quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Miguel de Almeida* - Bozonarista,#DoeSuaDoseDeVacina

- O Globo

Assim como Lula tem uma inveja quase sexual de FHC, Bozo explicita o seu pérfido ‘amor hétero’ contra Doria. A insistência de Bozo sobre Doria, acredito, já configura assédio

Em 1933, assim que Hitler assumiu o poder na Alemanha, os diretores de museus franceses se reuniram para listar as principais obras de arte do país a serem escondidas caso houvesse uma guerra.

Queriam preservar os acervos públicos e privados.

Quando Hitler invadiu a Áustria, o heroico diretor do Louvre, Jacques Jaujard, tratou de tirar a Mona Lisa das paredes e enviá-la para o Castelo de Chambord.

Data da retirada: junho de 1938. Quase um ano antes do início da guerra, portanto.

Com a Mona Lisa escondida, outras centenas de obras, como a Vênus de Milo e a Vitória de Samotrácia, e cerca de 150 metros de pinturas (Tiziano, El Greco…) logo tomaram a direção de outros castelos no sul da França.

Pelo que se conta, a operação envolveu cerca de trezentos caminhões com uma carga distribuída em quase seis mil caixas.

Ao entrar em Paris, em 14 de junho de 1940, Hitler deparou-se com um Louvre praticamente vazio (ao menos sem nada de muito valor).

A precaução dos diretores das instituições, junto com a ação dos curadores, evitou a desgraça de se perder fenomenal acervo, apesar de os militares franceses gargantearem que Hitler jamais chegaria a Paris.

Não só chegou em poucos dias como ali ficou por anos. O historiador Marc Bloch escreveria páginas contundentes contra os míopes militares franceses — uma inépcia que custou milhares de mortos, além da vergonha.

Desde janeiro passado se tem notícias da Covid-19, e de sua letalidade. Os militares ora no poder em Brasília negaram a contundência do vírus e preferiram o apego ao pensamento mágico. Quase 190 mil mortes depois, o ministro da Saúde, general Pazuello, se mostra mais perdido do que cachorro em dia de mudança.

Não fosse o Doria, e o glorioso Instituto Butantan, continuaria o 7x1 da Covid sobre a população brasileira. Porque os militares de Brasília, comandados por um capitão reformado, não se alistaram nas pesquisas das vacinas, como ainda deixaram de preparar a vacinação com a compra de seringas…

Pazuello e Bozo, na França de 1940, teriam perdido a Mona Lisa, a Vênus e os vitrais das catedrais de Chartres, Amiens e da belíssima Sainte-Chapelle de Paris.

Infelizmente nesta tragédia brasileira falta a figura destemida de um herói como Jacques Jaujard, diretor do Louvre que salvou o acervo do museu e, mesmo diante de ameaça de fuzilamento, não entregou as obras aos nazistas, em especial a Goering, o famoso ladrão do III Reich.

Acostumados a governar por fake news e memes desonestos, os bozos agora contaminam não apenas o presente como comprometem o futuro. A tentativa de desacreditar a ciência leva a rede bozonarista a produzir e disseminar vídeos assustadores com improváveis efeitos colaterais da vacina.

Surgem pessoas babando, com o corpo contorcido, pescoço virado, caindo ao chão feito moscas. Pelas cidades, pequenos grupos de bozos, vestidos de verde e amarelo, com a bandeira às costas, gritam que não são cobaias para tomar a vacina. No caso, o alvo é o governador de São Paulo, João Doria.

Assim como Lula tem uma inveja quase sexual de FHC, Bozo explicita o seu pérfido “amor hétero” contra Doria. A insistência de Bozo sobre Doria, acredito, já configura assédio.

É uma discórdia também medida no braço. Ano passado, chegaram a vivenciar olho no olho um desafio nas flexões de solo, numa cena capaz de integrar a comédia gay “Gaiola das Loucas”.

Doria levou a melhor: fez 15 flexões perfeitas; Bozo, o ídolo de Crivella e Malafaia, foi um arremedo de Oscarito em “O homem do sputinik”: só mexeu o pescoço.

Invadida, parte da população francesa se afeiçoou aos nazistas, tolerando os assassinatos dos judeus, dos comunistas e dos resistentes. Também a gloriosa Alemanha negaceou as perseguições e crimes de Hitler, por julgar que era necessário um expurgo na sociedade alemã.

No Brasil não é diferente. Foi assim em 1964 quando acreditaram que João Goulart fosse comunista e pediram a chegada dos militares. E é agora, quando cerca de 30% não se importam com a insanidade bozonarista. Chegou a hora de pedir, então, que sejam patriotas: doe a sua dose de vacina. Pelo bem da pátria, da família e da higiene.

*Miguel De Almeida é editor e diretor

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