhões de libras — continuará ajudando pessoas e empresas. A estimativa é que, influenciada pela pandemia, a economia britânica tenha uma queda de 14% neste ano

— Este é o momento para um política rooseveltiana no Reino Unido — disse o premier à Times Radio nesta segunda-feira.

O New Deal de Roosevelt foi marcado por uma forte intervenção estatal para regular a economia e incluía uma série de projetos de criação de empregos, ajudando o país a se recuperar da Grande Depressão de 1929. Já o Partido Conservador de Boris, que governa o Reino Unido desde 2010, implantou uma política de cortes de gastos públicos em reação à crise financeira de 2008.

O primeiro-ministro britânico vai anunciar nesta terça um plano de investimentos em infraestrutura de 5 bilhões de libras (R$ 33,25 bilhões).

— Acho que o investimento será recompensado porque é uma economia muito, muito dinâmica e muito produtiva — disse Boris, prometendo uma plataforma que incentivaria as empresas a investir em capital e em treinamento.

Nesta segunda, a agência executiva responsável pela gestão da dívida do governo do Reino Unido disse que planeja vender um recorde de US$ 340 bilhões (equivalente a mais de R$ 1,8 trilhão) em bônus entre abril e agosto para pagar os gastos do combate à pandemia; o valor é mais do que o dobro do vendido em todo o ano financeiro anterior.

Na mesma entrevista à Times Radio, o primeiro-ministro do Reino Unido disse que a pandemia do novo coronavírus foi um 'desastre' para o país e afirmou que, embora o governo esteja analisando o que deu errado no combate ao vírus, não é o momento de apontar erros.

— Foi um desastre — disse Boris à Times Radio. — Não vamos medir nossas palavras, quero dizer que este foi um pesadelo absoluto para o país, que passou por um choque profundo.

Boris, que chegou a ser internado em terapia intensiva depois de diagnosticado com a Covid-19, disse que o governo deve analisar o que fez de errado na estratégia do combate à pandemia. Ele, porém, afirmou que ainda não chegou o momento para fazer essa crítica.

— Eu entendo perfeitamente isso e será o que faremos. Mas acho que agora não é o momento para isso. Quando todo mundo está a pleno vapor, não acho que seja o momento para consagrar uma quantidade enorme de tempo para isso. Mas estamos aprendendo o tempo todo — disse Boris.

Questionado sobre seu conselheiro sênior e guru do governo Dominic Cummings, Boris respondeu apenas que "Dom é excelente". Considerado o cérebro da campanha pelo Brexit no referendo de 2016, Cummings foi incorporado ao Gabinete de Boris e recentemente provocou um escândalo ao violar as regras da quarentena para viajar com a família para fora de Londres.

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