terça-feira, 2 de junho de 2020

Ricardo Noblat - Quem paga a conta da campanha de Bolsonaro à reeleição

- Blog do Noblat | Veja

Ministro da Defesa ateia fogo à própria farda

E no final de outubro de 2022, se resistir até lá na presidência, e caso tenha sido candidato outra vez e reeleito no segundo turno, Jair Bolsonaro dirá que a sua campanha foi a mais barata de todas. Disse a mesma coisa ao se eleger presidente pela primeira vez.

Também pudera se disser. Nem Fernando Henrique Cardoso, nem Lula que o sucedeu, nem Dilma Rousseff se comportaram como candidatos à reeleição desde o primeiro dia em que puseram os pés no Palácio do Planalto. Só Bolsonaro, e ostensivamente.

Ele se recusa a descer do palanque desde que levou a facada em Juiz de Fora. Recuperou-se da facada em cima de um palanque virtual. Por falta de preparo e de gosto para as atividades do cargo, não governa. É candidato a não governar pela segunda vez.

Como tal, usa todo o aparelho estatal ao seu alcance para realizar o único objetivo que de fato o atrai. E ao fazê-lo, abusa do poder que lhe foi concedido. Quem paga a conta? Quem paga literalmente a conta? Os contribuintes que pagam impostos.

Quanto custa aos cofres públicos cada saída de Bolsonaro para tomar cafezinho e confraternizar com devotos nos arredores de Brasília? Cada saída mobiliza um grande contingente de seguranças, de carros e de outros equipamentos visíveis e ocultos.

No último domingo, para vencer os quatro quilômetros que separam os palácios da Alvorada e do Planalto, dois helicópteros da Força Aérea Brasileira foram postos à sua disposição. Ele dispensou o primeiro porque era completamente fechado. Quem o notaria?

Providenciou-se o segundo, com uma saída lateral que poderia ser escancarada, como foi, para que ele, do alto, pudesse ser visto e acenar para algumas centenas de bolsonaristas reunidos na Esplanada dos Ministérios. O Messias que vem do céu!

Uma vez na terra, depois de 20 minutos de cumprimentos aos manifestantes que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e uma nova intervenção militar no país, montou em um cavalo da Polícia Militar e cavalgou para ser filmado. Quase perdeu as rédeas do animal.

Quanto custou tudo isso? A despesa será debitada no cartão de crédito da presidência da República, mas jamais será conhecida. São despesas consideradas secretas. Se reveladas, poderiam pôr em risco a segurança do presidente. É isso o que dizem os áulicos.

Ao seu lado no helicóptero estava o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa. Não seria relevante monetizar o custo do passeio do general. Sua presença em um ato de apoio ao presidente candidato implica em custo político – e esse simplesmente não tem preço.

Está nos manuais: compete ao ministro da Defesa exercer a direção superior das Forças Armadas. Exército, Marinha e Aeronáutica tem seus comandantes. Mas eles se reportam ao general Azedo e Silva que, por sua vez, se reporta ao presidente da República.

Quantas vezes Bolsonaro já não proclamou que as Forças Armadas o apoiam? Ao exibir-se com o ministro que as dirige, em manifestação de cunho político e eleitoral, ele passa a mensagem de que conta com o apoio dos militares para governar e se reeleger.

Correu a informação de que Azevedo e Silva pegara carona no helicóptero de Bolsonaro para ir para casa. Como a desculpa soou absurda, o Ministério da Defesa informou que o general aproveitou o sobrevoo para observar as condições de segurança da Esplanada.

O Poder e a Mentira são indissociáveis. Especialmente neste governo onde um presidente tosco é flagrado mentindo toscamente quase todo dia. No passado, Bolsonaro emporcalhou a farda de soldado. Hoje, emporcalha a farda dos generais que se deixam emporcalhar.

Azevedo e Silva foi obrigado por seus companheiros de organização a emitir nos últimos 40 dias três notas oficiais para explicar o que fez ou o que deixou de fazer, o que disse ou o que quis dizer. Não será surpresa se mais uma nota vier por aí.

Cadeia para Sara Winter, a militante neonazista

Justiça fecha os olhos

O que falta fazer ou dizer para ser presa Sara Winter, a bolsonarista neonazista financiada ainda não se sabe por quem, protegida é de se imaginar por quem, que ameaça a vida de ministros do Supremo Tribunal Federal, marcha carregando tochas acesas sobre o prédio do tribunal e, intimada a depor, se recusa a ir?

Na última sexta-feira, a Procuradoria-Geral da República pediu sua prisão preventiva ao Ministério Público Federal em Brasília. O procurador Frederick Lustosa de Melo ainda não deu andamento ao pedido. Winter deverá depor esta tarde na Polícia Federal. Em vídeo postado, ontem, nas redes sociais, avisou que não irá.

Ela está na lista de alvos do inquérito das fake news presidido pelo ministro Alexandre de Moraes. Na semana passada, agentes federais foram à sua casa, em Brasília, atrás de documentos, celulares e computadores. A ativista reagiu por meio de um vídeo onde afirmou:

– Me aguarde, sr. Alexandre de Moraes. Nunca mais vai ter paz na sua vida. Descobrir os lugares que o senhor frequenta. Vamos infernizar sua vida, até o senhor pedir para sair. Hoje o senhor tomou a pior decisão da sua vida.

Sara lidera um grupo de homens armados que montou um acampamento na Esplanada dos Ministérios. Por duas vezes, o Ministério Público do Distrito Federal pediu o fim do acampamento. Por duas vezes, a Justiça do Distrito Federal negou, alegando que o caso deve ser analisado pela Justiça criminal.

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