sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Bernardo Mello Franco - Um sem-teto no Planalto

- O Globo

Jair Bolsonaro não gosta dos sem-teto, mas poderia pedir uma carteirinha ao movimento. Na semana passada, o presidente completou um ano sem estar filiado a nenhum partido. Virou um desabrigado político com gabinete no Planalto.

O capitão deixou o PSL em novembro de 2019. A razão não foi ideológica. Ele perdeu a disputa com o dono da sigla, Luciano Bivar, pela chave do cofre. Só neste ano, a legenda recebeu R$ 199 milhões do fundo eleitoral.

A tentativa de criar um partido do zero tem sido um fiasco. Depois de receber 57 milhões de votos, o presidente é incapaz de coletar 492 mil assinaturas para registrar o Aliança pelo Brasil. Até aqui, ele só conseguiu validar 42 mil adesões. Isso equivale a 8% do total exigido por lei.

O fracasso da operação reflete a paralisia administrativa do governo. O bolsonarismo produz muito calor e pouca energia. Sabe criar polêmicas e agitar as redes, mas não tira quase nada do papel.

À desorganização, soma-se a vocação da turma para se perder em brigas internas. O secretário-geral da sigla, Admar Gonzaga, rompeu com a tesoureira, Karina Kufa. O marqueteiro Sergio Lima acaba de pular do barco.

Na segunda-feira, Bolsonaro admitiu a hipótese de desistir do Aliança e buscar uma “nova opção”. Isso significaria voltar ao PSL ou migrar para alguma legenda do centrão. Não será uma tarefa fácil.

O capitão exige mandar em tudo, da lista de candidatos à distribuição do dinheiro público. “É ele que tem de escolher quem entra, quem sai, quem disputa as eleições”, resumiu a deputada Carla Zambelli.

Ontem o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, deixou claro que Bolsonaro não é bem-vindo a bordo. O deputado esclareceu que o Zero Um e o Zero Dois estão na sigla “de passagem”. Terão que se mudar assim que o pai encontrar um abrigo.

Depois de ser driblado no PSL de Bivar, o capitão deve pensar duas vezes antes de se filiar a partidos de profissionais, como o PTB de Roberto Jefferson ou o PP de Ciro Nogueira. Outra alternativa seria o nanico Patriotas. A legenda já tem histórico com aventureiros: em 2018, lançou Cabo Daciolo ao Planalto.

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