sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Parte do PSDB “namora” o presidente, diz FHC

Para o ex-presidente, atual chefe de Estado é forte politicamente, sabe se comunicar com a população e que tem chances reais de se reeleger em 2022

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que um dos maiores problemas do PSDB para fazer oposição ao governo Jair Bolsonaro é que parte do partido “namora” o presidente. FHC disse que Bolsonaro é forte politicamente, sabe se comunicar com a população e que tem chances reais de se reeleger em 2022.

Fernando Henrique cobrou mudanças na forma de lideranças do partido se comunicarem com a população e defendeu a escolha de um nome tucano para liderar a oposição a Bolsonaro, com vistas à próxima eleição presidencial.

“Há um pressuposto que pode levar ao autoritarismo em nome da salvação nacional, de um projeto grandioso, em nome do bem-estar da maioria. Temos que fazer isso de forma democrática, antes que façam de forma não democrática. Há esse risco. Há risco real de que isso aconteça no Brasil. Bolsonaro é um sintoma disso aí”, disse FHC.

“[O presidente] É candidato. Bolsonaro pode ganhar a eleição de novo, dependendo da forma como atuemos. Se ficarmos só com as nossas ideias e só entre nós, ele ganha”, afirmou o ex-presidente, ao participar de um debate sobre “Brasil e o mundo pós pandemia”, promovido pelo PSDB e pelo Instituto Teotônio Vilela, do partido.

O ex-presidente afirmou que Bolsonaro sabe falar com o “homem comum”, explora o discurso da defesa da ordem, que é um desejo da população, e tem o domínio das redes sociais. “Ele [Bolsonaro] chegou lá porque ele é o homem comum. Ele estoura, fala bobagem de uma maneira rude. Isso toca a pessoas, que são a maioria, que é parecida com esse estilo”, disse o tucano. Para FHC, a população está com “raiva” dos políticos e isso abre espaço para a demagogia e o populismo de direita, que tende ao autoritarismo.

Fernando Henrique disse que o PSDB precisa ter identidade e construir um discurso de oposição ao governo. “Temos que ver como ser contra Bolsonaro”, disse. “Temos que ter uma posição. Isso depende de muito de quem vai falar em nosso nome. É fundamental. Quem vai falar e o que vai falar. Um problema é que parte do PSDB namora o Bolsonaro. Temos que falar em nome do interesse do Brasil contra o Bolsonaro. O enigma político é esse. Temos que unificar nossa linguagem nessa direção.”

Ao falar com lideranças nacionais do PSDB, FHC disse que o partido precisa de “pessoas que guiem e deem o caminho”. “Precisa de pontos de referência. A escolha de quem vai ser candidato é sempre importante. Quem fala orienta os demais”, afirmou, sem defender um nome para a eleição presidencial de 2022. O tucano disse ainda que o PSDB precisa “expressar o sentimento que não seja da classe dominante”. “Não precisa de muitas ideias, precisamos de pessoas capazes de simbolizar essas ideias. Ver quem é que tem essa capacidade”, afirmou. “Temos que unificar nosso discurso e ter consciência de que sozinhos não vamos chegar lá. O homem [Bolsonaro] é forte.”

Durante o debate, o senador Tasso Jereissati (CE) reforçou que o partido perdeu sua identidade. “Agora não somos nada porque não somos nem uma coisa nem outra. Dentro de nossos quadros existe uma salada de frutas muito grande. Uma mistura de muita gente completamente diferente e que não tem absolutamente nada a ver com nossos princípios”, disse. “Precisamos começar tudo de novo, se é que queremos sobreviver.”

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