Somos,
sim, covardes e medrosos, porque ainda não iniciamos o processo de impeachment
Hoje
vou concordar com Bolsonaro. Peço antecipadamente desculpas pelo nível da
linguagem, mas somos, sim, um país de maricas,
no sentido de medrosos, covardes, poltrões. Somos tudo isso porque ainda não
iniciamos um processo de impeachment contra o presidente, apesar do
impressionante número de crimes de responsabilidade (e comuns) que ele acumula.
No
último dia 10, uma terça-feira especialmente gorda, ele conseguiu,
num intervalo de poucas horas, aniquilar a dignidade do cargo, colocar em
perigo a saúde pública e ainda ameaçar ir à guerra contra
os Estados Unidos, a potência militar hegemônica do planeta que nos
derrotaria de olhos fechados. Os otimistas podem regozijar-se com o fato de
que, desta vez, ele pelo menos não atacou o Legislativo nem o Judiciário, como
fazia semanalmente até pouco tempo atrás.
Estou
ciente de que, hoje, politicamente, seria quase impossível aprovar o
afastamento do presidente. Desde que ele se aliou ao centrão (traindo, aliás,
uma de suas promessas de campanha), tornou-se inviável obter os 2/3 de votos na
Câmara e no Senado necessários para destituir o presidente. Mas eu não estou
reclamando do fato de não aprovarmos o impeachment, e sim do de não o
iniciarmos, para o que bastaria uma canetada do presidente da Câmara, Rodrigo
Maia.
Como
venho sustentando desde maio, temos, como sociedade, o dever moral de reagir
aos descalabros presidenciais. Minha preocupação nem é com o aqui e o agora.
Dentro de uns 10 ou 15 séculos, quando historiadores forem estudar o Brasil do início do século 21, encontrarão registro dos ditos e feitos de Bolsonaro. Se não acharem também evidências de uma reação institucional a eles, parecerá aos arqueólogos do futuro que a sociedade como um todo coonestou as atitudes do presidente, o que simplesmente não é verdade. É preciso deixar marcas de que nem todos perderam a sanidade e o senso de decência nestes tempos conturbados.
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