quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Poesia | Fernando Pessoa – Meus amigos

Meus amigos são todos assim:

metade loucura, outra metade

santidade. Escolho-os não pela

pele, mas pela pupila, que tem que ter

brilho questionador e tonalidade

inquietante. Escolho meus amigos

pela cara lavada e pela alma

exposta. Não quero só o ombro ou

o colo, quero também sua maior

alegria. Amigo que não ri junto, não

sabe sofrer junto. Meus amigos são

todos assim: metade bobeira,

metade seriedade. Não quero risos

previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que

fazem da realidade sua fonte de

aprendizagem, mas lutam para que

a fantasia não desapareça. Não

quero amigos adultos, nem chatos.

Quero-os metade infância e outra

metade velhice. Crianças, para que

 não esqueçam o valor do vento

no rosto, e velhos, para que nunca

tenham pressa. Tenho amigos para

saber quem eu sou, pois vendo-os

loucos e santos, bobos e sérios,

crianças e velhos, nunca me

esquecerei de que a normalidade é

uma ilusão imbecil e estéril.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Este poema não é do Oscar Wilde? Ele é declamado pelo Abujamra como sendo do Oscar Wilde neste link: https://www.facebook.com/watch/?v=4594786197201949
    E me parece muito pouco Fernando Pessoa...

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