quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Eleição no Rio: Impasse entre PSL e Paes abre espaço para partidos em chapa do ex-prefeito

Cidadania, PSDB e PL se credenciam a posto de vice. Doria decide posição tucana nesta quinta em reunião com pré-candidato Paulo Marinho


Bernardo Mello -| O Globo


RIO - Enquanto o diálogo para ter um vice PSL enfrenta um impasse, já que o partido passou a apostar em nova candidatura própria, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), pré-candidato no Rio, recebeu na quarta-feira o apoio do deputado federal e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (Cidadania) nesta eleição municipal. Calero, que anunciou a retirada de seu nome da disputa à prefeitura, negou que haja um acordo para ele mesmo ser o vice e afirmou que tentará ajudar Paes a atrair mais legendas para sua coligação.

A indefinição sobre a composição com o PSL abre espaço para outros partidos pleitearem uma vaga na chapa de Paes. Ao anunciar a retirada da candidatura, Calero afirmou ter aceitado um convite feito por Paes, na segunda-feira, para formar uma "convergência bastante sólida no sentido de derrotar" o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição.

— Ser vice não é o que está em jogo neste momento. Nossa intenção é sinalizar a outras forças políticas para a necessidade, a despeito de projetos pessoais, de uma convergência eleitoral que faltou nas eleições municipais de 2016 — disse Calero.

Paes espera atrair também o apoio do PSDB, cujo pré-candidato, Paulo Marinho, se reúne nesta quinta-feira com o governador de São Paulo, João Doria, para definir o rumo do partido na eleição do Rio. O pré-candidato do DEM conversa ainda com o PL, que deve desistir de lançar Cabo Daciolo como candidato.

Paes, Marinho e Calero mantêm diálogo desde o ano passado, quando fizeram os primeiros movimentos para esta eleição municipal. Paes também entabulou conversas em busca de um apoio do PSL, visto com bons olhos pela cúpula nacional do partido e também por apoiadores da pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), cotado como vice nesta composição. Mas o ex-prefeito, que também quer contar com o voto de parcelas do eleitorado de esquerda, hesita em aceitar um nome do partido pelo qual Bolsonaro se elegeu.

Em meio à desidratação na campanha de Amorim, que foi desautorizado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), hoje apoiador de Crivella, a usar sua imagem na campanha deste ano, o PSL passou a considerar a candidatura de última hora do deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ). Lima, que também chegou a ser cotado para a chapa de Crivella, avisou ao partido que não deseja concorrer como vice.

Convergência do centro
Paulo Marinho tem afirmado que mantém sua pré-candidatura no PSDB, mas também tem se mostrado aberto nos bastidores a uma composição com Paes. O discurso de Marinho, que assumiu a chapa tucana no Rio após a morte do então pré-candidato Gustavo Bebianno em fevereiro, é de que forças políticas mais ao centro precisam se unir para evitar uma eventual disputa entre Crivella e um representante da esquerda no segundo turno. A convergência, no entanto, dificilmente será completa, já que outros candidatos de centro, como Clarissa Garotinho (PROS) e Paulo Messina (MDB), são críticos ferrenhos a Paes.

Em entrevista coletiva na quarta, Marcelo Calero citou afinidade com integrantes de partidos como Rede, PSD e Novo, ressaltando que não necessariamente todos vão fazer parte da mesma chapa nesta eleição municipal.

O ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, pré-candidato pela Rede, formou um bloco com PDT e PSB que definirá, na próxima semana, um cabeça de chapa entre ele e a deputada estadual Martha Rocha (PDT). Integrantes da Rede tentaram atrair Calero para o bloco há alguns meses, mas as conversas nunca evoluíram. Bandeira, que ainda alimenta o desejo de ser candidato no bloco de centro-esquerda, não manteve diálogo com Paes.

PSD e Novo mantêm, respectivamente, as pré-candidaturas do deputado federal Hugo Leal e de Fred Luz, outro ex-dirigente do Flamengo.

Embora tenha sinalizado que prefere manter o mandato de deputado federal a ser vice, Calero só descartou mesmo nesta quarta a possibilidade de assumir uma secretaria numa eventual gestão de Paes. Para o deputado, a escolha do vice cabe apenas ao pré-candidato do DEM, que leva em conta "aspectos políticos".

Segundo Calero, Paes o convidou a escrever um capítulo em seu programa de governo sobre "integridade e governança". O deputado tornou-se conhecido nacionalmente ao denunciar, quando ministro da Cultura, pressões exercidas pelo então ministro da Secretaria do Governo de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, condenado depois pela Lava-Jato. A bandeira anticorrupção já foi usada por adversários para atingir Paes na campanha ao governo do estado de 2018, devido à sua relação política com o ex-governador Sergio Cabral (MDB), condenado a 294 anos de prisão.

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