sábado, 14 de novembro de 2020

Ascânio Seleme - Hora de eleger seu vereador

- O Globo

Tão importantes quanto o prefeito, os vereadores serão decisivos para o futuro da sua cidade.

Tão importantes quanto o prefeito, os vereadores serão decisivos para o futuro da sua cidade. Eles são os legisladores municipais, redigem e aprovam as leis que podem transformar comunidades, para melhor ou para pior. São os fiscais políticos da ação governamental do prefeito. Os vereadores são o ponto que mais aproxima o cidadão de quem vai dirigir a sua cidade.

Amanhã, o eleitor terá sua primeira e única chance de votar e eleger um representante seu na Câmara Municipal. Para prefeito, ainda haverá outra oportunidade no segundo turno de modo a se corrigir eventuais erros. Para vereador só há um dia, amanhã.

Cidadão honesto não vota em bandido. Portanto, os primeiros candidatos a serem descartados são os milicianos, os traficantes, os corruptos. Eles estão por todas as partes, espalham-se por vários partidos. Milicianos e traficantes se elegem sempre pela força do seu poder coercitivo nas comunidades mais vulneráveis. Corruptos ganham a vaga mentindo e comprando votos. O eleitor que negar o seu voto a eles estará ajudando a derrotá-los.

Além de riscar esses candidatos, é importante também conhecer melhor os que merecem ser votados. São muitos. Há candidatos bons em quase todos os partidos, com orientações políticas distintas, mas que por igual prezam o bem comum. Não será difícil escolher o que pareça mais preparado para percorrer o caminho que o eleitor gostaria de ele próprio seguir.

Há diversas maneiras para se conhecer os candidatos, e conhecê-los é parte da atividade cidadã que deve ser cumprida antes de se dirigir à urna. Como resta apenas um dia, pesquisar na internet ajuda. Aplicativos de jornais, como os do GLOBO que foram colocados no ar esta semana, auxiliam o eleitor a encontrar o candidato que mais se aproxime do seu perfil político.

Outras ferramentas muito boas estão disponíveis on-line, mesmo nas plataformas digitais dos tribunais eleitorais. O Twitter do TRE-RJ, por exemplo, dispõe de inúmeras informações e dicas importantes para o eleitor. Não custa parar uma hora hoje para ler o que for possível sobre a eleição, para tirar dúvidas e não errar amanhã. Para não virar instrumento de manipuladores políticos.

Segundo o Ibope, 60% dos cariocas não escolheram ainda seus candidatos a vereador. No resto do país os números não são muito diferentes. Ao contrário do candidato a prefeito, o eleitor costuma deixar para a última hora a escolha do seu vereador. Algumas vezes, só decide no caminho para a seção eleitoral. Por isso, a recomendação é que ele tente votar diferente este ano.

O eleitor pode fazer um teste rápido para saber se escolheu certo na última eleição, tentando lembrar o nome do candidato a vereador em quem votou. É quase certo que ele vai se recordar do candidato que sufragou para prefeito, mas se não se lembrar quem foi o seu vereador, pode ter votado errado. É importante saber em quem votou até para cobrar do eleito atitude compatível com suas propostas.

A memória, aliás, pode ser uma boa aliada do eleitor. Como todo mundo, candidatos também têm passado. Não atrapalha dar um “Google” no nome do potencial escolhido. Pesquisar o nome do candidato pode fazer qualquer dúvida desaparecer rapidamente. Para melhor refinar a pesquisa, o eleitor pode optar ainda pela barrinha de “notícias” disponível nos sites de busca. Daí ninguém escapa.

Escolher bem o vereador ajuda o seu prefeito a governar melhor.

EUA divididos

Os Estados Unidos estão divididos desde 4 de março de 1861, quando Abraham Lincoln foi eleito e se tornou o primeiro presidente republicano. Quase todas as eleições presidenciais nos EUA são apertadas. No ano 2000, George W. Bush ganhou de Al Gore por ter 500 votos populares a mais na Flórida, levando o decisivo colégio eleitoral do estado. Em 2016, Hillary Clinton ganhou de Trump em votos populares e perdeu no colégio. Além de Biden (50,8%) e Trump (47,4%), outros 1.216 candidatos concorreram na eleição presidencial americana e juntos tiveram 1,8% dos votos. Trata-se ou não de um país politicamente dividido ao meio? O que difere estes dias dos anteriores é que agora um louco desvairado ocupa a Casa Branca, de onde só deverá sair escoltado.

Acabou a confiança

Horas antes de a Anvisa suspender os testes do Coronavac, se deixando instrumentalizar na guerra política de Bolsonaro contra Doria, o governador de São Paulo elogiava o presidente da agência diante de um grupo de jornalistas. Disse que o almirante Antônio Barra Torres era um homem que até aquele momento lhe transmitia confiança.

De joelhos

O Senado provará que está mesmo subordinado a Bolsonaro se aprovar a indicação do tenente-coronel Jorge Kroman para uma vaga na Anvisa. O militar entende zero de saúde e de agências reguladoras.

Wood e safra

No seu livro autobiográfico “A propósito de nada”, lançado em maio nos Estados Unidos e na Europa, Woody Allen ataca frontalmente o bilionário brasileiro Jacqui (Jacob) Ely Safra, a quem acusa de tê-lo roubado. Safra, que era amigo do peito de Allen, produziu oito filmes do diretor. Em três deles o bilionário dividiu lucros com o cineasta. Dos outros cinco, Woody Allen não recebeu nada além da remuneração pela direção. Jacqui Safra disse que eles deram prejuízos. Allen discordou e processou o amigo de mais de 30 anos, a quem cobra US$ 15 milhões (R$ 82,8 milhões).

Jabuticaba chinesa

Melhor não abrir guerra contra a China. O Brasil não tem pólvora para tanto. A coisa por lá anda com tamanha desenvoltura que é bom respeitar. O embaixador Frederico Meyer, cônsul geral do Brasil na província de Guangzhou, recebeu um presente inusitado da delegação da cidade de Foshan que o visitou outro dia: um pé de jabuticaba plantado num grande vaso e já com alguns frutos em seu tronco. Em 2017, o colunista Lauro Jardim noticiou que a China importara do Brasil dez jabuticabeiras maduras. A de Meyer deve ser filhota de uma destas.

Fantasma distante

A demissão do secretário de Defesa dos Estados Unidos pelo presidente Trump acendeu a luz amarela nos bastidores da política americana. Mas não passou disso. Grave seria se ocorresse no Brasil. Imagine se em outubro de 2022, derrotado nas urnas mas se agarrando na cadeira como uma ostra, Bolsonaro trocasse o comandante do Exército, general Edson Pujol. Seria grave, sobretudo se meses antes o general tivesse se recusado a usar tropas para conter manifestações públicas que desagradaram o presidente. Mas o discurso de ontem de Pujol, separando categoricamente as Forças Armadas do governo (“não mudamos a cada quatro anos nossa maneira de pensar”), afastou o fantasma.

Antipolítica

Há quem já enxergue o fundo do poço diante das sucessivas crises criadas por Jair Bolsonaro, suas mentiras acumuladas, suas fanfarronices, o uso privado que faz de instrumentos do Estado brasileiro. Alguns afirmam que é o fim da política. Trata-se de um evidente exagero. O país vai sobreviver a mais um presidente aloprado. Já superou sucessivas crises, como o impeachment de Collor e o escândalo dos anões do orçamento que ocorreu um ano depois. Passou também pelo impeachment de Dilma e o subsequente caso Temer/JBS, que quase deu em novo afastamento. O Brasil seguirá depois de terminado este governo desencontrado.

Mourão 2021

Tem gente esperando apenas o ano (e a pandemia) acabar para começar a se aproximar do gabinete do vice-presidente Hamilton Mourão. Com o afastamento cada vez mais explícito de Mourão do entorno de Bolsonaro, já é possível, de acordo com parlamentares que sabem muito bem como a banda toca, atraí-lo para um ano novo cheio de novidades. Por sorte, Mourão é “indemissível”. Se não fosse, seria ex-vice antes mesmo de Santos Cruz virar ex-ministro.

Joice não

Em São Paulo, a enorme rejeição (30%) de Joice Hasselmann constatada nas pesquisas de intenção de voto explica-se assim: proximidade de Bolsonaro e afastamento de Bolsonaro. Recomenda-se esperar até amanhã, mas ao que parece, nestas eleições perdem tanto os que um dia se alinharam ao capitão quanto os que dele estiveram próximos e depois tomaram distância.

Falso político

Como você designaria aquele político que você vê em todas as eleições? Um dia ele se candidata a governador e perde. Dois anos depois, se candidata a prefeito. Perde outra vez e volta a concorrer a governador, e mais adiante a prefeito de novo. E eventualmente concorre a deputado e vereador para ter um mandato e seguir apostando. O eterno candidato não tem objetivos políticos, mas apenas eleitorais. Quer um cargo executivo, não importa qual.

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