quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Luiz Carlos Azedo - MDB quer dar as cartas

- Correio Braziliense

A linha divisória entre governo e oposição no Senado é sinuosa, por causa da relação dos governadores com o governo federal, que funciona na base da velha política de conciliação

O velho MDB quer o comando do Congresso. Em decisão salomônica, seus senadores decidiram lançar candidato próprio à sucessão de Davi Alcolumbre na Presidência do Senado e definiram o critério para escolha do nome que unificará o partido, que tem quatro pré-candidatos: o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PE); o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (TO); o líder da bancada, Eduardo Braga (AM); e a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MS). Será aquele que trouxer mais votos. Velhos caciques, Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA) atuam nos bastidores para que o nome seja Bezerra. A maioria dos senadores do MDB é governista de primeira hora.

O protagonismo de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na Presidência da Casa está em ocaso, que pode ser maior do que se imagina, caso o irmão dele seja derrotado, neste fim de semana, na disputa pela Prefeitura de Macapá. Josiel Alcolumbre é candidato à reeleição, mas sua estrela foi eclipsada pelo apagão no Amapá, que durou três semanas. A oposição se unificou em torno da candidatura de Dr. Furlan (Cidadania), que chegou ao segundo turno. O prestígio de Alcolumbre no comando do Senado era resultado de um movimento pendular: o primeiro, à esquerda, garantiu a sua própria eleição, contra Renan Calheiros, com apoio do grupo Muda Senado, na onda do tsunami eleitoral de 2018; o segundo, à direita, possibilitou a aproximação com a ala da bancada do MDB que queria apoiar o governo.

Dono das pautas do Senado e do Congresso, hábil nas negociações de cargos e avesso às grandes polêmicas, Alcolumbre foi um boa-praça no comando da Casa, a ponto de sua reeleição ter sido desejada pela maioria dos senadores. O problema é que faltou combinar a recondução com o Supremo Tribunal Federal (STF), que a vetou, na mesma legislatura, como determina a Constituição de 1988. Aliado do governo, não deixa de ser um interlocutor importante na própria sucessão, mas não recebeu o apoio que esperava do presidente Jair Bolsonaro para indicar o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como seu sucessor, num “dedazo”. Dificilmente, portanto, o DEM terá condições de manter o comando do Senado.

Unido ao PL, o DEM forma um bloco com oito senadores, muito pouco para enfrentar as velhas raposas do MDB, cuja bancada tem 13 senadores. Unidos ao PP do se Ciro Nogueira (PI), somam 23 senadores num só bloco parlamentar. O PSDB forma um bloco de 10 senadores com o PSL, porém, com a desistência do senador Tasso Jereissati (CE), anunciada ontem, também não terá candidato. Outro possível candidato, o senador Antônio Anastasia (PSD-MG) desistiu da candidatura; pleiteia o comando da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Pode ser que Nelsinho Trad (MS) mantenha a candidatura pelo PSD, mas a tendência da legenda é buscar um bom acordo com o MDB.

É muito provável que surja um candidato da oposição à Presidência do Senado, mas essa articulação passa pelo PT, que forma um bloco com o PROS, de nove senadores, e o Podemos, com 10. O bloco independente, integrado por Cidadania, Rede, PSB e um dissidente do PDT, com nove deputados, defende uma candidatura de renovação, na linha do movimento Muda Senado, mesmo que apenas para marcar posição. A linha divisória entre governo e oposição no Senado é sinuosa, por causa da relação dos governadores com o governo federal, que funciona na base da velha política de conciliação. Por isso, um governista que dialogue bem com a esquerda e seja bom negociador tem mais chances de ser eleito.

Câmara
A vida não está fácil para ninguém na Câmara, nem para Arthur Lira (AL), candidato do Centrão, que se apresenta como favorito na disputa pelo comando da Casa, em razão de contar com o apoio de um bloco de, aproximadamente, 170 deputados. Ontem, ganharam força as articulações para que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), se lance candidata, com forte apoio da bancada do agronegócio. Seu nome unificaria a bancada do DEM, tem trânsito na oposição e agrada aos setores governistas que não gostam do estilo de negociação de Lira, que é comparado ao do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ).

O atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vem subindo o tom contra o presidente Jair Bolsonaro por causa da interferência do Palácio do Planalto na disputa pelo comando da Casa. Entretanto, enfrenta dificuldades para unificar seu grupo e costurar uma aliança com a esquerda. O nome mais forte do grupo ainda é o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), que sofre muitas restrições do PT. Outro problema de Maia é a cobrança que sofre dos correligionários, inclusive do presidente da legenda, o prefeito de Salvador, ACM Neto, por não ter articulado uma candidatura de seu próprio partido, que agora se mobiliza para viabilizar a candidatura de Tereza Cristina.

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