A
Nova Política a pleno vapor
Quem diria que no governo do ex-capitão Jair Bolsonaro a Operação Lava Jato seria largada ao Deus dará, ao sol e à chuva para se desidratar. Largada, não: a palavra certa é esvaziada, nos seus estertores, a um passo de sucumbir.
Afinal,
Bolsonaro pegou carona nos feitos da Lava Jato para se eleger presidente da
República. Prometeu mundos e fundos para atrair a companhia do ex-juiz Sérgio
Moro. E bradou que com ele no poder, o combate à corrupção jamais teria fim.
Há
muitas formas de corromper, e nem todas tipificam crimes previstos no Código
Penal Brasileiro. Exemplo? O loteamento de cargos no governo em troca de
aprovação de matérias do seu interesse no Congresso. O é dando que se recebe.
É
natural que partidos identificados com as ideias do governo dele possam
participar. Presidente algum governa sozinho. Até ditadores precisam de ajuda
para governar. Outra coisa é distribuir cargos no varejo para alcançar
determinados fins.
No
momento, é o que ocorre com a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados.
Bolsonaro carece ali de votos para eleger Arthur Lyra (PP-AL), seu candidato à
sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Fazer então o quê? Acenar com cargos.
Não está em discussão à vista de todos medidas para atenuar os mais graves problemas do país. Esperar que se discutisse algo ambicioso, um projeto de país pós-pandemia – por que não? -, seria exigir demais dos medíocres personagens em cena.
Tudo se resume a: o presidente da Câmara é quem manda na pauta. É ele quem define o que será votado, como e quando. Pode ser pressionado a pôr em votação o que não quer, mas tem meios e modos para tentar impor sua vontade.
É
um cargo-chave para quem governa. Daí porque os presidentes da República
procuram manter uma relação amistosa com quem preside a Câmara. Se for um
aliado, tanto melhor. Bolsonaro quer um presidente da Câmara servil.
E
para isso está disposto a pagar qualquer preço. Liberar o pagamento de emendas
parlamentares ao Orçamento da União? Moleza. De resto, é obrigatório. Só que a
liberação sairá mais rápida se o autor ou autores da emenda votarem em Lira.
Dir-se-á
que os presidentes que antecederam Bolsonaro agiram assim. Mas nenhum deles
submeteu-se ao voto popular garantindo que faria o contrário – Bolsonaro
submeteu-se. A Velha Política daria vez à Nova, não lembra? Já esqueceu?
É
conveniente esquecer como Bolsonaro o fez, como fizeram os generais que o
cercam e que sempre mantiveram distância das figurinhas do Congresso
encrencadas com a Justiça, mas dispostas a se encrencarem mais se o prêmio
compensar.
Há
um lote de centenas de cargos a serem repartidos com quem se disponha a apoiar
Lira, por sinal um político que responde a processos, assim como boa parte dos
seus pares. Cargos para chamar de seus e para facilitar futuras negociatas.
Outra vez, ao povo cabe assistir, bestificado, tenebrosas transações.
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