domingo, 19 de julho de 2020

Opinião do dia – Henri Lefebvre* ( O conhecimento)

"Quais são as características mais gerais do conhecimento enquanto fato?

a) Em primeiro lugar, o conhecimento é prático. Antes de elevar-se ao nível teórico, todo conhecimento começa pela experiência, pela prática. Tão-somente a prática nos põe em contato com as realidades objetivas. Imaginemos um ser que tivesse uma consciência semelhante à consciência humana, mas que fosse – se é possível imaginá-lo - inteiramente passivo, sem atividade prática, sem poder sobre as coisas através de seus membros e de suas mãos; em tal ser, as próprias impressões se desenvolveriam como uma espécie de sonho; ele nem sequer imaginaria o que pode ser um conhecimento que penetra nas coisas e investiga o que elas são em si mesma.

b) Em segundo lugar, o conhecimento humano é social. Na vida social, descobrimos outros seres semelhantes a nós; ele agem sobre nós, nós agimos sobre eles e com eles. Estabelecendo com eles relações cada vez ricas e complexas, desenvolvemos nossa vida individual; conhecemos tanto eles com tanto nõs mesmo. Além disso, esses outros seres humanos nos transitem – pelo exemplo ou pelo ensino – um imenso saber já adquirido.

c) Finalmente, o conhecimento humano tem um caráter histórico. Todo conhecimento foi adquirido e conquistado. Há que partir da ignorância, seguir um longo e difícil caminho, antes de chegar ao conhecimento. O que é verdadeiro para o individuo é igualmente verdadeiro para a humanidade inteira: o imenso labor do pensamento humano consiste num esforço secular para passar da ignorância ao conhecimento. A verdade não está feita previamente; não é revelada integralmente num momento predestinado. Na ciência, tal como no esporte, por exemplo, todo novo resultado supõe um longo treinamento; e todo novo desempenho, todo melhoramento de resultados, são obtidos de modo metódico."

*Henri Lefebvre (1901-1991), filósofo e sociólogo francês. Estudou filosofia na Universidade de Paris, onde se graduou em 1920. ‘Lógica formal /Lógica dialética”, p. 49-50. - Editora Civilização Brasileira, 1975

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