terça-feira, 11 de agosto de 2020

Ivan Alves Filho* - Breve comentário sobre o quadro político

A sagacidade de Jair Bolsonaro nem sempre é reconhecida pela oposição. Um equívoco grave, a meu juízo. O homem é um animal político, ainda que truculento. 

Pois o Capitão sabe se reinventar, a partir de uma leitura aguçada da conjuntura. A notícia dada pelo site O Antagonista de que ele estaria trabalhando com a possibilidade de a atual Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, compor uma chapa com ele em 2022 é mais um elemento que comprova isso.

Mulher, representante do agronegócio - o setor hoje mais dinâmico da economia brasileira -, originária do Mato Grosso do Sul e filiada ao DEM. As credenciais se encaixam como uma luva nos projetos do Capitão: Tereza Cristina vai disputar no terreno de Luiz Henrique Mandetta, ele próprio membro do DEM e ex-deputado federal com votação em Campo Grande. 

De outra parte, há um evidente movimento de bastidores que pode desembocar na absolvição de Lula. O alvo aqui seria duplo: atingiria Sergio Moro e, de quebra, recolocaria Lula da Silva como adversário de Bolsonaro dentro de dois anos. Ou seja, escolheria seu oponente. 

Jogada extremamente sagaz, sem dúvida. Como se contrapor a tudo isso? A única saída que antevejo seria unir o Campo Democrático, equidistante tanto do populismo de direita quanto do populismo dito de esquerda. Um primeiro passo poderia ser uma união semelhante àquela que se verificou em torno de Eduardo Campos, em 2014. Mesmo assim, será preciso avançar um pouco mais e negociar - desde o primeiro turno, de preferência - com os setores mais conservadores do Campo Democrático. Entre os partidos progressistas, teríamos o PSB, o Cidadania 23, a Rede, o PV. Eu não descartaria partes do PDT, do PSDB e do PCdoB tampouco. Personalidades? Vamos lá: Flávio Dino, Luciano Huck, Denise Frossard, Joaquim Barbosa, Marina Silva. Pelo lado mais conservador do Campo Democrático, teríamos figuras como Rodrigo Maia e Luiz Henrique Mandetta. Novos nomes seriam sempre bem-vindos.  

A ideia é montar uma Frente Ampla que não se limite a atuar quando o fascismo ronda. 

Uma Frente Ampla para governar de fato, com um programa econômico e social que possa abrigar as mais diferentes sensibilidades políticas do Campo Democrático, dos conservadores aos progressistas. Hoje o embate se dá entre a Civilização e a Barbárie. Quem encarnou isso em um passado recente entre nós foi o Presidente Itamar Franco. 

*Ivan Alves Filho, historiador, autor de mais de uma dezena de obras, das quais a última é A saída pela Democracia

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