sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Ricardo Noblat - Trump despede-se reafirmando seu desprezo pela democracia

- Blog do Noblat | Veja

Biden avança e poderá ser eleito hoje

Nada pior para a democracia do que o eleitor concluir que seu voto não vale nada. Se não vale, por quê coonestar uma farsa? A mais recente contribuição do presidente Donald Trump para enfraquecer a democracia em seu país foi seu triste e melancólico discurso feito ontem no início da noite.

Pouco antes, Joe Biden, o candidato Democrata que poderá ser eleito nas próximas horas, pedira calma aos americanos impacientes com a demora na apuração dos votos. Sua fala foi curta. Mas nela houve espaço para que Biden dissesse que “ninguém vai nos tirar nossa democracia, nem agora nem nunca”.

Em contraste com o pronunciamento de estadista de Biden, Trump escandalizou o mundo ao apontar fraude na eleição que estava preste a perder. O presidente afirmou que a eleição está sendo roubada e chamou seus adversários de corruptos. Voltou a pedir à justiça que interrompa a apuração dos votos. Patético.

A América admira vencedores. Quem perde merece desprezo. Candidato derrotado vira um pato manco até transferir o cargo ao seu sucessor. Depois sequer pato ele é. Os principais líderes republicanos evitaram comentar o discurso de Trump. Nenhum até esta manhã o havia endossado.

Trump estava visivelmente abatido. Limitou-se a ler durante mais de 20 minutos as folhas de papel que seus assessores lhe entregaram na última hora. Sua célebre arrogância ficou para trás. O gestual, pobre. Não foi um discurso golpista porque lhe faltou vontade ou coragem para incitar seus seguidores a se rebelarem.

Não desafiou ninguém. Apenas marcou posição. Melhor: renovou a posição que adotou desde sempre de desqualificar por antecipação os votos que lhe fossem contrários. Sua mensagem foi direta e simples: se eu ganhar, tudo ok, o sistema eleitoral funcionou. Se perder, fui roubado. Será o triunfo de um sistema podre.

Os americanos não ouviram tudo o que ele disse. Ao se darem conta do festival de mentiras ditas por Trump e de denúncias vazias, sem provas, as três maiores redes de televisão dos Estados Unidos encerraram as transmissões. Trump ficou falando sozinho para um grupo de jornalistas convocados para assisti-lo.

Ele jamais telefonará para Biden parabenizando-o pela vitória quando ela se consumar. Seu propósito é impedir que se consuma mediante recurso à Suprema Corte. Para ser coerente com seu comportamento até aqui, é provável que desrespeite outros costumes, como o de comparecer à posse do seu sucessor.

O trumpismo não morrerá com o fracasso do seu fundador. Mas Trump, em breve, será uma triste página virada na história dos Estados Unidos.

 Quem errou? Bolsonaro ou seus candidatos a prefeito?

Falta de sorte ou de discernimento

De quem foi a falta de sorte ou de discernimento? Bolsonaro gravou um vídeo de apoio a Celso Russomanno (Republicanos), candidato a prefeito de São Paulo. Desde então Russomanno só faz cair nas pesquisas de intenção de voto. Sua rejeição só cresce.

Bolsonaro gravou um vídeo de apoio a Marcelo Crivella (Republicanos), prefeito do Rio e candidato à reeleição. Se antes já não ia bem, Crivella só fez piorar. Cai nas pesquisas como uma pipa desgovernada. É o campeão de rejeição.

O Rio é reduto eleitoral da família Bolsonaro. Carlos, o vereador, e sua mãe, ex-vereadora, são candidatos a uma vaga na Câmara Municipal. Outro dia, Carlos sugeriu que sua reeleição estava a perigo. Os dois deverão se eleger com o apoio das milícias.

O candidato de Bolsonaro a prefeito de Belo Horizonte ainda não conseguiu passar da casa dos 4% nas intenções de voto. O candidato dele a prefeito de Manaus também não. No Recife, o que mais se identificou com Bolsonaro ficou para trás.

Em Fortaleza, todo mundo sabe que o Capitão Wagner (Pros) é o candidato de Bolsonaro. Mas o capitão evita falar disso e não fala de Bolsonaro. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, caiu de 31% para 29%, em empate técnico com Sarto, candidato do PDT.

Ou Bolsonaro não soube escolher seus candidatos ou os candidatos não souberam escolher o seu padrinho. Vamos que vamos.

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