domingo, 13 de dezembro de 2020

Cristovam Buarque* - Letras e Cores

- Blog do Noblat/Veja, 13/12/2020)

Passadas as eleições municipais, as lideranças nacionais se dedicam a imaginar alianças para 2022. Tentam composições com base em nomes de candidatos e siglas. Não se fala qual o propósito de cada aliança, salvo vencer o nome e a sigla do adversário. Uma disputa por letras, não por cores.

Deve ser assim nos países onde tudo funciona bem e o presidente deve apenas gerenciar o governo. Mas diante da crise que o Brasil atravessa, as siglas deveriam ser menos importantes do que as cores das propostas para o futuro.

As alianças deveriam construir as bases políticas para enfrentar:

- a violência generalizada que domina nossas cidades;

- quais os instrumentos para manter a estabilidade monetária;

- qual estratégia para retomar o crescimento econômico com sustentabilidade; para eliminar a tragédia da pobreza, e desfazer a brutal desigualdade de renda entre pessoas e regiões;

- como dar eficiência na gestão, eliminar corrupção e garantir ética na definição das prioridades do Estado;

- como elevar a qualidade e garantir equidade na educação de base, independente da renda e do endereço do aluno e como erradicar o analfabetismo de adultos;

- o que fazer para transformar nossas “monstrópoles” em centros urbanos eficientes e conviviais;

- o que fazer para assegurar acesso de milhões de brasileiros a um endereço limpo, com água potável, coleta de lixo e esgoto;

- quais medidas poderão dar futuro à juventude;

- como recuperar o prestígio perdido pelo Brasil no cenário internacional, por causa das decisões do governo, nos últimos dois anos;

- que ações para assegurar emprego, sem perder eficiência, nem competitividade, neste tempo de modernização;

- quais e como fazer as reformas do Estado: fiscal, trabalhista e política, para sintonizar o Brasil com os rumos do progresso mundial;

- como eliminar os privilégios que caracterizam a sociedade brasileira e tiram legitimidade do poder público.

As letras de nomes e de siglas ficam sem sentido se não tiverem cores definidas pelos propósitos das propostas de cada candidatura para o futuro. Mas não se vê debate sobre cores, apenas letras que amarrarão o Brasil no seu passado, qualquer que seja a sigla e o nome vitorioso.

 *Cristovam Buarque, Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB

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