segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Poesia | Ascenso Ferreira - História Pátria

Plantando mandioca, plantando feijão,

colhendo café, borracha, cacau,

comendo pamonha, canjica, mingau,

rezando de tarde nossa ave-maria,

           Negramente…

                  Caboclamente…

                         Portuguesamente…

A gente vivia.

 

De festas no ano só quatro é que havia:

Entrudo e Natal, Quaresma e Sanjoão!

Mas tudo emendava num só carrilhão!

E a gente vadiava, dançava e comia…

          Negramente…

                 Caboclamente…

                           Portuguesamente…

Todo santo dia!

 

O Rei, entretanto, não era da terra!

E gente pra Europa mandou-se estudar…

Gentinha idiota que trouxe a mania

de nos transformar

da noite pro dia…

 

A gente que tão

           Negramente…

                  Caboclamente…

                         Portuguesamente…

Vivia!

 

(E foi um dia a nossa civilização

tão fácil de criar!)

 

Passou-se a pensar,

passou-se a cantar,

passou-se a dançar,

passou-se a comer,

passou-se a vestir,

passou-se a viver,

passou-se a sentir,

tal como Paris

pensava,

cantava,

comia,

sentia…

A gente que tão

                      Negramente…

                              Caboclamente…

                                     Portuguesamente…

Vivia!

 

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